O projeto de condução autónoma da Uber pode estar em risco devido a uma questão judicial que envolve o engenheiro-chefe deste programa. Anthony Levandowski é acusado pela Alphabet Inc. (conglomerado que detém o ‘universo’ Google, incluindo a divisão dedicada à condução autónoma Waymo) de ter levado consigo segredos industriais quando trocou a companhia da Google para fundar a Otto, posteriormente adquirida pela Uber no ano passado.

Levandowski deixou a Google para fundar a Otot, acabando depois por ficar na supervisão do projeto de condução autónoma da Uber quando esta adquiriu a Otto, mas de acordo com a Waymo levou consigo diversos segredos e tecnologia que havia adquirido ao longo do seu trabalho anterior, sendo assim submetido a uma ação judicial. Contudo, o seu advogado, citado pelo site Autonews, explica que o engenheiro não irá prestar quaisquer declarações neste caso, invocando a Quinta Emenda, que prevê a recusa do acusado de prestar depoimentos que possam ser usadas contra si.

Em virtude dessa decisão, o juiz distrital Williams Alsup, encarregue do caso, estará inclinado a emitir uma ordem judicial de forma a travar os ensaios de veículos autónomos que a Uber tem vindo a levar a cabo se Levandowski não negar a hipótese de ter feito qualquer ilegalidade. Ainda de acordo com o Autonews, a Waymo terá apresentado provas de que o engenheiro levou mesmo informações secretas consigo quando deixou a empresa.

“Se pensam, por um segundo, que me vou conter porque o arguido está a invocar a Quinta Emenda e que não vou emitir uma ordem preliminar para parar parar aquilo que está a acontecer aqui [NDR: em São Francisco], estão enganados”, é citado Walsup, que agendou para o dia 3 de maio uma audição relativamente ao pedido da Waymo.

O juiz argumenta ter muito material de prova, chegando mesmo a dizer no dia 16 de março que “não existem muitos casos em que exista uma prova direta de que alguém fez o download de 14.000 documentos e saiu da empresa no dia a seguir”, esperando ser “convencido” pela Uber de que Levandowski não fez, de facto, nada de ilegal.

Uber confiante

A Uber e a sua divisão de veículos autónomos, a Otto, negam a existência de ilegalidades e de que a situação se resolverá a seu favor, mesmo sem a intervenção de Levandowski: Estamos bastante confiantes de que as acusações da Waymo contra a Uber não têm qualquer fundamento e que Anthony Levandowski não utilizou quaisquer dados da Google no seu trabalho com a Otto e com a Uber”, refere Angela Padilla, conselheira da Uber, em comunicado.

A mesma ideia é defendida, de resto, pela equipa de advogados, com Arturo Gonzalez, a referir na audição de quarta-feira que irá mostrar ao tribunal que nenhum dos dados atualmente em utilização pela Uber provém da Google.


O JUIZ QUE QUER SABER TUDO

William Alsup tem uma forma muito peculiar de lidar com os casos que julga. Isto porque, de forma a perceber melhor o que tem de analisar, procura saber e aprender a forma como algumas das questões abordadas em tribunal funcionam mais a fundo, não se ficando pelas alegações das duas partes.

Além do caso agora em análise e que opõe a Waymo à Uber, Alsup teve a seu cargo o litígio entre a Oracle e a Google sobre a programação de Java em termos de interface de programação de aplicações (API), com o qual se dedicou a aprender a programar em Java para melhor entender as partes em disputa no seu caso.

Assim, em relação ao caso Waymo Vs Uber, Alsup voltou a fazer um requerimento peculiar, ao pedir às duas partes que o informassem e ensinassem sobre a utilidade e programação dos sistemas LiDAR para saber igualmente aquilo que deve ter em atenção no julgamento deste caso.