Zonas de Emissões Reduzidas: cidades portuguesas estão na cauda da Europa

04/08/2022

Pela Europa fora têm aumentado – e vão aumentar – as Zonas de Emissões Reduzidas, onde veículos mais poluentes ficam impedidos ou condicionados de entrar. Mas em Portugal, estas ZER estão “congeladas”.

Muitas cidades europeias têm vindo a adotar Zonas de Emissões Reduzidas (ZER), em que veículos mais poluentes são condicionados ou proibidos, ou estão em vias de o fazer até 2025.

A associação Zero divulga um estudo (que disponibilizamos no fim do artigo) feito no âmbito da Campanha Cidade Limpas, promovida por uma coligação de organizações não-governamentais (ONG), que mostra que já há 320 zonas urbanas na Europa onde o acesso dos veículos mais antigos, tipicamente os mais poluentes é restringido – face a 2019, são mais 40% de zonas deste tipo.

As ZER podem ser implementadas não só nos centros urbanos como também nos subúrbios, cidades satélites ou vias circulares das cidades, e tipicamente proíbem carros a gasóleo da norma Euro 4 (2005) ou mais antigos e a gasolina da norma Euro 3 (2001) ou mais antigos; algumas ZER implicam ainda o pagamento de taxas à entrada.

Explica a Zero, que faz parte desta coligação de ONG, refere que a Itália, país turístico por excelência, em dois anos praticamente duplicou para 172 as zonas de emissões reduzidas, mais do que em qualquer outro país europeu, a Alemanha tem atualmente 78, o Reino Unido 17, os Países Baixos 14 e a França 8. Já os países de Leste estão mal servidos destas zonas, mas a Polónia e a Bulgária preparam-se para anunciar ZER em breve, diz a associação.

Cidades portuguesas a ficar para trás…

Em Portugal, contudo, só Lisboa tem uma zona de emissões reduzidas, mas de efeitos praticamente nulos dada a sua profunda desatualização em termos de exigências e ausência de fiscalização eficaz. A Zero exemplifica: “Na Avenida da Liberdade, que faz parte da zona, os limites de poluição são sistematicamente violados, e desde o início deste ano o valor médio de dióxido e azoto registado é de 44µg/m3 (valor limite é 40µg/m3)”.

“Nalgumas outras cidades há zonas com tráfego condicionado, como é o caso do Porto, o que também pode trazer benefícios na qualidade do ar, mas esse condicionamento não é em função das emissões dos veículos”, salienta ainda a Zero.

De acordo com sondagens recentes, a maioria dos habitantes das cidades defende que os automóveis a gasolina e Diesel sejam gradualmente impedidos de entrar nas cidades.

Para a associação ambientalista, pior é que não há planos anunciados para a instauração de novas zonas deste tipo: “Até 2025, não se conhece nenhum para as cidades portuguesas – o único que havia, de criação de uma ZER no centro da cidade de Lisboa, que retiraria milhares de automóveis privados por dia das ruas envolvidas, foi engavetado pelo atual executivo camarário, e mesmo no quadro das cidades portuguesas escolhidas pela Comissão Europeia para serem neutras em carbono até 2030 (Lisboa, Porto e Guimarães) não se conhecem planos desse tipo”.

… e Europa a avançar

O estudo mostra que o número de zonas de emissões reduzidas deverá crescer 58% na Europa até 2025, para um total de 507, tendo em conta obrigações legais ou planos anunciados. O crescimento mais forte será em Espanha, onde 146 novas ZER estarão em vigor até 2024 e em França, com 34 novas ZER em vigor até 2025.

Por outro lado, em 27 ZER haverá implementação de critérios mais rigorosos, incluindo em Londres, Paris e Amesterdão. Paris, Amesterdão e Copenhaga deverão mesmo recusar a entrada a todos os veículos a gasolina e Diesel até ao final da década, e Bruxelas fará o mesmo em 2035.

AS ZONAS DE EMISSÕES REDUZIDAS SÃO UM INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA AO DISPOR DAS CIDADES PARA MELHORIA DA QUALIDADE DO AR E DO CONFORTO DO ESPAÇO PÚBLICO, MAS QUE EM PORTUGAL NÃO ESTÁ A SER DEVIDAMENTE APROVEITADO

A Zero entende que as zonas de emissões reduzidas são um instrumento de política pública ao dispor das cidades para melhoria da qualidade do ar e do conforto do espaço público, mas que em Portugal não está a ser devidamente aproveitado. “Para implantar estas zonas a médio prazo, o caminho tem de ser preparado desde já pelas autarquias, começando nos centros históricos e alargando-as às zonas mais periféricas”, refere a associação.

Zonas sem carros trazem benefícios para a qualidade do ar, mas não só – comerciantes também saem beneficiados

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a poluição atmosférica é uma emergência de saúde pública, causando mais de 300.000 mortes prematuras por ano na União Europeia (UE), e cerca de 6.000 só em Portugal; os automóveis são uma das principais causas. Mas os estudos mostram que as ZER proporcionam fortes melhorias na qualidade do ar e, além disso, fazem aumentar as vendas no comércio.