Adrian Newey, o mágico da Red Bull

27/12/2017

Nem só de pilotos são feitas as lendas da F1. Há homens que por força do seu talento, da sua inteligência e do seu carácter escreveram o seu nome de forma indelével na história da categoria rainha do automobilismo.

Um desses homens é Adrian Newey, o mágico da Red Bull. Alguém disse que um piloto médio com um bom carro pode ser campeão, mas um piloto bom com um carro médio não o consegue. E temos o exemplo de Alonso para confirmar esta teoria. A verdade é que Vettel venceu graças ao seu talento, mas também graças ao talento do engenheiro projetista que desde 1988 desenha carros de competição.

Cedo começou a trilhar o caminho do sucesso, tendo recebido vários prémios como estudante. Em 1980 quando acabou os estudos, começou a trabalhar logo no desporto motorizado, sendo empregado pela March. Começou pela Formula 2 como engenheiro de performance, passando depois para os IndyCar, onde começou a desenhar os carros e começou a dar nas vistas. O primeiro carro desenhado pela sua mão conseguiu 7 vitórias, uma delas na famosa Indy 500. Esteve na Indy de 84 a 88 ano em que se mudou para a Formula 1, também na March. O March 881 de Newey mostrou-se bem mais competitivo do que o esperado com resultados muito positivos. O seu carro ficou com o recorde de 88 de carro mais rápido, com motores atmosféricos (não sendo sombra para os motores turbo da altura).

Com a mudança da March, passando a denominar-se Leyton House as coisas começaram a crispar-se e Newey, embora fazendo alguns bons resultados, foi despedido no final de 1990. Não foi problema para ele pois Patrick Head, diretor técnico da Williams tratou logo de lhe mostrar um contrato.

A partir daqui a história é conhecida. O domínio dos McLaren ainda se fez sentir até 91, mas a partir daí os avanços tecnológicos colocados nos Williams tornaram-nos carros imbatíveis. A dupla Head/Newey começava a dar frutos. O Domínio durou 5 anos até que Newey, que queria ser chefe do departamento técnico mas que não podia uma vez que Head, para além de diretor chefe era também acionista da equipa, ponderou a saída, que se concretizou no final de 96 rumando à McLaren.

Em 1997 entra para a equipa de Woking , não conseguindo influenciar muito no rendimento do carro desse ano. Mas o ano seguinte traria mudanças nos regulamentos, que foram aproveitadas por Newey e pela McLaren para vencer o campeonato de pilotos em 1998 e 99 assim como o campeonato de construtores de 98. Mas a falta de fiabilidade levou a que o potencial dos carros fosse mascarado pelas constantes falhas mecânicas. Em recente entrevista à Sky, Newey afirmou que se sentiu algo oprimido na McLaren e que a própria estrutura do MTC oprime a imaginação por ser demasiado estéril.

Em 2006, depois de cumprir os seis meses de afastamento obrigatórios, mudou-se para a Red Bull, com a tarefa de tornar uma equipa que estava claramente na cauda do pelotão (Jaguar), numa estrutura vencedora. Os primeiros anos não foram fáceis e os resultados demoraram a aparecer, mas com a entrada de Vettel a história mudou radicalmente e a partir de 2010 a Red Bull iniciou um domínio assombroso, aliando o talento do jovem alemão à mestria do génio britânico. A mudança para os motores turbo-híbridos afastou a equipa da corrida pelos títulos, mas não deixou de ser uma das equipas mais fortes e influentes do paddock, muito graças à magia de Newey e da sua equipa.

No entanto nem só de momentos de glória é feita a carreira de Newey. O ano de 94 foi trágico para todos os fãs da F1 e especialmente para ele, pois viu um dos melhores de sempre a falecer num carro desenhado pela sua mão. Foi acusado em tribunal, mas absolvido no final do processo, mas é uma marca profunda que se mantém. O próprio já admitiu que ponderou abandonar a F1 e que gostava de ter dado a Senna um carro que lhe permitisse lutar por vitórias, algo que não foi possível nesse ano, devido as mudanças do regulamento, que retirou a suspensão ativa dos carros, um dos grandes trunfos da equipa. Como teria sido a dupla Newey / Senna? Nunca o saberemos, mas podemos imaginar.

A história de Newey é, como a de qualquer engenheiro que se preze, feita de números. E muitos deles são impressionantes. Tem no seu registo 158 vitórias (inclui todos os carros que tiveram a contribuição do britânico) mais de 250 pódios e 10 carros campeões do mundo. São números impressionantes que dizem bem da influência Newey no sucesso das equipas por onde passa. A sua capacidade de dar a volta aos regulamentos é impressionante. Ele e a equipa fazem questão de olhar para os regulamentos e tentar entender o que não é dito para tirar partido disso.

Newey, que agora começa aos poucos a diminuir a sua influência na F1 para se dedicar a outros projetos, como o Aston Martin AM-RB 001, o primeiro carro para a estrada do génio britânico é uma espécie de Alonso dos projetistas, e a Red Bull faz de tudo para que ele se mantenha por perto. Bobby Rahal, que se tornou amigo pessoal de Newey na sua passagem pela Indy disse “Dêem-me o Newey e não precisamos do melhor piloto para vencer”, uma afirmação que muitos anos depois continua a fazer algum sentido.

Sem querer tirar o mérito a tantos outros grandes engenheiros como Brawn, Lowe, Murray, Barnard, Head, entre outros, podemos comparar Newey a Colin Chapman, o génio fundador da Lotus, que revolucionou a aerodinâmica da F1 e que colocou a Lotus na história da modalidade. Chapman terá sido o responsável pela vontade de desenhar carros de corrida de Newey, que desde pequeno ajudou o seu pai a montar os Lotus que chegavam a casa e tornou-se numa espécie de ídolo.

Adrian Newey é sem dúvida um dos grandes nomes da história da F1 e irá por certo escrever mais algumas páginas brilhantes na categoria rainha do desporto motorizado e não só.