Lisbon Mobi Summit: Mobilidade partilhada e integrada é chave para repensar carro próprio

14/09/2018

A mobilidade pensada para o século XXI terá a partilha como grande foco, desafiando o conceito de propriedade tradicional do automóvel. Esta é a visão dos responsáveis de quatro das principais empresas de partilha e aluguer de veículo a nível nacional, com Uber, DriveNow, Europcar e Emov a coincidirem numa opinião: a base de clientes deve crescer para tornar o modelo de negócio ainda mais rentável. Considerando isso mesmo, prepara-se para chegar a Portugal uma nova operação de mobilidade partilhada por parte da Europcar.

No centro de uma transformação global de mobilidade, as companhias de carsharing poderão representar um papel importante, observado que é necessária a integração dos diferentes modos de transporte para que a mobilidade seja um sucesso, referiram os membros do painel sobre Mobilidade Partilhada no Lisbon Mobi Summit, que decorre este fim de semana em Belém.

Da parte da Uber, Tomás Belchior, diretor de políticas da Uber em Portugal, destaca o crescimento forte que a empresa tem representado a nível global, vista como um “elemento disruptivo e inovador, ainda hoje”, mas indicando que a solução que é oferecida pelas empresas de mobilidade tem de “ser tão boa quanto um carro particular”.

“Uma plataforma com diversos serviços de mobilidade integrados pode ser tão boa quanto um carro privado”, exemplifica o responsável da Uber, que lembra ainda a diversificação dos serviços e o forte investimento que tem sido levado a cabo a nível global: “já temos os carros e a plataforma, comprámos uma empresa que já está integrada na plataforma – a Jump –, estamos a fazer carsharing nos EUA, temos scooters e eventualmente até teremos carros voadores, que prevemos para 2021”. Ainda assim, interrogado de a Uber era uma companhia lucrativa, Tomás Belchior revela que ainda “estamos a perder dinheiro, mas porque estamos a investir de forma muito forte”.

Novo player no carsharing: entra a Europcar

Uma das notícias de ponta da conferência sobre mobilidade partilhada foi a de que haverá um novo integrante nesse mercado já a partir de 2019, com a Europcar a trazer para Portugal novos serviços nesse âmbito.

Paulo Moura, diretor geral da companhia em Portugal, revelou que a entrada da Europcar nesse segmento em Portugal será feita com duas facetas: com a Ubeeqo para a área do carsharing e a Scooty para a das scooters partilhadas. Estas duas marcas são resultado de uma política de expansão e de aquisições que foi estabelecida há cerca de quatro anos.

“Em 2014, criámos um centro de R&D [Pesquisa e Desenvolvimento] para investigar a mobilidade e analisar start-ups onde o grupo deveria investir. Em 2015, adquirimos muitas start-ups no carsharing, havendo duas que importa salientar: a Ubeeqo e a Scooty. Queremos expandir este negócio para outras cidades, sobretudo na Europa do Sul. No início de 2019 chegará a Scooty.

A Ubeeqo, inicialmente pensada para o desenvolvimento de produtos de carsharing e B2C, vai chegar a Lisboa em janeiro de 2019, com o carsharing. as também desenvolveu uma plataforma que na nossa perspetiva é o futuro da mobilidade e aquilo que possibilitará às pessoas que percam a ideia de carro próprio”, explicou.

Destaca, ainda, a importância da tecnologia, que “nos dá imensa margem para avançar”, sobretudo através de uma aplicação que reúne todos os meios de transporte e que pode ser fundamental. Nota, contudo, que o sucesso da operação de carsharing depende muito da situação geográfica, dando um exemplo de Dublin como uma cidade onde é mais vantajosa em termos de rentabilidade para a companhia, algo em oposição com a operação de Madrid, onde a presença de muitos players obriga a uma maior partilha de uma base de clientes.

Da DriveNow, João Oliveira, diretor de operações, aponta que a aposta da Brisa na parceria com a BMW foi muito bem-sucedida, numa era em que “dizemos que a Brisa passou dos carros e dos identificadores para as aplicações e para as pessoas. Primeiro oferecemos o serviço e depois vem o hábito”. Referindo que a operação tem “corrido melhor do que o esperado inicialmente”, tem a opinião, tal como os restantes membros do painel, de que “o facto de aparecerem novos operadores acelera o núcleo de utilizadores e quantos mais operadores, mais evolui o setor”.

Ideia que é partilhada, de forma central, por Fernando Izquierdo, Diretor geral da Emov Espanha e Portugal, anunciando que a companhia de mobilidade do Grupo PSA “não é a solução, mas sim uma parte da solução”.

Depois do sucesso em Madrid, a Emov tem vindo a expandir-se para outros mercados, mas Izquierdo recorda que o que “aconteceu em Madrid foi incrível. Estávamos praticamente sozinhos e hoje temos diversas empresas a operarem, quatro em ‘free floating, duas de carsharing com base. Penso que as pessoas estão a adaptar-se muito rapidamente. Em Lisboa pensamos que vai acontecer algo parecido”.

Quanto à rentabilidade da operação, recorda que é importante a chegada de mais operadores, mesmo que à partida seja uma situação que represente alguma perda de clientes. Contudo, como meta final, alarga-se a base de utilizadores. Não esconde, no entanto, que o mercado é muito concorrencial: “Como a base de clientes é baixa, a chegada de novos operadores impacta de forma muito grande na nossa rentabilidade. No início, em 2014, estávamos só com a Car2Go, agora temos uma oferta muito grande e a procura aumenta devagar. Mas acreditamos que é importante para se ser mais rentável”.