Nissan apresenta ao mundo, no Algarve, Qashqai renovado

18/06/2024

Alvo de atualizações mais ou menos profundas, o Qashqai mantém toda a identidade e qualidades que o tornaram num modelo absolutamente decisivo para a marca japonesa.

Há aquela máxima do desporto, que manda não mexer em equipa que ganha. Pois, mantendo as metáforas futebolísticas, até porque estamos em pleno Euro 2024, pode dizer-se que a cada alteração no Qashqai a Nissan sente a angústia do guarda-redes antes do penálti ou “no momento do penálti”, como preferiu Wim Wenders quando passou a filme o livro de Peter Handke.

Não é para menos. Há quase 18 anos, o Qashqai inaugurou o segmento dos crossover – carros que ficam ali a meio caminho entre diferentes géneros, que não são carne, nem peixe, mas que acabam por resolver diferentes problemas num formato inexistente até então. Ora, em 2007 o Qashqai original foi recebido com algumas reticências pela imprensa especializada, mas o mercado tinha outra opinião.

O sucesso foi enorme e a Nissan acabou por criar uma tendência que veio para ficar – é hoje muito difícil encontrar uma marca sem oferta neste segmento. 18 anos depois, com mais de 4 milhões de clientes em mais de uma centena de países, este é, de longe, o modelo mais importante para a Nissan. Logo, qualquer alteração deve ser feita com pinças e seguindo o princípio da evolução na continuidade.

E foi o que a Nissan na mais recente iteração do Qashqai. Por fora, há uma frente completamente redesenhada, com uma grelha que dizem ser inspirada pelas armaduras dos samurais. Ainda na dianteira, há novos elementos nos faróis diurnos e novos faróis principais. A traseira muda menos em relação à anterior geração, mantendo-se a forma dos farolins, que contam ainda assim com um novo sistema LED.

Ao vivo, o novo Qashqai surge mais desportivo e mais agradável, com um design a acompanhar tendências que têm marcado as formas de alguns concorrentes. Dito isto, o mais importante é que seja qual for o ângulo, não temos qualquer dúvida de estar a olhar para um Qashqai. A identidade mantém-se.

No interior, mudaram alguns materiais, com as versões de topo a receberem revestimentos em Alcântara, e a qualidade de montagem parece francamente boa. A principal novidade está escondida, mas promete resolver inúmeros problemas na relação entre condutor e veículo. O Qashqai aposta na conectividade e vem de série com o sistema Google built-in. O que quer dizer que basta fazer log-in com uma conta Google e passamos a ter os “nossos “locais e pontos de interesse, tal como no telemóvel ou no computador lá de casa.

O objetivo, afirma a Nissan, é reduzir a dependência do telemóvel. Passam a ser possíveis atualizações de mapas e de outras aplicações over-the-air, e temos ainda acesso ao assistente Google, que permite comandar uma série de sistemas do veículo com comandos de voz – climatização, aquecimento de bancos e do pára-brisas ou, claro, a navegação.

O sistema é aberto, o que significa que permite descarregar aplicações da loja Google Play, incluíndo, por exemplo, a app Waze. Quem tiver optado pelo ecossistema dos iPhones pode sempre conectar-se através do Apple Car Play, também disponível de série.

Outro gadget muito útil assume a forma de um botão no volante. É dedicado a quem não é propriamente grande adepto dos diferentes sistemas de assistência ao condutor (ADAS – Advanced Driver Assistance Systems) e da forma como interferem na condução.

A legislação europeia obriga a que esses sistemas estejam todos ativos sempre que ligamos o automóvel. Ora, este botão acede a um menu próprio, que pergunta se queremos ativar as nossas preferências. Basta confirmar e temos o carro configurado ao nosso gosto.

Nas motorizações, nada de novo. A Nissan mantém as opções mild-hybrid, baseadas no 1.3 DIG-T, com dois níveis de potência, 140 ou 158 cv, e consumos de 6.2 ou 7.1 l/100km em ciclo combinado WLTP. Depois, há a versão e-Power, com motor elétrico de 140 kW (190cv) e um 1.5l turbo, que serve apenas como gerador para alimentar bateria e motor, conforme o ritmo. A marca anuncia consumos médios entre os 5.1 e os 5.3 l/100km.

No Algarve, num misto de serra e autoestrada, andámos com o 1.3 DIG-T de 140cv e caixa manual e com o e-Power. As notas desses quilómetros confirmam o que já conhecíamos. O 1.3 não é propriamente um poço de binário, o que obriga a levar o motor para rotações mais elevadas sempre que pretendemos um ritmo mais animado, com consequências diretas nos consumos, que se afastam e muito dos anunciados.

Quanto à versão e-Power, o som do 1.5 continua pouco presente no interior do habitáculo, o que é positivo, e o motor elétrico cumpre a função de simular que estamos a bordo de um 100% elétrico. A entrega de binário e potência são imediatas, o que é um trunfo em estradas mais sinuosas ou no momento de ultrapassar. Depois, o suave ronronar do 1.5l a gasolina desmonta essa simulação e lembra-nos que, no final do dia, estamos a viajar com um gerador a bordo, que queima combustível e produz emissões. A Nissan argumenta que o sistema e-Power conquista clientes para a mobilidade elétrica, ajudando na transição. E é bem capaz de ter razão, já que o Qashqai e-Power é um sucesso em muitos mercados.

O “novo” Qashqai chega ao mercado nacional no próximo mês e ainda não há preços para Portugal. A Nissan promete essa novidade para o final de junho.

Por: Paulo Tavares