Gianni Agnelli, o antigo presidente da Fiat era, indiscutivelmente, um ícone de estilo, com o relógio apertado sobre a manga da camisa, a gravata curta e os melhores fatos italianos feitos, claro está, por medida. A sua forte personalidade e o apurado sentido estético não “permitiam” a Agnelli conduzir meros automóveis de produção, fossem eles Fiat ou Ferrari – teriam de ser únicos.
Sendo algumas das mais conhecidas peças da sua garagem o Lancia Delta Integrale Spider, o belo Ferrari Testarossa Spider e o Ferrari 375 America, não se poderia afirmar que algum deles encarnasse fielmente um dos lados que melhor caracterizavam o estilo de vida do industrial italiano: lazer e diversão.
Para servir de base a um modelo que correspondesse a tal modo de vida, o elegido por Agnelli foi o maior sucesso e orgulho da marca: o Fiat 500, mais precisamente o Fiat 500 Jolly. Com o seu charme italiano, era o modelo perfeito para o designer Mario Boano, do estúdio Carrozzeria Ghia, se basear e criar dois exclusivos “Spiaggina”, tendo sido o segundo um presente de Agnelli para o seu amigo e magnata grego Aristóteles Onassis, e que permanecia desaparecido há anos. Contudo, para gáudio dos entusiastas, o Spiaggina de matrícula TO259879 reapareceu, décadas após ser visto pela última vez, numa garagem no norte de Itália.
Uma vez visto com atenção, são evidentes os apontamentos que expressam os gostos de Agnelli. O chassis alongado e o acabamento em madeira a toda a volta dão-lhe um ar quase de anfíbio, sendo possível até invocar uma inspiração nas famosas embarcações de recreio Riva.
O Spiaggina de Agnelli teve uma vida repleta de ocasiões memoráveis e, certamente, terá presenciado conversas imperdíveis, emoções, olhares de quem teve o privilégio de acompanhar o seu proprietário nos vários passeios pela Riviera Francesa, onde o seu dono o guardou, na famosa Villa Leopolda.
Ainda que indubitavelmente exclusivo, e espelho do estilo de vida para o qual foi concebido, este Spiaggina possui uma simplicidade que contrasta com a grandeza e importância daqueles que nele se sentaram, como Winston Churchill ou Aristóteles Onassis. É essa a atitude do Fiat 500, seja ele saído da linha de produção ou (quase) único como o automóvel pessoal de Agnelli: não lhe interessa o nome de quem transporta. O seu único propósito é proporcionar alegria e divertimento medidos, provavelmente, em sorrisos por quilómetro.