Ayrton Senna: Serenata à chuva foi há 33 anos

22/04/2018

Segunda prova do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 de 1985: Grande Prémio de Portugal. Data da corrida: 21 de Abril de 1985. Condições atmosféricas: chuva constante, muito violenta entre os 70 e 85 minutos da prova. Total: 67 voltas, ou 2h00m28,006s. Vencedor: Ayrton Senna, à média de 145,160 km/h. Carro: Lotus 97T/Renault Turbo.

Chegaram ao fim 9 pilotos.

Estes, são os dados estatísticos – frios, que nada dizem sobre a alma dos homens que, durante duas horas, se debateram contra condições meteorológicas atrozes e contra uma pista cuja aderência se alterava em cada volta.

O segredo esteve na largada
Autor da sua primeira “pole position” nos treinos, Ayrton Senna soube aproveitar bem esse facto e, na partida, suplantou de imediato todos os seus adversários, liderados por Alain Prost. Estava dado o mote para uma “cavalgada” solitária em que, a dado momento, o brasileiro se desconcentrou e quase comprometeu todo o seu esforço com uma saída de pista. Mas, a partir de então, Senna voltou a pilotar a 100 por cento e, no final, apenas não dobrou o segundo classificado, Michele Alboreto, num Ferrari – mas o italiano ficou a mais de um minuto de distância. Na realidade, o único verdadeiro adversário de Ayrton Senna foi a própria pista, com a qual lutou constantemente, sem nunca baixar os braços, sem nunca se dar por vencido. E pensar que, nos treinos livres dessa manhã, Senna ficou parado em pista, com a caixa de velocidades partida…

O Grande Prémio de Portugal de 1985 ficou na história da F1 não apenas por ter sido a primeira vitória de Ayrton Senna. De facto, foi a primeira vitória de um Lotus desde a conquistada, em 1982, no Grande Prémio da Áustria, por Elio de Angelis. Foi, igualmente, a primeira vitória da Lotus que não foi saudada pelo boné lançado ao ar por Colin Chapman. Enfim, num espectro mais restrito, foi a primeira vitória de um piloto não-McLaren em nove corridas! Depois desta exibição de superioridade à chuva, Senna deu um passo de gigante no caminho da magia. “Mestre da chuva”, aquele que era capaz de tudo o que os outros não conseguiam fazer, Senna ficou para sempre ligado à imagem do piloto dos impossíveis. Ou melhor, aquele para quem essa palavra não existiu, nunca.

 

(Em directo)

“Lembro-me da minha primeira corrida de kart na chuva. Foi um desastre, uma piada total. Eu não conseguia fazer nada, com toda a gente me passando por todo o lado. Era estranho, porque no seco eu era bastante bom. Nesse dia vi que não sabia nada de pilotagem na chuva e comecei a treinar em piso molhado. Sempre que chovia, lá estava eu, a testar e a treinar. Foi aí que aprendi a andar na chuva.”
(Senna, explicando como se tornou hábil à chuva)

“Os organizadores tinham-nos dado dez minutos extra de aquecimento para nos adaptarmos àquela chuva. Eu estava tão perdido naquelas condições, porque não fazia a mínima ideia de como o carro se iria comportar com tanta água, depois de ter saído do seco para o molhado com os depósitos cheios. Por isso saí das boxes como que pisando em ovos. Lentamente, com medo de perder o carro naquela volta e nem largar. Aí veio a largada, senti que o carro estava… normal e fui embora.”
(Senna, depois da corrida)

“Tive vários momentos difíceis, mas o maior foi quando passei com as quatro rodas por cima de uma enorme poça de água e o carro entrou em aquaplanning para fora da pista. Felizmente que não bati em nada e pude voltar ao asfalto.”
(Senna e o momento de aflição por que passou)