Foto: André Luís Alves / Global Imagens
A rede pública de carregamento de veículos elétricos construída em Portugal pela Mobi.e até 2018 e, de lá para cá, acrescentada pelos operadores de mercado, tem condições superiores às que a União Europeia vai estabelecer como objetivos para 2023. Mas a rápida disseminação dos veículos elétricos e a aceleração da extinção dos veículos movidos a combustíveis fósseis obrigam a antecipar desde já a resolução de alguns obstáculos que persistem.

Possuir um carro elétrico ainda limitará as viagens, na incerteza de quando e onde será possível carregá-lo? E em Portugal, temos rede para servir os consumidores quando a transição acelerar e a quota de mercado daqueles veículos for superior aos atuais 17%? Para responder a estas questões, o Portugal Mobi Summit reuniu, no primeiro painel da tarde do primeiro dia, os responsáveis da Mobi.e, a primeira gestora de rede portuguesa, da Associação Portuguesa de Operadores e Comercializadores de Mobilidade Elétrica (APOCME), que reúne os negócios dos carregamentos, e da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE). As conclusões são tranquilizadoras.

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A evolução do mercado do veículo elétrico (VE) nos últimos três anos, em Portugal, era “inimaginável há pouco tempo” e a velocidade com que a rede de carregamentos teve de adaptar-se, mesmo em ano de pandemia, só foi possível porque a Mobi.e desenhou uma rede, em 2010, que já previa “muito daquilo que a União Europeia se prepara para exigir, um ano após a publicação do pacote europeu, que será lá para 2023”, explicou Luís Barroso, CEO da Mobi.e.

“Somos caso único na Europa, onde o que está agora a ser discutido, desde a universalidade de acesso e a possibilidade de pagamentos “ad hoc”, já temos. E temos batido recordes sucessivos de carregamentos e de consumos. A União Europeia prevê metas de potência de 62 megawatts, nós temos quase 93″, enumerou Luís Barroso.

Desafios acelerados

O início da rede portuguesa nasceu de um projeto-piloto, em 2010, que desenvolveu e instalou, até ao final de junho de 2020, mais de 660 postos de carregamento e cerca de 140 postos rápidos, que foram colocados então a concurso para que os operadores privados desenvolvessem o negócio. A Mobi.e foca-se agora nas condições do mercado, para garantir que haverá fornecimento quando a procura aumentar. “Preocupa-me onde vamos buscar potência quando 10% dos veículos a circular forem elétricos”, confessou Luís Barroso.

A UVE anseia por esse dia, como revelou Henrique Sanchéz. “Enquanto membros da associação global de utilizadores de VE, vamos propôr a Bruxelas e na COP26 [Conferência do Clima da ONU, em Glasgow, a partir de 31 de outubro] a antecipação de cinco anos para o fim das vendas de veículos a combustão: em 2030, só se poderão vender veículos 100% elétricos e híbridos plug-in e, a partir de 2035, só veículos 100% elétricos”, anunciou Sanchéz.

Nascida em 2015 para promover a mobilidade elétrica, a UVE é hoje parceira no desenvolvimento e planeamento das cidades. “Há seis anos que falamos com municípios, fazemos palestras, debates sobre o tipo de postos de carregamento, onde e como instalar”, enumerou o presidente da associação.

É precisamente nos municípios que a rede portuguesa ainda encontra entraves. Segundo o presidente da APOCME, “a instalação e licenciamento de novos postos e a ligação à rede elétrica nacional ainda são morosos, impedindo que os operadores consigam um retorno do investimento mais cedo”. Além disso, “há um grande desconhecimento dos municípios sobre o que são postos de carregamento, muitas vezes encarados como lugares de estacionamento público, o que origina taxas municipais exorbitantes”. Carlos Ferraz acrescentou, ainda, que subsistem problemas técnicos a nível da segregação de consumos – do posto e dos carregamentos – que nem sempre torna a informação transparente para operadores e consumidores.

Futuro elétrico

E há cada vez mais gente a utilizar os postos de carregamento público. “Janeiro de 2020 tinha sido o melhor mês de sempre, com 95 mil carregamentos. Em setembro deste ano, tivemos 149 mil e ainda estamos em fase de pandemia”, apontou Luís Barroso. O pico de utilização implicou o uso de “entre 22 e 23% da rede”, portanto ainda temos margem para acomodar o crescimento acelerado da procura.

Henrique Sanchéz reportou um aumento do interesse do público em geral pelos VE durante a pandemia e não tem dúvidas que o confinamento “nos permitiu ver como serão as cidades sem veículos de combustão, sem poluição ambiental e sonora”, ajudando a impulsionar a transição para o elétrico. “Os VE são muito superiores, com um leque enorme de vantagens. Os motores têm evoluído, assim como as baterias. A tecnologia permitiu desenvolver carros com maior autonomia e o preço vai continuar a decrescer – já temos carros abaixo dos 20 mil euros -, por isso temos de condições de acelerar muitíssimo e as alterações climáticas vão acelerar ainda mais”, anteviu o presidente da UVE. “A todos digo: experimentem, não interessa a marca, mas vão ver a comodidade que é um elétrico”, rematou.