Contudo, os investigadores alertam que “Portugal não atingirá as metas de neutralidade carbónica até 2035 e 2050, mesmo que todos os novos veículos vendidos a partir de hoje sejam elétricos”.
O estudo “Mobilidade Elétrica em Portugal: Onde estamos e para onde vamos?”, realizado em outubro de 2024 pela Católica Lisbon School of Business & Economics, alerta para a falta no país de mais automóveis elétricos e de medidas de incentivo à instalação de pontos de carregamento.
Foi analisado o setor dos transportes, rodoviário, marítimo, aéreo e ferroviário, avaliando o peso de cada um destes segmentos em termos de consumo energético, poluição e adesão às formas de mobilidade elétrica.
Os investigadores concluíram que “Portugal tem já condições para responder a um aumento da procura de carregamento elétrico, num modelo mais aproximado à atual rede de combustíveis fosseis, adaptando a infraestrutura para esse efeito nomeadamente no que respeita aos postos de carregamento rápidos e ultrarrápidos”.Contudo, sublinham a necessidade de reforçar a transparência dos preços de carregamento e investir em novos modelos de concessão de autoestradas, que permitam ter portagens subsidiadas, sistemas de portagens que permitam reduzir o congestionamento em horas de ponta e o uso de vias prioritárias, como os corredores dedicados para transportes públicos.
Joana Silva, Professora da Católica-Lisbon, salienta que “o progresso de Portugal no setor dos veículos elétricos (EVs) é notável e já existem cerca de 130 mil veículos 100% elétricos. Mas Portugal não atingirá as metas de neutralidade carbónica até 2035 e 2050, mesmo que todos os novos veículos vendidos a partir de hoje sejam elétricos”.
O objetivo final do nosso país é que “em 2050, 100% do parque automóvel seja EV, com uma meta intermédia de 36% em 2035”, relembra a Católica Lisbon School of Business & Economics em nota de imprensa.
Os investigadores notam que em Portugal, o setor dos transportes rodoviários é responsável por 30% do total das emissões de gases, quase o dobro do que acontece a nível mundial, em que os transportes produzem 16%, das emissões.
Para incentivar os consumidores, o estudo afirma que faltam políticas que incentivem diretamente a substituição de carros poluentes. Os investigadores afirmam que devem ser dados também outros tipos de incentivos para além dos subsídios e créditos fiscais, como sejam a subsidiação de portagens e acesso a vias prioritárias.
Os investigadores falam de exemplos internacionais de políticas públicas de incentivo, dando o exemplo da Noruega (o país número 1 mundial de adoção de veículos elétricos), onde há financiamento público para ter pelo menos dois postos de carregamento rápido a cada 50 km em estradas.
Neste país nórdico foram criados acessos a vias de transportes públicos, portagens subsidiadas e estacionamento gratuitos.
Outro exemplo é a Alemanha, onde, com investimento público, foram instaladas nas autoestradas 9000 novas tomadas e 1000 postos rápidos e ultrarrápidos. Já nos Países Baixos foi dada prioridade aos táxis e camiões elétricos e reduzido o IVA para os carregadores públicos.
Paralelamente, são precisos incentivos à instalação de carregadores rápidos e ultrarrápidos para viagens de longa distância, um problema que se agrava porque metade dos carregadores do país estão nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e 101 municípios no país não têm qualquer instalação de carregamento rápido.
O estudo assinala ainda a importância de se tornar o preço de carregamento totalmente transparente e de se permitir o pagamento com cartão bancário em todos os postos, aproximando a experiência de carregamento dos veículos elétricos ao dos veículos com motor a combustão.
O estudo salienta que 43% das habitações não tem garagens nem condições para a instalação e carregadores e que o preço do carregamento rápido na via publica é tão caro como o abastecimento de gasóleo.
Joana Silva enfatiza ainda que é essencial “aumentar os apoios à compra de EVs para quem substitui veículos antigos e poluentes, facilitar o uso de EVs com acesso a vias prioritárias, subsidiação em portagens e estacionamento em todas as cidades”, será também importante “examinar o modelo organizativo do setor, identificando oportunidades para, através de maior concorrência, aumentar a oferta de postos de carregamento e reduzir os preços para os utilizadores, assegurar transparência nos preços de carregamento e permitir pagamento com cartão bancário em todos os postos, equiparando a experiência à dos veículos de combustão, priorizar a instalação de carregadores rápidos e ultrarrápidos para viagens de longa distância, e promover acesso a transportes públicos de qualidade como uma alternativa sustentável ao uso individual de veículos.”