Portugal tem condições para aumento de procura de automóveis elétricos

05/11/2024

Portugal já tem cerca de 130 mil automóveis elétricos e as infraestruturas já estão preparadas para um aumento da procura, afirma um estudo da Católica agora divulgado.

 

Contudo, os investigadores alertam que “Portugal não atingirá as metas de neutralidade carbónica até 2035 e 2050, mesmo que todos os novos veículos vendidos a partir de hoje sejam elétricos”.

O estudo “Mobilidade Elétrica em Portugal: Onde estamos e para onde vamos?”, realizado em outubro de 2024 pela Católica Lisbon School of Business & Economics, alerta para a falta no país de mais automóveis elétricos e de medidas de incentivo à instalação de pontos de carregamento.

Foi analisado o setor dos transportes, rodoviário, marítimo, aéreo e ferroviário, avaliando o peso de cada um destes segmentos em termos de consumo energético, poluição e adesão às formas de mobilidade elétrica.

Os investigadores concluíram que “Portugal tem já condições para responder a um aumento da procura de carregamento elétrico, num modelo mais aproximado à atual rede de combustíveis fosseis, adaptando a infraestrutura para esse efeito nomeadamente no que respeita aos postos de carregamento rápidos e ultrarrápidos”.

Contudo, sublinham a necessidade de reforçar a transparência dos preços de carregamento e investir em novos modelos de concessão de autoestradas, que permitam ter portagens subsidiadas, sistemas de portagens que permitam reduzir o congestionamento em horas de ponta e o uso de vias prioritárias, como os corredores dedicados para transportes públicos.

Joana Silva, Professora da Católica-Lisbon, salienta que “o progresso de Portugal no setor dos veículos elétricos (EVs) é notável e já existem cerca de 130 mil veículos 100% elétricos. Mas Portugal não atingirá as metas de neutralidade carbónica até 2035 e 2050, mesmo que todos os novos veículos vendidos a partir de hoje sejam elétricos”.

O objetivo final do nosso país é que “em 2050, 100% do parque automóvel seja EV, com uma meta intermédia de 36% em 2035”, relembra a Católica Lisbon School of Business & Economics em nota de imprensa.

Os investigadores notam que em Portugal, o setor dos transportes rodoviários é responsável por 30% do total das emissões de gases, quase o dobro do que acontece a nível mundial, em que os transportes produzem 16%, das emissões.

O estudo conclui que que faltam postos rápidos e ultrarrápidos adequados aos fluxos fora das grandes cidades e que apenas existem apoios públicos à infraestrutura em condomínios, sendo necessários grandes investimentos em carregadores na via pública rápidos e ultrarrápidos.

Para incentivar os consumidores, o estudo afirma que faltam políticas que incentivem diretamente a substituição de carros poluentes. Os investigadores afirmam que devem ser dados também outros tipos de incentivos para além dos subsídios e créditos fiscais, como sejam a subsidiação de portagens e acesso a vias prioritárias.

Os investigadores falam de exemplos internacionais de políticas públicas de incentivo, dando o exemplo da Noruega (o país número 1 mundial de adoção de veículos elétricos), onde há financiamento público para ter pelo menos dois postos de carregamento rápido a cada 50 km em estradas.

Neste país nórdico foram criados acessos a vias de transportes públicos, portagens subsidiadas e estacionamento gratuitos.

Outro exemplo é a Alemanha, onde, com investimento público, foram instaladas nas autoestradas 9000 novas tomadas e 1000 postos rápidos e ultrarrápidos. Já nos Países Baixos foi dada prioridade aos táxis e camiões elétricos e reduzido o IVA para os carregadores públicos.

Face a este cenário, o estudo indica duas prioridades: é necessário incentivar a renovação do parque automóvel baseado em motores de combustão interna para um parque elétrico – que neste momento representa 3% do parque automóvel nacional – e, também, procurar um melhor equilíbrio entre o transporte individual e o transporte coletivo.

Paralelamente, são precisos incentivos à instalação de carregadores rápidos e ultrarrápidos para viagens de longa distância, um problema que se agrava porque metade dos carregadores do país estão nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e 101 municípios no país não têm qualquer instalação de carregamento rápido.

O estudo assinala ainda a importância de se tornar o preço de carregamento totalmente transparente e de se permitir o pagamento com cartão bancário em todos os postos, aproximando a experiência de carregamento dos veículos elétricos ao dos veículos com motor a combustão.

O estudo salienta que 43% das habitações não tem garagens nem condições para a instalação e carregadores e que o preço do carregamento rápido na via publica é tão caro como o abastecimento de gasóleo.

Joana Silva enfatiza ainda que é essencial “aumentar os apoios à compra de EVs para quem substitui veículos antigos e poluentes, facilitar o uso de EVs com acesso a vias prioritárias, subsidiação em portagens e estacionamento em todas as cidades”, será também importante “examinar o modelo organizativo do setor, identificando oportunidades para, através de maior concorrência, aumentar a oferta de postos de carregamento e reduzir os preços para os utilizadores, assegurar transparência nos preços de carregamento e permitir pagamento com cartão bancário em todos os postos, equiparando a experiência à dos veículos de combustão, priorizar a instalação de carregadores rápidos e ultrarrápidos para viagens de longa distância, e promover acesso a transportes públicos de qualidade como uma alternativa sustentável ao uso individual de veículos.”