O que nos atrai nos “veteran cars”?

31/10/2022

Por que os automóveis clássicos nos atraem? Pela engenhosidade mecânica? Pelo ronco dos seus motores? Pelas recordações que nos trazem? Sem dúvida, por um pouco de tudo isso. Mas, principalmente pelo design.

O design é a característica mais marcante de um clássico. O que primeiro chama nossa atenção. É, também, seu grande diferencial em relação aos automóveis contemporâneos. O senso comum pontifica – não sem alguma razão – que os automóveis atuais se parecem demais uns com os outros (em comparação à enorme diversidade de estilos dos veículos antigos). Como se tivessem sido extraídos todos da mesma “fôrma”.

Em parte, isso é verdade, pois os automóveis de hoje são “esculpidos” em túneis de vento. O fluxo de ar é o verdadeiro designer. Ele determina a melhor solução aerodinâmica, a qual, por sua vez, condiciona o design. Os impessoais “departamentos de estilo” das montadoras refinam uma linha aqui ou um detalhe ali para fixar ao veículo alguma personalidade. Mas são os departamentos de engenharia e marketing que impõem o layout básico. A forma está subordinada à função.

Quem são os grandes designers da atualidade? Quantos são reconhecidos por suas “obras”? O mais comum é que as formas anódinas da maioria dos automóveis contemporâneos resultem da soma de palpites computadorizados de uma enorme equipe de trabalho. São produtos anônimos, sem a impressão digital de seus criadores.

Não era assim no passado. Grandes estilistas, como Nuccio Bertone, Battista Pinifarina, Ugo Zagato, Raymond Loewy, Harley Earl (alguns com formação em artes plásticas) desenhavam em papel e moldavam em argila as formas das carrocerias. Depois, os engenheiros quebravam a cabeça para acondicionar motores, transmissões e suspensões naquelas elegantes “esculturas”. A função estava subordinada à forma.

Não admira que os automóveis fossem tão belos. Ou mesmo extravagantes. Como os “rabos-de-peixe”, da escola norte-americana de design Rocket (inspirada em aviões e foguetes). Não faltavam cromados e adereços aos automóveis dos anos 40, 50 ou 60. Alguns inúteis, é verdade, mas todos influentes na “personalidade” do automóvel. Os modelos de cada marca eram facilmente reconhecíveis. Odiava-se ou amava-se o design de um auto. Não havia espaço para a mesmice. Talvez por isso o estilo Retrô, adotado por modelos mais recentes, como o New Bettle, o PT Cruiser e o Mini, tenha feito tanto sucesso recentemente.

O certo é que todos esses geniais artistas sobrevivem em suas mais belas criações. Porque, como diz Paolo Tuminelli, no livro Car Design, “O desenho de um automóvel tem menos a ver com a modelagem industrial que com a realização de sonhos”.

Fotografias: Eduardo Scaravaglione


Irineu Guarnier Filho é brasileiro, jornalista especializado em agronegócios e vinhos, e um entusiasta do mundo automóvel. Trabalhou 16 anos num canal de televisão filiado à Rede Globo. Actualmente colabora com algumas publicações brasileiras, como a Plant Project e a Vinho Magazine. Como antigomobilista já escreveu sobre automóveis clássicos para blogues e revistas brasileiras, restaurou e coleccionou automóveis antigos.