Anunciada pelo presidente brasileiro no início do mês, a fábrica da BYD no Brasil será a maior e mais avançada instalação fora da China.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) do estado da Bahia decidiu parar os trabalhos de construção da fábrica, resgatando 163 operários chineses que estavam a trabalhar em condições análogas às da escravatura.
O MPT afirma que as condições dos trabalhadores, tanto no alojamento como no canteiro de obras, eram precárias e degradantes, com 60% dos salários a serem retidos pela empresa, assim como os passaportes.
As autoridades brasileiras explicitam que os trabalhadores que estavam a construir a fábrica da BYD eram obrigados a dormir em camas sem colchões e não tinham onde guardar os seus pertences.“A situação sanitária era particularmente crítica, com apenas uma casa de banho para cada 31 trabalhadores”, detalharam as autoridades. Também as cozinhas funcionavam em “condições alarmantes”, sem armários para o armazenamento adequado dos alimentos, alguns dos quais se encontravam perto das casas de banho e em condições insalubres.
No estaleiro, havia apenas oito casas de banho químicas para cerca de 600 trabalhadores, que se encontravam em estado “deplorável”, sem papel higiénico, sem água e sem manutenção adequada, relata o Ministério Público do Trabalho.
Os operários trabalham para o Grupo Jinjiang, uma das empresas contratadas pela companhia chinesa para construir a fábrica em Camaçari, município da região metropolitana de Salvador, no estado da Bahia.
As autoridades constataram ainda que os trabalhadores estavam expostos a “radiações solares intensas”, com “sinais visíveis de lesões na pele”, e que se registaram vários acidentes de trabalho.
Os trabalhadores poderiam perder 40% do salário retido e teriam de pagar do próprio bolso a passagem de volta para a China, além do custo da passagem que utilizaram para chegar ao Brasil.
Os alojamentos e as obras permanecerão sob embargo, não podendo ser exercidas quaisquer atividades até que os órgãos de fiscalização comprovem que a situação esteja totalmente regularizada.
Uma audiência virtual conjunta do MPT e do Ministério do Trabalho está marcada para quinta-feira, 26 de dezembro, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as medidas necessárias para garantir condições mínimas aos trabalhadores.
Anunciada no início do mês pelo presidente brasileiro Lula da Silva e por Stella Li, vice-presidente executiva da BYD, a fábrica deveria começar a laborar já em março de 2025.
Os planos iniciais apontavam para que saíssem 150 mil veículos das suas linhas de montagem já em 2025, tendo capacidade para a produção de 300.000 veículos em velocidade de cruzeiro, o que aconteceria já em 2026.
Entretanto, a BYD pôs termo às relações com a empresa Jinjang, tendo o vice-presidente da BYD Brasil, Alexandre Balby, afirmado: “A BYD Auto Brasil reitera o seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que diz respeito à proteção dos direitos dos trabalhadores e da dignidade humana”.
