F1: Mercedes e Ferrari juntas nas decisões para o futuro

24/01/2018

As mudanças que a Liberty Media quer impor na F1 vão ser tema de debate durante muito tempo ainda e as negociações não serão nada fáceis, uma vez que parece estar-se a formar um bloco muito forte. Ferrari mostrou o seu desagrado de forma muito clara e veemente, ameaçando abandonar até a F1, caso as ideias da Liberty fossem para a frente.

Dieter Zetsche, Presidente da Mercedes veio recentemente a público afirmar que a sua marca está alinhada com a Ferrari no que diz respeito aos planos para o futuro. Ambas as equipas partilham os mesmos interesses e estão contra a simplificação das unidades motrizes. Zetshe não usa o tom de Marchionne, mas afirmou que a Mercedes pretende ficar na competição, desde que esta mantenha a sua pertinência a nível tecnológico.

Se por um lado a simplificação das unidades motrizes pode ser boa para a F1, baixando os custos e podendo atrair novos parceiros, esta proposta não deixa de ser um retrocesso tecnológico numa modalidade que quer ainda manter-se no topo da evolução automobilística. As unidades motrizes que agora vigoram têm inúmeros aspetos negativos, quer ao nível desportivo quer na componente do espetáculo, mas permitiram uma evolução avassaladora do motor de combustão interno em pouco mais de 4 anos. A necessidade de motores mais eficientes no nosso dia-a-dia encontrou na F1 a plataforma certa para evoluir de forma mais célere e reduzir esse investimento pode ser considerado negativo. Mas não podemos dissociar, no entanto, o fator desportivo e a verdade é que desde 2014 que a F1 tem apresentado bons espetáculos, mas apenas em 2017 tivemos uma equipa capaz de terminar a hegemonia germânica… curiosamente a Ferrari. Mais ainda, esta tecnologia não permite que equipas de meio da tabela encontrem formas de crescer e de ameaçar os “grandes do grid”. Criou-se uma clivagem muito difícil de contrariar.

O Foco das duas equipas é mesmo esse… manter uma hegemonia. A Mercedes já tem os melhores motores e quer continuar a aproveitar os frutos do seu trabalho e a Ferrari já encontrou uma formula que lhe permite chegar ao nível dos Flechas de Prata. Os adversários estão ainda a tentar recuperar terreno e já se sabe que na F1, quando se começa com algum atraso a recuperação é longa e difícil. Ninguém está disposto a abdicar de uma vantagem, mais ainda a que Mercedes e Ferrari possuem (neste momento são as equipas dominadoras e ainda vendem os seus motores a adversários… é quase como ter a chave do campeonato na mão). Do outro lado da barricada está a Red Bull, que já mostrou publicamente o apoio às novas medidas. A equipa procura um novo fornecedor de motores e pode estar inclinada para a Honda, ou até para a Aston Martin, se realmente entrar na F1. Ambos os casos precisam de um “baralhar e dar de novo” para resultar a 100%. E depois há a McLaren que começa a ponderar fazer motores próprios a partir de 2020, caso as mudanças venham mesmo a ser colocadas em prática. No meio desta discussão estão as equipas mais pequenas que necessitam de um motor mais barato para poderem evoluir e não sufocar com a exigência tecnológica (e por consequência financeira) das unidades motrizes. E os campeonatos que não olham para as necessidades dos privados têm tendência a terminar mal (lembram-se do WTCC?).

Estamos então a ver o início de uma guerra negocial que colocará grandes nomes de um lado e de outro da mesa. Quem levará a melhor? Só o tempo o dirá.

Fábio Mendes