A urgência de um futuro sustentável em tempos de pandemia

08/10/2020

Cascais, 08/10/2020 - Decorre hoje no Centro Cultural de Cascais o primeiro dia do MOBI SUMMIT PORTUGAL 2020 3 Edição do Maior Evento de Mobilidade Urbana. João Domingos Andrade, diretor do Jornal de Noticias.. (Ricardo Gonçalves / Global Imagens )

A necessidade de atingir a neutralidade carbónica, de avançar na mobilidade elétrica e digital marcaram os discursos da sessão de abertura da terceira edição da Portugal Mobi Summit, este ano marcada pela presença da covid-19

A terceira edição do Portugal Mobi Summit arrancou esta quinta-feira de manhã com os discursos de abertura marcados pela necessidade de um futuro sustentável e simultaneamente pelas dúvidas e mudanças de comportamento ditadas pela pandemia. O concelho de Cascais, que volta a ser o anfitrião da iniciativa, apresenta-se como inovador no que respeita à questão da mobilidade, com a rede de transportes públicos completamente gratuita.

“Acreditamos que vamos antecipar a meta de 2050”, afirmou Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, referindo-se ao objetivo de atingir nesse ano a neutralidade carbónica. O autarca lembrou que muitos consideraram loucura dar esse passo mas realçou que se tratou de uma medida ponderada que é paga através das receitas de parqueamento e com impostos que entram para o orçamento municipal, como o imposto único de circulação.

“Não o fazemos só por combate às alterações climáticas mas porque se não o fizermos ficaremos para trás. Queremos liderar esse processo. Quem não o fizer ficará para trás”, alertou Miguel Pinto Luz, defendendo a necessidade de “não diabolizar o lucro e a iniciativa privada”, “de pôr o desenvolvimento do país à frente de outros interesses”.

Eletrificação dos transportes

Para Miguel Stilwell d’Andrade, CEO interino e CFO da EDP, “avizinha-se uma década decisiva relativamente à ação climática”, uma vez que o que se fará na próxima década será fundamental para conseguir cumprir os objetivos estabelecidos pela Comissão Europeia, quer ao nível da neutralização carbónica quer ao nível das energias renováveis. O responsável deste parceiro da Portugal Mobi Summit lembrou que a EDP tem mais de 20 mil milhões de euros investidos em renováveis nos últimos anos. Mas salientou que a eletrificação dos transportes é fundamental para concretizar a descarbonização, concluindo que Portugal precisará de 20 mil pontos de carregamento nos próximos cinco anos, uma vez que “na Europa já foram vendidos dois milhões de veículos elétricos e haverá 10 milhões na estrada até ao final deste ano”.

Finalmente, Miguel Stilwell d’Andrade alertou que “é importante que haja infraestrutura adequada para acompanhar a evolução rápida destes mercados”.

A Volkswagen, uma vez mais presente no Portugal Mobi Summit, é, segundo Licínio Almeida, General Manager da marca em Portugal, “o grupo que mais investe na mobilidade sustentável”. O responsável lembrou as palavras do presidente do grupo de que até 2028 há o plano para investir 30 mil milhões de euros em soluções de mobilidade elétrica.

Até 2025, o grupo pretende vender dois milhões de viaturas completamente elétricas; até 2030 quer que 40% das vendas seja de viaturas completamente elétricas; e até 2040 planeia abandonar a comercialização de viaturas com motor a combustão.

Para Licínio Almeida, este processo já estava em andamento, mas a pandemia veio acelerá-lo. “O mundo está a mudar, a indústria, a economia e os consumidores. Tem tudo de acontecer rapidamente de forma mais simples”, disse, lembrando ainda que a marca está a lançar uma viatura concebida para ser 100% elétrica, a qual “quer democratizar a acessibilidade do cidadão comum à mobilidade elétrica”. E concluiu que o automóvel continua a ser peça fundamental para a liberdade individual de cada cidadão para se deslocar.

Segurança sanitária na estrada

E foi essa a conclusão a que a Brisa chegou em tempos de pandemia, tendo-se verificado um aumento da mobilidade individual ou familiar. O custo deixou de ser critério fundamental na hora de escolher um meio de transporte e a segurança passou a ser o mais importante. “A pandemia teve um forte impacto nos vários sectores da economia e veio trazer novas incertezas. O sector da mobilidade não foi exceção”, começou Vasco de Mello, chairman e CEO da Brisa. “A mobilidade urbana foi especialmente afetada”, com os operadores a tentar garantir a segurança sanitária dos equipamentos e os consumidores a procurar soluções adapáveis às novas necessidades de segurança, explicou considerando este momento como “de enorme incerteza e grande expetativa num contexto de transformação sem precedentes”. “Temos os próximos 10 anos para desenharmos com clareza a mobilidade sustentável”, defendeu.

Para Vasco de Mello, a descarbonização e digitalização da mobilidade são as apostas que a pandemia só veio acelerar. “A ‘mobility as a service’ poderá ser agora mais fácil de implementar”, disse, considerando prematuro avaliar o impacto do teletrabalho na mobilidade, mas antecipando o surgimento de maior variedade de padrões de mobilidade em correlação com os estilos de vida que vão nascer. Certo é que “as autoestradas do futuro terão de ser eficientes, inteligentes, limpas e humanas”.

Rejuvenescimento num grupo histórico

Domingos de Andrade, administrador da Global Media Group e diretor do Jornal de Notícias, começou por resumir 2020 como um ano de desafios e batalhas, pessoais e dramáticas, devido à covid-19, e considerou que o confinamento nos fez ver outras formas de trabalhar, vencer distâncias e saudades e mostrou céus mais claros, com ar mais respirável e cidades aptas para caminhar e passear.

Lembrando a história do grupo de comunicação social, detentor de marcas centenárias, salientou que este também vive “dias de transformação, de mobilidade, de rejuvenescimento projetados pelo novo acionista, o Grupo Bel, que tem a sustentabilidade como a sua matriz”.

Sofia Fonseca