No último dia do Portugal Mobi Summit passaram pela Nova SBE temas como a economia circular, a transição energética, a revolução 5G, a mobilidade elétrica ou a era dos drones.

 

Chegamos ao limite da mobilidade: “A cidade não aguenta mais.” O aviso é de Carlos Moedas, o comissário europeu em fim de mandato, que no encerramento do Portugal Mobi Summit chamou a atenção para a urgência de mudar o paradigma: “A nova soberania é hoje a conectividade que nada tem a ver com geografias ou fronteiras físicas.” São os dados que vão transformar o mundo, que com os recursos digitais não irão apenas criar novos negócios e mais postos de trabalho, como diminuir também as desigualdades sociais.

“A inovação simples e útil é o que eu gostava de ver no futuro”, sublinhou o ainda comissário europeu para a Ciência e Inovação, relembrando como o estado atual dos centros urbanos não é mais viável. Basta recordar aliás que as cidades concentram 50% da população mundial, representam 75% do consumo energético e são responsáveis por 80% das emissões.

 

12 mil milhões desperdiçados por não reciclar ouro dos carros

Se alguém tiver dúvidas sobre as vantagens da economia circular, Cathrine Barth, co-fundadora da Circular Norway, dá um exemplo esclarecedor: “Temos 260 milhões de carros na Europa que são uma mina de ouro, na medida em que os seus componentes contêm, no total, qualquer coisa como 400 toneladas de ouro”. Ora, se quando esses veículos chegam ao fim de vida não forem reciclados, estamos literalmente a deitar ao lixo toneladas de ouro”, afirmou a norueguesa, que hoje abriu os trabalhos do segundo dia do Portugal Mobi Summit, na Nova SBE, em Carcavelos. E, à cotação atual do ouro, o valor do desperdício ascende a qualquer coisa como 12 mil milhões de euros, acrescentou Charles Landry, curador do PMS2019.

O desafio para o futuro, quando sabemos que os recursos naturais são finitos, é “desligar o crescimento económico do consumo crescente de recursos”, considerou Cathrine Barth. E um dos eixos centrais desse processo é o combate ao desperdício na mobilidade. Porquê? Em média 92% dos carros estão a maior parte do tempo parados, são utilizados por apenas uma pessoa e podem responder por 50% da economia circular.

“Atualmente, só 9% da economia mundial é gerida de forma circular”, referiu a oradora. Como aumentar esta percentagem para 91%? Para Cathrine Barth, “tudo tem de começar desde o momento da conceção dos produtos, para que voltem ao sistema quando acaba o seu ciclo de vida.”

 

Não há volta a dar: a transição tem custos

A economia circular é parte integrante da transição energética e ambas acarretam custos elevados. Quanto custa ao certo?, perguntou Domingos Andrade, Diretor do JN e moderador do painel sobre Transição Energética e Ambiente. “O que importa é comparar o custo com o benefício”, respondeu José Mendes, o ainda secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, que acrescentou ser esta “uma questão de vida ou morte”.

Na mesma linha esteve Joanna Drake, diretora adjunta de ambiente da Comissão Europeia: “Queremos que a Europa sobreviva e continue a ser um sucesso e uma inspiração. Não temos outra alternativa para a salvação do planeta e futuro dos nosso filhos”. Joanna Drake sugeriu que as empresas de eletricidade invistam no carregamento rápido para incentivar os consumidores à mobilidade elétrica e acrescentou a ideia de um sistema de pagamento europeu. José Mendes acompanhou-a, salientando o papel de liderança da Europa, que considerou fundamental que se mantenha, o que implica “canalizar recursos financeiros para esta questão”. Mas também ajudar outros blocos mais pobres.

Já António Coutinho, administrador da EDP Portugal, lembrou que a eletricidade representa apenas 20% do consumo energético e que as energias renováveis são a forma mais barata de produzir energia sem CO2. “Se descarbonizarmos toda a produção de eletricidade ficam a faltar 80% da energia consumida. É preciso descarbonizar a energia, não só a eletricidade”.O 5G vai revolucionar a vida de consumidores e empresas.

A tecnologia tem sido e continuará a ser um dos melhores aliados da transição energética. “A emergência do 5G vai trazer revoluções a vários níveis”, considerou Manuel Ramalho Eanes, administrador executivo da NOS, no painel sobre As oportunidades e Desafios das Redes 5G no Futuro da Mobilidade. A um primeiro nível está o ambiente industrial, onde “o 5G vai permitir aumentar tremendamente a precisão de tarefas de elevado risco”, sendo um dos exemplos mais significativos o equipamento para realização de cirurgias, através da realidade aumentada. Num segundo nível será “a própria experiência dos consumidores que será radicalmente alterada”, pois, explicou, a nossa lista de compras passa a estar visível num ecrã virtual.

E, como não poderia deixar de ser, vai mudar também a realidade das empresas. Não só porque muitos negócios que dependiam de uma presença física com o público passam a poder fazer-se através de pequenos botões atrás de um visor, mas também porque as empresas passarão a ter de estar na cabeça dos consumidores”, conhecendo os seus interesses e antecipando os seus consumos.

Resumindo, Manuel Ramalho Eanes considera que todos temos a ganhar com o 5G, na medida em que, ao permitir conectar todos os equipamentos de uma cidade, vai possibilitar que mais pessoas possam trabalhar e comprar remotamente, sem tantas deslocações em transportes, reduzindo também assim as emissões de carbono. Na mesma linha, João Nascimento, CTO da Vodafone, abordou o 5G na perspetiva de uma tecnologia que potencia uma série de novas soluções de negócio para resolver os problemas da mobilidade. Nesta matéria “o céu é o limite”, considerou. E para exemplificar, revelou que a Vodafone tem participado em testes relacionados com segurança e conetividade, em que o telemóvel de uma criança a atravessar a rua pode comunicar com o carro que vai a passar, acionando o travão para evitar um atropelamento.

 

Respostas digitais para a mobilidade

José Henriques, administrador executivo da EFACEC antecipou que, num futuro próximo, o carro será não somente carregado em movimento, como com recurso a wireless, opções que, aliás, já existem, embora não sejam ainda comuns. “Carregar em movimento – para quem nunca ouviu falar – é colocar o carro num carril e pô-lo a deslizar numa passadeira enquanto a bateria é abastecida. Muitos avanços já se fizeram na mobilidade elétrica e o caminho – explica o administrador executivo da EFACEC –, mas o passo seguinte é que terá de ser gigante, já que em causa está fazer o mesmo para os veículos pesados ou navios de carga a atravessar oceanos. “Tecnicamente tudo é possível”.

 

Quando a hora é dos drones

E numa conferência onde se fala de mobilidade e automação, como não falar de drones? “Sou a favor das novas tecnologias”, afirmou Arshia Gratiot, no arranque da sua apresentação Drone Delivery, Fact or Fiction? Segundo a CEO da Third Space Auto, “todos os indicadores macroeconómicos mostram que a automação será o melhor para a sociedade” e, por isso, não tem qualquer problema em imaginar um futuro muito próximo “com drones e robôs a desempenharem funções de forma colaborativa” um pouco por todo o lado.”Os drones já percorrem os céus de várias partes do mundo e vieram para ficar.

Em Portugal, a Third Space Auto está a colaborar com uma empresa portuguesa para colocar drones ao serviço da proteção de fogos florestais”. Em África, os drones de uma empresa norte-americana voam a 150 km/hora para entregar sangue e medicamentos em países como o Ruanda e na China já existem empresas que fazem, por exemplo, entregas de comida com drones. Um admirável mundo novo.

 

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