F1: Como a Williams pretende recuperar

06/11/2017

A Williams, outrora uma das grandes potências da Fórmula 1, tendo vindo a ser este ano uma verdadeira deceção. Iniciou a época apostada em perseguir os ‘três grandes’ mas depressa submergiu no segundo pelotão, com ambos os pilotos eliminados logo na Q1 em Marina Bay. Mas Claire Williams e Paddy Lowe têm planos para inverter a tendência.

A formação fundada pela tenacidade de Frank Williams foi uma das grandes potências da categoria máxima do desporto automóvel, sobretudo nos anos noventa, então com motores Renault, tendo o seu avanço tecnológico sido tal, que a FIA se viu obrigada a travar o seu ascendente, proibindo as suspensões geridas eletronicamente – vulgarmente apelidadas de ativas – e a transmissão CVT antes de esta ser estreada em competição, para grande frustração do pragmático Patrick Head. Mas nem isso derrubou a equipa de Grove, que depois de 1993 ainda venceu títulos em 1994, 1996 e 1997. Contudo, em 1996 a verdadeira queda da Williams iniciou-se com a saída de Adrian Newey para a McLaren, prosseguindo no final do ano seguinte, quando a Renault abandonou, deixando Frank Williams e Patrick Head sem motores oficiais até 2000, temporada da entrada da BMW.

Mesmo com os motores bávaros, que chegaram a ser os mais potentes do plantel, a formação britânica não conseguiu recuperar a sua forma conquistadora, falhando os títulos e o divórcio foi inevitável.

A partir de então, a equipa de Grove caiu profundamente, apesar de uma vitória fortuita em 2012 através de Pastor Maldonado, tendo em 2013 figurado no nono lugar do Campeonato de Construtores com uns míseros cinco pontos, batendo apenas a Marussia e a Caterham.

A era turbo híbrida trouxe nova esperança à Williams que nos dois primeiros anos – 2014 e 2015 – assegurou o terceiro lugar no Campeonato de Construtores. No entanto, a falta de resultados dos quase dez anos anteriores infligiu na Williams a perda sucessiva de patrocinadores, o que a enfraqueceu tecnicamente, não tendo hoje os recursos de simulação que Mercedes, Red Bull e Ferrari possuem, acabando também por perder técnicos de topo, que debandaram para estruturas com perspectivas mais aliciantes.

Era, portanto, esperado que a formação dirigida por Claire Williams caísse na classificação quando a Red Bull e a Ferrari resolvessem os seus problemas e até aceitável que a McLaren pudesse suplantá-la, se a Honda conseguisse ultrapassar as suas dificuldades, dado o poderio financeiro destas. Contudo, ser batida de forma consistente e categórica pela Force India era já algo que poucos poderiam imaginar, mesmo sabendo-se da qualidade técnica que existe na estrutura de Silverstone.

Soam os alarmes

Depois de se ter guindado novamente à primeira metade das tabelas classificativas, a Williams voltou, a partir de 2015, a seguir uma deriva de perda, sendo batida pela sua rival de Silverstone que – para além de não ter o apoio direto de um construtor, usa também as unidades de potência Mercedes – e estando este ano a seguir pelo mesmo caminho, mas com a agravante de se ver acossada pela Scuderia Toro Rosso, pela Renault e até pela Haas F1 Team, uma estrutura que está apenas na sua segunda temporada de Fórmula 1.

 

Claire Williams, que tem vindo a assumir as rédeas da equipa com o avançar da idade do seu pai, compreendeu ainda em 2016 que a estrutura de Grove poderia estar em risco de voltar a afundar-se no pelotão e agiu, conseguindo assegurar o concurso de Paddy Lowe, um dos homens por detrás do sucesso dos últimos anos da Mercedes e que se estreou na Fórmula 1, precisamente sob o comando de Patrick Head. “Julgo que muitas das nossas fraquezas ficaram aparentes a meio da temporada passada e não podemos enfrentar mais uma época com os mesmos problemas, portanto, temos completa confiança no Paddy, mas para além disso, contratámos mais técnicos de topo para trabalhar com ele, como o Dirk de Beer, que vem da Ferrari para assumir o controlo do nosso departamento aerodinâmico, assim como outros engenheiros, com quem esperamos inverter esta tendência. Mas como disse, não podemos ter outra temporada como esta”, afirmou a inglesa, que começou na equipa como assessora de imprensa.

O técnico inglês, bem conhecedor das exigências necessárias para que as vitórias possam ser possíveis, tinha antes de mais como objetivo compreender as virtudes e defeitos da Williams. “Como seria de esperar de alguém do calibre do Paddy (Lowe), ele tem um plano e, desde que se juntou a nós em Março deste ano tem estado a realizar uma análise profunda da equipa tanto na fábrica como no que diz respeito às operações de pista para perceber onde estão as nossas debilidades. Temos vindo a realizar esse processo e agora estamos a analisar a forma de alocar os nossos recursos para 2018 para que possamos ultrapassar essas fragilidades”, apontou Williams.

Um dos problemas crónicos dos carros britânicos tem sido as suas capacidades aerodinâmicas, sofrendo nos circuitos em que esta característica é mais exigida, mas este ano Felipe Massa, na equipa desde 2014, e Lance Stroll têm vindo a sentir dificuldades mesmo em circuitos onde anteriormente os carros da equipa estavam à-vontade. Basta recordar a visita ao Red Bull Ring deste ano, em que ambos os pilotos não foram além da Q1, quando há três anos o brasileiro e Valtteri Bottas açambarcaram a primeira linha, o que evidencia bem a queda competitiva que a Williams tem protagonizado.

Mas Lowe sublinha que não são apenas nos aspectos técnicos que a formação inglesa tem que melhorar, uma vez que nem sempre tem concretizado em pista o verdadeiro potencial do FW40. “Estamos desapontados! O carro é mais rápido do que os pontos reflectem. Penso que um dos nossos principais problemas é que não temos vindo a marcar os pontos que a velocidade do nosso carro em pista exigia. Existem diferentes razões. Para além disso, temos visto grandes variações de circuito para circuito. Tem havido pistas, também, em que estivemos aquém do nosso potencial e precisamos de ter um carro que seja performante de uma forma mais consistente em diferentes destinos, esse é o nosso principal foco para o próximo ano”, afirma o técnico britânico.

A palavras de Lowe deixam no ar que, estrategicamente, a Williams não tem tirado o máximo partido das oportunidades, mas coloca algum do ónus nos pilotos, uma vez que Stroll, na sua primeira temporada de Fórmula 1, não tem ainda os recursos para consistentemente explorar o potencial do seu monolugar, ao passo que Massa, no ocaso da sua carreira, já não é o piloto que lhe permitiu lutar pelo título de 2008 até à linha de meta da última corrida. E este é só mais um dos graves problemas da equipa, pois seja qual for a decisão quanto ao segundo piloto de 2018, nunca será uma situação ótima. Pascal Wehrlein, Daniil Kvyat, Robert Kubica e Paul di Resta, nenhum deles é o piloto que a Williams precisava. O que a Williams precisa é de um dos pilotos que estão nas três principais equipas, mas esses são muito difíceis…

Porém, a equipa, terá que ter um monolugar capaz de permitir aos seus pilotos baterem-se pelas posições imediatamente atrás das três grandes e, para isso, terá que melhorar substancialmente a sua capacidade de desenvolvimento. Ao longo da maioria dos Grandes Prémios deste ano que ficou claro que o pacote aerodinâmico introduzido em Silverstone simplesmente não deu ao FW40 o pulo competitivo que a equipa esperava, se é que deu algum, acabando por se ver ultrapassada competitivamente pela Force India e pela Renault, ao passo que a Haas F1 Team e a Scuderia Toro Rosso se aproximarem perigosamente, uma situação que Lowe afirma não ser possível repetir. “Tudo varia de circuito para circuito, mas temos que olhar para a tendência. Estamos a lutar arduamente no meio do pelotão e não criámos qualquer vantagem, na verdade, provavelmente, até perdemos terreno nos últimos meses. Temos que perceber se houve algo que correu mal ou se os outros desenvolveram os seus carros melhor que nós”, apontou o diretor técnico da formação fundada por Frank Williams.

A sua chegada no início da presente temporada não lhe permitiu ter qualquer impacto técnico na campanha deste ano da equipa, tendo Lowe se concentrado em analisar métodos, para além de procurar as áreas menos fortes da estrutura.

Mas para 2018 o dedo do britânico ex-Mercedes far-se-á sentir a todos os níveis, anunciando uma alteração de conceito no projeto. “Vamos fazer alterações substanciais. Há muitas coisas que vamos fazer de uma forma diferente e neste momento estamos muito empenhados nisso. Temos alguns excelentes engenheiros e, alguns deles, vieram de outras equipas nos últimos anos, e existem muitas ideias. Temos muita gente que sabe o que é preciso para vencer e vamos juntar todas as ideias para realizarmos o melhor carro que pudermos. Existem algumas áreas cuja filosofia será alterada”, apontou Lowe, que avisou: “Temos que melhorar em todas as áreas, é essa a natureza desta competição. Temos que bater as outras equipas nas áreas mais importantes. Para isso é preciso talento, tempo e dinheiro. O problema é que nenhuma equipa considera ter o suficiente destes elementos, querem sempre mais. Temos um conjunto de recursos e o nosso trabalho é fazer o máximo que podemos com eles. Tem a ver com eficiência. Penso que que podemos ser mais eficientes do que temos sido até agora. Se criarmos sucesso, isso atrairá mais recursos para melhorarmos ainda mais. Essa é a fórmula para o desenvolvimento nos Grandes Prémios”.

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