Button revela relação com Hamilton: A F1 é um jogo frio, duro e cruel

16/10/2017

As relações entre colegas de equipa na F1 são sempre tensas. O maior rival de um piloto – e o primeiro – é sempre o seu colega de equipa, pois tem o mesmo material à disposição. Lewis Hamilton não é conhecido por ter grandes amizades com os colegas de equipa, principalmente aqueles cujo rendimento é uma ameaça. A dupla com Alonso foi uma dor de cabeça para a equipa, tal como aconteceu com Rosberg quando o alemão fez das fraquezas forças. Com Kovalainen as coisas foram mais pacíficas e com Button ficou a ideia que a relação até foi boa. Não foi bem assim, e é isso mesmo que Button descreve publicamente na sua biografia.

Button considera Hamilton um dos melhores de sempre e que foi mesmo a razão que o levou a ir para a McLaren. O campeão de 2009 já estava de olho no lugar na McLaren pois queria medir forças com aquele que considerava o piloto mais rápido da grelha e quando a oportunidade surgiu não hesitou, mesmo sendo avisado que encontraria uma equipa mais sombria e completamente virada para Hamilton, o que viria a revelar-se verdadeiro.

Button considera que o Hamilton não se sentiu à vontade quando começou a perceber que a equipa já não estava focada apenas nele mas sim em ambos os pilotos e foi isso que começou a desencadear alguns comportamentos mais estranhos.

Ao contrário do que passava para fora, a relação entre ambos era algo fria, embora tivessem muito em comum. O contacto inicial foi caloroso até, mas a meio da época o caso azedou e na Turquia tomou novas proporções. Lewis estava à frente do colega de equipa e este encurtou as distâncias, o que preocupou Hamilton pois estava a tentar poupar combustível. A equipa assegurou que Button não iria atacar, mas segundo o britânico a ordem de levantar pé nunca chegou e tentou a ultrapassagem. No final, Hamilton ganhou mas não ficou satisfeito e confrontou-o. Quando soube que Button não tinha recebido ordens, ficou com a sensação que a equipa estava a ficar contra ele.

Em 2012 o episódio de Spa azedou ainda mais a relação de Hamilton com a equipa. Button recebeu uma asa traseira nova e Hamilton ficou com a antiga. Na qualificação Button assegurou a pole e Lewis ficou-se pelo 7º lugar. Mais tarde, o último recorreria às redes sociais para justificar o facto, afirmando que perdia 0.4 segundos na reta. O pior estava para vir, quando no dia seguinte publicou uma foto com a comparação da telemetria de ambos, o que não agradou à equipa, e principalmente a Button, que não apreciou minimamente ver os seus dados publicados. Terá sido o princípio do fim de Hamilton na McLaren, que no ano seguinte se mudou para a Mercedes.

Os fãs sempre ficaram com a ideia que ambos tinham uma boa relação dentro e fora de pista. Button mostra agora que tal não era verdade e nunca chegaram a criar laços de amizade.

Quanto aos números… Hamilton conquistou 22 pódios e 10 vitórias contra 21 pódios e 7 vitórias de Button enquanto colegas de equipa. Hamilton foi 4º em 2010 e Button 5º, mas em 2011 Button sagrou-se vice-campeão e Hamilton apenas foi 5º, a primeira vez que ficou atrás de um companheiro de equipa na F1. No ano seguinte Hamilton voltou a fazer mais pontos mas a pouca fiabilidade da McLaren nesse ano e o incidente de Spa levou à troca de equipa.

Quanto a Button, teve a coragem de mudar-se para uma equipa claramente virada para Hamilton, conquistar os responsáveis, engenheiros e mecânicos e ficar em pé de igualdade com o colega de equipa. Lewis foi muito melhor nas qualificações (9 poles contra apenas 1 de Button), mas a regularidade em corrida de Button foi um trunfo importante para que conquistasse o seu lugar na equipa.

Hamilton mostrou nessa altura, como mostrou com Rosberg depois, que leva as lutas internas muito a sério e não poupa meios para tentar desestabilizar o colega de equipa nem tem problemas em apontar o dedo à equipa (mesmo por vezes de forma algo injusta). Basta lembrar o ano passado, em que por várias vezes questionou algumas opções da equipa deixando no ar que estavam a beneficiar Rosberg. Mesmo as ‘cenas’ na última corrida de 2016, em que propositadamente levantou o pé para tentar prejudicar Rosberg, não caíram bem no seio da equipa que falou-se da possível saída de Hamilton, algo que foi esquecido quando Rosberg meteu os ‘papéis da reforma’.
A F1 é um jogo frio, duro e cruel e Hamilton joga com as armas todas para vencer. Quem o pode censurar? Todos os pormenores contam para a vitória final.

Fábio Mendes