Confesso que fiquei boquiaberto com a espetacular volta que Lewis Hamilton fez ao circuito de Marina Bay. Absolutamente impressionante como o campeão do Mundo em título conseguiu juntar os seus três melhores setores numa volta. Foi o único e isso deu-lhe uma merecida “pole positon”. Quem nem Toto Wolff nem Lewis Hamilton esperavam. “No final da terceira sessão de treinos livres estávamos a meio segundo dos Ferrari. Nunca pensei ser possível apanhá-los!” disse no final da qualificação um felicíssimo Hamilton. Já Vettel disse que “não quero tirar mérito ao Lewis, mas esta diferença não mostra a realidade e o tempo que ele não é imbatível.” Visivelmente incomodado com o seu P3 na qualificação, atrás de Hamilton e de Verstappen.

Enfim, nada disto era suposto acontecer e depois de três sessões de treinos livres, a Ferrari era, claramente, favorita para a qualificação. Mais, favorita a ficar com a primeira fila da grelha de partida! Acabaram a qualificação em terceiro (Vettel) e quinto (Raikkonen) com a Hamilton a estabelecer a 79ª “pole position” da sua carreira. Um verdadeiro “murro no estômago” da Ferrari e, sobretudo, de Sebastian Vettel.

Como foi isto possível?

Primeiro que tudo, devido a um senhor piloto chamado Lewis Hamilton. O britânico fez uma volta quase perfeita, impressionante, abaixo dos 100 segundos (1m36,015s) sem um único erro e, mais que isso, fazendo aquilo que é necessário, em Singapura, para conseguir um bom tempo: juntar todos os melhores tempos nos três setores. Depois, há que dizer, sem desvalorizar o excelente trabalho da Mercedes e de Hamilton, que a Ferrari errou. Errou muito nesta qualificação e pode ter atirado janela fora o título de 2018.

Afinal, quais foram os erros da Ferrari?

Tudo começou há uns meses com a escolha de pneus para o GP de Singapura: a Ferrari, tal como a Mercedes, tinha apenas quatro jogos de pneus Hipermacios para a qualificação, ou seja, dois jogos para a Q2 e dois jogos para a Q3. Foi a escolha das equipas que acabou por forçar a utilização dos Ultramacios na Q1. Um risco enorme que a Mercedes correu, com Hamilton a terminar essa fase em 13º, com apenas dois décimos de vantagem sobre a linha de corte. Um pouco de azar e Hamilton tinha ficado fora logo na Q1. A diferença de 1,6 segundos entre os Hipermacios e os Ultramacios era muito maior que o esperado. Por isso mesmo, seria pouco avisado para não dizer idiota, tentar passar a Q2 com esses pneus. O que fez a Ferrari?

Pois! Tentou fazer a Q2 com os pneus Ultramacios e o que se seguiu foi uma espécie de aula sobre o que não se deve fazer: pilotos em pista com Ultramacios a serem forçados a interromper, prematuramente, as tentativas de qualificação, a voltarem para as boxes para montar os Hipermacios e enviados para a posta na pior altura, no meio do tráfego. Tempo desperdiçado sem experimentar voltas de aquecimento dos pneus, algo que em Singapura é, também, decisivo.

Para a Q3, a confusão foi ainda maior! Vettel comunicava à equipa que os pilotos da Mercedes estavam a desacelerar nas suas voltas de preparação e que poderiam ficar na sua frente. Ninguém percebeu a mensagem e a verdade é que Vettel foi forçado a ultrapassar muitos carros na sua volta de lançamento e a desacelerar para não ficar demasiado próximo dos Mercedes.

Ou seja, Sebastian Vettel não esteve a aquecer os pneus, mas sim a fazer uma mini corrida com várias ultrapassagens a pilotos atrasados, o que desgastou mais e de imediato, os pneus Pirelli Hipermacios.

Quando se lançou nas voltas de qualificação, os pneus do Ferrari estavam já com alguma degradação e o quatro vezes campeão do Mundo viu-se e desejou-se para contrariar esse desgaste.

Foram demasiados erros, demasiada ansiedade e um golpe de misericórdia vibrado por Lewis Hamilton que, definitivamente, entrou na cabeça de Vettel. Claro que nada está, ainda, perdido e a largada pode ser sempre uma bela caixa de surpresas, pois ao lado de Hamilton estará Max Verstappen que, da sua parte, não tem nada a perder. Em 2017 aconteceu o que todos sabem e por isso, nada está perdido para a Ferrari.

Porém, Vettel e Raikkonen vão ter de fazer os melhores arranques das suas carreiras, contar com a ajuda de Verstappen e esperar que algo corra mal aos Mercedes.

Ou então, através da tática, já que quem larga de Ultramacios não tem a certeza se não é forçado a parar mais uma vez e com Hipermacios, não se chega ao fim sem duas paragens. Temos assim que começando com Ultramacios, pode trocar para Macios à volta 24 (arriscado!), quem sair de Hipermacios, pode trocá-los pelos Macios à volta 13 (ainda mais arriscado) e, finalmente, quem sair de Hipermacios, troca-os após 11 voltas por Ultramacios e volta a trocar para Ultramacios à volta 36.

José Manuel Costa/AutoSport