F1: Uma nova era na Ferrari prestes a começar

11/09/2018

O dia 11 de Setembro ficará certamente gravado na memória do jovem Charles Leclerc. Aos 20 anos conseguiu realizar o sonho de muitos pilotos que passaram no Grande Circo… ser piloto da Ferrari.

A postura tímida, a humildade e a forma ainda pouco confortável com que ainda lida com as atenções são para já parte da imagem de marca do jovem monegasco. Mas Leclerc começa a ser olhado e admirado pelas suas capacidades em pista. Um piloto rápido, com uma maturidade assinalável para a sua idade e com um potencial tremendo.

O potencial começou a mostrar-se no karts onde o sucesso foi sempre palavra de ordem. De 2008 a 2013 foi evoluindo e crescendo sempre com grande sucesso. Nos monolugares mostrou potencial nos Formula Renault 2.0 onde conseguiu ser vice-campeão (na série Alps). Passou para a Formula 3 europeia em 2015 onde foi quarto e em 2016 ingressou no GP3 onde foi campeão. Leclerc mostrava um potencial tremendo, mas cometia alguns erros que mostravam que precisava de maturar ainda mais antes de pensar noutros voos.

Passou então para a F2 e aí todo o seu talento emergiu e foram-se sucedendo as vitórias e as excelentes exibições que deram inevitavelmente o título ao jovem da Scuderia, A F1 tinha de ser o destino de Leclerc e em 2018 conseguiu o lugar pretendido pela Sauber, agora com laços muito mais estreitos com a Ferrari. Começou de forma titubeante mas desde Baku, onde se deu o “click”, tem mostrado grande velocidade e capacidade. Ainda comete alguns erros, o que é perfeitamente normal. Estamos a falar de um rookie, com muito para aprender.

Mas estamos a falar também de um jovem com uma postura e um talento inegável. De tal forma que fez a Ferrari arriscar num jovem piloto, algo que não acontecia há muitos anos. Não é comum ver a Scuderia arriscar em jovens prodígios, preferindo apostar em pilotos feitos, mas em Leclerc talvez tenham visto algo mais.

A época de F2 em 2017 foi importantíssima para o jovem para amadurecer em pista e mostrar que é capaz de lidar com as dificuldades. A época começou bem com um pódio e uma vitória no Bahrein e uma vitória em Espanha. Mónaco não foi hospitaleira para o “seu menino” com duas desistências (parece ser uma tendência). Em Baku ressurgiria ainda mais forte com uma vitória… quatro dias depois do seu pai, Hervé (também ele ex-piloto), ter falecido, na triste conclusão de uma longa doença. Leclerc mostrou força e capacidade para manter o foco. Curiosamente em 2018 foi também em Baku que conseguiu começar a mostrar todo o seu talento na F1.

Leclerc irá em 2019 para uma equipa onde os erros são escrutinados ao milímetro, com um colega de equipa que estava confortável com a parceria que tinha com o antecessor do monegasco e que terá também de se adaptar a uma nova realidade. Charles terá de lidar também com a esperança que milhões de tifosi depositam nele. É um salto tremendo para o jovem mas, pessoalmente, creio ter sido a decisão certa.

Kimi é… Kimi. Um dos últimos da “velha guarda” com uma atitude despreocupada com os fãs ou a imprensa. Faz o que gosta, como gosta e não tem medo de dizer o que pensa… o que é raro. Tem uma legião de fãs que foi conquistando graças ao seu talento e à sua postura. É impossível não ter respeito pela sua capacidade em pista e por aquilo que traz à F1… à sua maneira.

Mas Kimi Raikkonen é o que vimos este ano… um excelente piloto que já passou a sua melhor fase. Tem talento, regularidade e experiência para dar e vender, mas “no braço” irá sempre ficar um furo abaixo de Vettel. Kimi já não tem a velocidade de outros tempos e ficar com ele na equipa iria apenas atrasar o inevitável processo de renovação e pior ainda, atrasar a evolução de Leclerc. Sai pela porta grande, e vai para a Sauber, provando que se está a borrifar para o que pensam… ele quer é pilotar um F1 e tirar todo o gozo disso, independentemente de ser um carro para lutar pelo título ou pelo top10. E esta atitude, inconcebível para alguns, aumenta ainda mais o respeito que tenho por ele. Além de ir dar um boost tremendo à Sauber, quase que confirma (como se fosse preciso) que a atitude “não quero saber” é mesmo genuína. Vai ser bom ter Kimi por mais algum tempo na F1 e vê-lo terminar uma excelente carreira, onde a história começou.

Leclerc, por seu lado, tem uma carreira inteira pela frente. Imaginamos confrontos duros com Verstappen para breve, com outros talentos como Ocon, Norris, Russell entre outros. É também bom vermos que a Ferrari começa a apostar nos talentos que forma e vermos que a F1 tem um futuro risonho, com grandes talentos a chegar. E é também bom ver que um jovem francófono do programa de jovens da Ferrari, com um talento imenso, conseguiu dar o salto para a F1. Jules Bianchi esteve nesse caminho que foi abruptamente interrompido. Charles Leclerc concluiu o que o seu amigo de infância não pôde concluir. Leclerc subiu gradualmente, não queimando etapas, ao contrário da moda que parecia começar a impor-se, e chegou ao topo. Resta agora lutar e conquistar os restantes sonhos… vencer na F1 e conquistar o título. Tem tudo para o conseguir.