O uso dos dados pelas empresas e a digitalização da sociedade não são o caminho certo, defendeu Marleen Stikker, fundadora a WAAG. Em cidades como Barcelona e Amesterdão já está em andamento um projeto pelo uso correto dos dados das pessoas.

“É uma afirmação arrojada dizer que a internet está estragada e ainda mais arrojado dizer que podemos consertá-la. Porque perdemos a nossa privacidade.” A firmação é de Marleen Stikker, fundadora da WAAG, e oradora da intervenção “RWX, How to Reclaim Our Sovereignty in the Digital World” no Portugal Mobi Summit.

Stikker é uma grande defensora das sociedades inclusivas e das tecnologias abertas e aos serviços dos cidadãos, mas acredita que ainda há um longo caminho a percorrer. “Há muitas pessoas que veem a tecnologia como uma caixa negra, porque não sabem o que está lá dentro, mas têm de confiar”, afirmou, referindo “The Black Box Society”, um livro que nos mostra que não conhecemos as regras que estão subjacentes às tecnologias que usamos.

A holandesa defendeu ainda que atualmente “”tudo digital. A ideia é de que nos vai ajudar, que nos vai tornar mais saudáveis”. No entanto, Stikker chamou a atenção para o facto de a mudança de tudo para o digital representar 20% do consumo de energia. “Será que isso é solução?”, questionou.

Outra questão que rege o trabalho de Marleen Stikker é a questão da propriedade dos nossos dados, lembrando que “muitas são as empresas que estão nos nossos bolsos, nas nossas vidas. Que conseguem prever o que vamos fazer”. “Os algoritmos também podem influenciar a forma como vemos o mundo, como pensamos o mundo”, reforçou.

Na opinião da fundadora da WAAG, na Europa já foi dado um grande passo com a aprovação da Diretiva de Proteção de Dados. Um passo que está a influenciar o resto do mundo. “O reconhecimento facial está a ser proibido em muitos sítios, como em todo o estado da Califórnia, por exemplo”, informou.

Mas será que é possível ter a tecnologia só para o bem? “Há cidades como Barcelona e Amesterdão que têm um manifesto pelo correto uso dos dados das pessoas. Este está a ser usado como um ponto de partida. E deve ser usado para pensarmos como queremos mudar o ambiente digital”, contou Stikker.

“Por exemplo, informações sobre mobilidade são importantes para estabelecer um padrão, mas não queremos que esses dados sejam comercializados. Que caiam nas mãos erradas. Empresas como a Uber podem envolver-se no nosso projeto, mas temos de criar um escudo de acesso à informação”, explicou.

“Estamos a começar a falar dos algoritmos éticos, o abrir da caixa negra. Como a alimentação, que tem a segurança alimentar, para a tecnologia tem de se criar mecanismos de segurança”, prosseguiu a holandesa.

Mas para tirar as dúvidas a quem a tivesse a ouvir, Stikker deixou um esclarecimento sobre a sua relação com a tecnologia: “Eu sou muito crítica sobre a tecnologia, mas não sou contra! Mas os modelos de negócio destas empresas baseia-se na vigilância e isso é errado. É por isso que o projeto Decode, que está a ser usado em Amesterdão e Barcelona, é importante.”

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