A marca norte americana começou a por construir quadros para velocípedes a pedal em 1975, e faz bicicletas de montanha desde 1984, tornando-se desde então num dos principais fabricantes mundiais, com uma oferta para todas as modalidades.

A Trek é uma marca de bicicletas que conheço bem, sobretudo os modelos de montanha, já que há uns anos tive duas em simultâneo: uma Session 88 de 2008 de downhill, inovadora em muitos aspetos, e que conseguia ficar abaixo dos 20 kg, mas ainda assim limitada a uma utilização específica, que era descer. E uma Remedy 7 de 2010, uma bicicleta de enduro com 150 mm de curso em cada extremidade que permitia uma utilização mais abrangente, exceto nas pistas mais agressivas de downhill.

A eletrificação veio revolucionar as bicicletas, especialmente as de montanha que permitem agora aos seus utilizadores alcançar trilhos a pedalar que anteriormente eram impensáveis. E a Rail 9.9 XX1 AXS é o expoente máximo da marca para uma utilização sem limites nos trilhos.

Estamos perante uma bicicleta com suspensão total que disponibiliza 150 mm de curso e um quadro com geometria ajustável totalmente em carbono, desde o tamanho S, até ao XL. Vem equipada com um amortecedor a ar RockShox Super Deluxe Ultimate, e uma forquilha com 160 mm de curso RockShox ZEB Ultimate com pernas de 38 mm. A assistência elétrica está a cargo do motor Bosch Performance Line CX de 250 W e 85 Nm que no nosso país auxilia legalmente até aos 25 km/h. A fonte de energia é uma bateria de 750 Wh integrada no quadro, e que pode ser retirada sem ferramentas.

Tudo isto é controlado pelo mais recente computador com ecrã integrado Kiox 300, e o respetivo comando remoto para o guiador. A possibilidade de emparelhar com o smartphone através aplicação eBike Flow da Bosch eleva o sistema para aquilo que a Trek chama de “Smart System”, onde é possível personalizar a assistência, registar as informações das voltas e a performance, ou até receber lembretes para as manutenções.

Esta é a bicicleta com mais tecnologia em que alguma vez andei

Esta é a bicicleta com mais tecnologia em que alguma vez andei, e como tal, é preciso fazer algumas verificações antes de sair para os trilhos. A primeira coisa a fazer é o download da app SRAM AXS, e de seguida emparelhar a forquilha, o amortecedor, o manípulo das mudanças, o desviador, e as rodas. Caramba! São muitos componentes, mas cada um deles tem, ou um sensor de pressão, ou permite monitorizar o nível de carga da respetiva bateria. De fora ainda fica o espigão de selim hidráulico também sem fios, cujo nível da bateria não é possível monitorizar.

Dentro da app SRAM AXS, é possível então introduzir dados como o nosso peso e o SAG pretendido, para obter a pressão que devemos colocar tanto no amortecedor Super Deluxe Ultimate RT3, como na forquilha ZEB. A interação fica-se por aqui, uma vez que os sensores não fornecem qualquer tipo de telemetria, nem recolhem dados para posterior análise. Apenas avisam mediante uma luz que estando verde indica que a pressão está de acordo com o que definimos, ou vermelha, quando difere do valor estabelecido. O mesmo acontece com as rodas Bontrager em carbono com os sensores de pressão Quarq TyreWiz. Na prática, antes de sair de casa é só verificar a carga das baterias, confirmar que todas as luzes estão verdes, e estamos prontos para andar. Com isto temos mais uma preocupação, que se pode transformar num problema quando já estivermos a meio da volta se não o fizermos.

Durante o teste obtive resultados inconsistentes em relação ao estado das luzes que monitorizam a pressão dos diversos componentes, alternando entre vermelho e verde aleatoriamente. Verifiquei as pressões, e como estavam corretas, não me preocupei mais com o assunto, até porque implicava reemparelhar com o smartphone, e eu queria mesmo era andar.

o Parque do Monsanto, ou as pistas do Jamor parece que foram feitos para a Rail

Locais como o Parque do Monsanto, ou as pistas do Jamor parece que foram feitos para esta bicicleta, nos trilhos a Rail 9.9 XX1 AXS demonstrou uma compostura impressionante nas descidas íngremes, com uma ação super suave, tanto do amortecedor RockShox Super Deluxe Ultimate RT3, como da forquilha RockShox ZEB, que passavam por cima de pedras e raízes como se não existissem. O ângulo de direção é mais aberto do que na minha antiga Trek Session de downhill. E o curso do amortecedor e forquilha é igual ao da Trek Remedy que também tive há uns anos. A falta de 50/40 mm de curso em relação à Session, é em parte compensado pelas rodas de 29 polegadas.

A bicicleta e o piloto são um conjunto que embalados geram uma inércia significativa, por isso é bom poder contar com os travões SRAM Code R, que foram incansáveis para parar eficazmente sempre que foi preciso.

A rolar, por vezes senti alguma resistência para manobrar em sigletracks mais apertados. Talvez tenha sido por estar com um tamaho M, e pela tabela, a minha altura ficar entre um S, e um M. Com 22,5 kg a Rail não é um peso pluma. Para tirar partido dela, é notório que exige do piloto alguma aptidão física nas descidas com obstáculos e saltos.

Quem anda de bicicleta de montanha e explora os seus limites, mais tarde ou mais cedo dá uma queda. Tudo bem, faz parte, se não for grave é levantar e seguir. Se acontecer com a Rail há que ter em conta que o ecrã integrado Kiox 300, e o comando remoto para o guiador ficam expostos, podem-se danificar e são componentes dispendiosos para substituir.

Uma grande vantagem das bicicletas elétricas é a de podermos subir virtualmente qualquer tipo de trilho, mesmo os com inclinações muito íngremes. Na Rail fiquei com a sensação de que seria melhor um tubo selim com uma geometria mais fechada para obter mais tração.

Se procura uma bicicleta de montanha com o melhor que a eletrónica oferece, e capaz de o levar para qualquer tipo de trilho a Rail 9.9 XX1 AXS é uma opção a ter em conta.

Ficha técnica:
Quadro: OCLV Mountain Carbon, Bateria Integrada Amovível, curso de 150 mm Forqueta: RockShox ZEB Ultimate, curso de 160 mm, máx 170mm Amortecedor: RockShox Super Deluxe Ultimate RT3 Rodas: Bontrager Line Pro 30, Carbono OCLV Mountain, Tubeless Ready Pneus: Bontrager SE5 Team Issue, Tubeless Ready, 29×2.6″, Quarq TyreWiz pressure monitors Manípulo de mudanças: SRAM Eagle AXS, sem fios, 12 velocidades Desviador traseiro: SRAM X01 Eagle AXS Cranque do pedaleiro: E*thirteen E*spec Race em carbono, 34D, comprimento 165 mm Cassete: SRAM XG-1295 Eagle, 10-52, 12 velocidades Selim: Bontrager Arvada, carris em austenita, largura de 138 mm Espigão: RockShox Reverb AXS

Guiador: Bontrager Line Pro, Carbono OCLV, largura de 780 mm Punhos: Bontrager XR Trail Elite, fixação em alumínio Avanço: Bontrager Line Pro, compatível com Blendr, comprimento de 45 mm Caixa de direção: Knock Block Integrado, rolamento selado tipo cartucho Travões: SRAM Code R, travão de disco hidráulico, 180/200 mm Bateria : Bosch PowerTube 625 Controlador: Bosch Kiox com função anti-roubo Motor: Bosch Performance CX, corpo em magnésio, 250 watts, 85 Nm Peso: Tamanho M – 22.47 kg Limite de peso: bicicleta, ciclista e carga 136 quilos Preço: 12 499 euros