A Stellantis anunciou o lançamento ainda este ano de três veículos comerciais ligeiros a hidrogénio para as marcas Peugeot, Citroën e Opel com autonomias superiores a 400 quilómetros e tempos de reabastecimento de apenas três minutos, assumindo-se como o primeiro passo do grupo rumo ao ecossistema do hidrogénio que possibilitará uma sociedade com emissões mais reduzidas.

Empenhada na eletrificação da generalidade da sua gama, a Stellantis desenvolve outras soluções com vista a uma mobilidade sem emissões de gases poluentes para a atmosfera. Aproveitando a experiência e conhecimentos das diversas marcas do grupo, sobretudo da Opel – com o centro de desenvolvimento e de montagem dos primeiros veículos situado precisamente em Rüsselsheim –, a Stellantis prepara o lançamento em mercados selecionados de versões híbridas de pilha de combustível (FCEV) com o apoio suplementar de uma bateria elétrica de baixa capacidade para complemento de potencial.

Os primeiros resultados deste esforço estarão nas estradas ainda este ano, com variantes a hidrogénio do Citroën Jumpy, Peugeot Expert e Opel Vivaro, aproveitando os benefícios da plataforma multienergias que o grupo Stellantis tem trabalhado ao longo dos últimos anos. Para Xavier Peugeot, responsável da divisão de Veículos Comerciais Ligeiros, este é mais um passo para a oferta de uma gama totalmente adaptada às necessidades dos clientes empresariais, explicando que a razão para esta aposta no hidrogénio reside em dois números.

“No final de 2021, como prometido, teremos toda a gama de veículos comerciais ligeiros completamente eletrificada, o que é um dado positivo. Mas, podemos dar também dois números que estão ligados a isso. O primeiro é de que 83% dos nossos clientes conduzem, em média, menos de 200 quilómetros por dia e, o segundo, é que 44% dos clientes nunca conduzem mais de 300 quilómetros por dia, o que quer dizer que há uma parte de clientes que querem conduzir mais de 300 quilómetros e é por isso que temos de lhes dar uma solução. Foi por isso que escolhemos a solução de hidrogénio para os comerciais médios, oferecendo uma solução que faltava”, refere Peugeot.

A solução tecnológica da Stellantis para estes três veículos combina a função de locomoção por pilha de combustível a hidrogénio, mas também da possibilidade de recorrer à bateria para melhor performance ou incremento da autonomia. Esta tecnologia é apresentada como de dimensão média, com o motor elétrico a poder ser alimentado pela bateria elétrica ou pelos três tanques de hidrogénio (4,4 kg a uma pressão de 700 bares) dispostos sob o piso no local onde está a grande bateria de tração das versões apenas elétricas.

Estes elementos são desenvolvidos através de uma parceria de desenvolvimento com a Faurecia, uma das parceiras para este projeto, sendo a outra a Symbio. O compartimento de carga não é afetado nem perde capacidade com esta abordagem a hidrogénio, com os diversos componentes escondidos em locais que já são utilizados pelos modelos lançados, tanto com motor de combustão, como elétricos.

A montagem destes componentes é feita na fábrica de Veículos Especiais da Opel, em Rüsselsheim, compreendendo três elementos essenciais – os tanques de alta pressão, o sistema de pilha de combustível (fuel cell) e a bateria de 10.5 kWh (pode ser carregada a 90 kW). O sistema fuel cell, com 44 kW de potência, é montado na dianteira, sobre o motor elétrico, enquanto a bateria, adotada do programa de veículos plug-in, é montada sob o habitáculo. Já os tanques estão montados sob o piso de carga, aproveitando os mesmos pontos de ancoragem e suporte da bateria elétrica, mas com diversos reforços estruturais e elementos de proteção para que a segurança de todos os componentes seja maior. Neste capítulo, Frank Jordan garante que a “segurança foi a nossa prioridade máxima ao fazer estes modelos”.

O arranque e a movimentação a baixa velocidade faz-se com recurso à bateria de tração, mudando para o sistema de pilha de combustível a hidrogénio a velocidades mais altas em cruzeiro. Em acelerações mais fortes, os dois trabalham em conjunto para a máxima potência, enquanto a desaceleração e travagem recupera energia para a bateria.

O recurso a esta solução, de acordo com o responsável de desenvolvimento e investigação, Frank Jordan, permite vantagens como a grande autonomia e rapidez de abastecimento, mas também o facto de poderem usar a plataforma multienergia da Stellantis, melhorando a arrumação dos diversos componentes porque a pilha de combustível é mais compacta, mas também a eficiência do conjunto, com Jordan a indicar que “podemos usar a pilha de combustível e a regeneração da energia decorrente da travagem para carregar a bateria. É uma situação de ganho mútuo. Claro que é complementar à solução puramente elétrica, correspondendo a necessidades diferentes de quem precisa de mais autonomia”.

Além disso, aponta ainda que “o hidrogénio será um pilar central na transição para uma sociedade cada vez mais ‘verde’ e é por isso que este carro se insere nessa visão de ecossistema do hidrogénio, no qual muitos governos estão a investir cada vez mais. Estamos a pavimentar o caminho para o ecossistema verde na Europa”.

Por enquanto, este sistema de pilha de combustível a hidrogénio apenas estará presente nos comerciais ligeiros da Peugeot, Citroën e Opel, mas Carla Gohin, Vice-Presidente da Investigação e Desenvolvimento da Stellantis, explica que a sua aplicação noutros modelos de outras marcas do grupo é uma possibilidade a seu tempo. Ainda assim, preferiu não dar detalhes concretos sobre esse tema, indicando apenas que “a nossa força mais importante é que somos a Stellantis com 14 marcas que pedem para construir estas soluções de transição”. Com efeito, por enquanto, ao contrário do que sucedeu com marcas como a Toyota e a Hyundai, que começaram pelos veículos de passageiros, a Stellantis opta pelo caminho dos comerciais ligeiros, entendendo que é aqui que irá residir o principal ponto de procura para a tecnologia de hidrogénio nesta fase inicial.

Aproveitamento de sinergias

Os responsáveis da Stellantis, como Frank Jordan ou Xavier Peugeot, salientaram o papel desta solução no propósito importante de transporte de bens e mercadorias, permitindo acesso a locais ou cidades com restrições de acesso a veículos poluentes, mas com o benefício de poderem fazer mais quilómetros em caso de necessidade. Além disso, o outro ponto de especial vantagem apresentado pelos especialistas do grupo é a possibilidade de se aproveitarem ao máximo as sinergias oferecidas pelo grupo, como a plataforma ou os componentes modulares.

É apontada uma autonomia superior a 400 quilómetros e um tempo de reabastecimento de cerca de três minutos, tornando a sua utilização tão prática quanto a de um veículo de motor de combustão nos dias que correm. Além disso, para o caso de o hidrogénio nos tanques se gastar todo, a bateria de tração permite que o mesmo circule – ainda que a baixa velocidade – por cerca de 50 quilómetros, permitindo assim uma autonomia bem superior dos 400 quilómetros.

O recurso a uma bateria elétrica é assumido como uma vantagem pela equipa da Stellantis, adiantando que essa permite também o aproveitamento da energia decorrente da desaceleração.

Prioridade aos pioneiros no hidrogénio

Quanto ao lançamento, Xavier Peugeot assume que o mesmo irá decorrer ainda antes do final do ano, mas não deverá chegar a todos os países ao mesmo tempo, atendendo às diferentes situações de rede de abastecimento de hidrogénio. O responsável da unidade dos veículos comerciais ligeiros reconhece que “há dois países que lideram e que são pioneiros neste ecossistema, França e Alemanha. Estamos confiantes de que outros países se seguirão e na Stellantis vamos apoiar o lançamento do hidrogénio noutros países”. Efetivamente, aqueles dois países são os que levam a dianteira na transição para o hidrogénio, já que só na Alemanha o total de estações chega aos 90 locais onde o hidrogénio pode ser abastecido.

Nada foi anunciado quanto a preços dos veículos, esperando-se mais informações a esse respeito para uma fase posterior. Já no que diz respeito à questão dos custos de produção e da sua rentabilidade, Carla Gohin responde que os custos só podem baixar com o aumento da produção em massa: “O custo da pilha de combustível a hidrogénio ainda ainda é elevado, mas olhando para os custos desta tecnologia é a velha história do ovo e da galinha. Primeiro temos de encontrar uma boa arquitetura e, depois, temos de começar a produzir em volume para baixar custos e a vender os veículos”.

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.