GP da Rússia: A última vida de Sebastian Vettel para evitar o “Game Over”

27/09/2018

As derrotas experimentadas nos últimos Grande Premio deixaram o piloto da Ferrari numa posição delicadíssima. Se estivesse a jogar na consola diria que Vettel tem uma última vida para evitar o “Game Over”.

Não se conhece a Sebastian Vettel dotes de profeta ou de ter algum dom divino de adivinhação, mas as suas palavras depois do final da qualificação em Monza e antes do início da corrida noturna de Singapura soaram a profecias.

“Luto não contra dois, mas contra três carros” disse em Itália, “Nós próprios somos os nossos piores adversários” disse antes da prova asiática. A verdade é que em Monza a Ferrari perdeu depois de mais um erro de avaliação de Vettel e em Singapura, foram confrangedoramente batidos por tropeçarem nos cordões dos seus sapatos. Junta-se a isto tudo a asneira no GP da Alemanha e percebe-se que a Ferrari não soube ganhar este campeonato.

Que, diga-se em abono da verdade, ainda não verteu em favor de Lewis Hamilton, apesar da larga vantagem que o britânico possui á chegada a Sochi.

Será, pois, o Grande Prémio da Rússia o palco onde Sebastian Vettel terá de provar ser melhor que Lewis Hamilton, provar que é um piloto psicologicamente capaz de enfrentar a adversidade e, sobretudo, será na pista de Sochi ali juntinho ao Mar Negro que Vettel vai usar a sua última ficha antes do “Game Over”.

E não vale a pena estar a discutir se o Ferrari é melhor que o Mercedes, ou vice-versa muito simplesmente porque quem percebe da coisa já disse que o carro de Maranello é mais potente e mais versátil que o monolugar alemão, apesar do enorme salto competitivo que a Mercedes deu depois da Alemanha, sobretudo, na gestão dos pneus. Ou seja, a Ferrari e Vettel deveriam ter aproveitado as oportunidades de “esmagar” a concorrência e cavar o fosso do seu lado para conquistar o título. Mas erros da equipa e do piloto acabaram por abrir uma vala que começa a parecer intransponível mesmo para um “Cavalino Rampante”!

Contas feitas, Lewis Hamilton tem 40 pontos de avanço sobre Sebastian Vettel e faltam seis provas para o epílogo do campeonato, ou seja, há 150 pontos que o piloto da Ferrari tem de arrebatar sem perder um único ponto pelo caminho, chegando ao final do Gp do Abu Dhabi com dois pontos de vantagem sobre Hamilton, caso este seja sempre segundo. Mas, o demónio está nos detalhes…

Sochi nunca foi favorável à Ferrari e a Mercedes ganhou sempre desde que em 2014 a pista desenhada na cidade que albergou os Jogos Olimpicos de Inverno entrou para o calendário do Mundial de Fórmula 1. É verdade que o atual SF71H até pode ter alguma vantagem num circuito com muitas curvas em ângulo reto e muitas zonas que requerem tração e potência. Mas, lembram Singapura?! A Ferrari era favorita e Hamilton sacou uma “pole position” e ganhou sem espinhas.

Se tivesse a oportunidade (leia-se o dinheiro) para fazer uma aposta para o vencedor do GP da Rússia, estaria inclinado para apostar na Ferrari. Porém, nesta altura do campeonato, os carros estão no máximo de desenvolvimento, estão muito semelhantes e, sobretudo, são os detalhes, sempre o demónio dos detalhes, a promover as diferenças.

A pista de Sochi é sui-generis pelo facto de ser quarta mais longa do campeonato (atrás de Spa, Silverstone e Baku) com 5853 metros, mas também por utilizar algumas estradas públicas e serpentear em redor de equipamentos que ficaram dos Jogos Olimpicos. São 17 curvas, 12 para a direita e apenas seis para a esquerda no sentido dos ponteiros do relógio. Pontos de destaque: a curva 3 (ou curva Omega) cuja saída é feita a quase 300 km/h ou ainda a travagem no final da reta da meta onde se chega a mais de 343 km/h.

Afinar o carro para a pista de Sochi não é complicado, já que aqui não se coloca a questão do desgaste dos pneus. Por isso, muita carga aerodinâmica e uma frente com um ângulo de ataque agressivo para aliviar a sobre viragem esperada nas curvas de 90 graus. A travagem será muito importante, nomeadamente, a estabilidade.

A Mercedes sempre ganhou em Sochi, mas já perdeu este ano onde era suposto dominar e venceu onde deveria estar acabrunhada. O mesmo sucede com a Ferrari e para que as coisas ficam ainda mais niveladas, a previsão meteorológica para o fim de semana em Sochi indica dias soalheiros, sem chuva e com temperaturas amenas abaixo dos 25 graus. Portanto, não há vantagem para ninguém neste particular.

Como disse acima, tudo se irá decidir nos detalhes, na estratégia e na qualificação. Esta será muito importante porque as oportunidades de ultrapassagem esgotam-se na longa reta da meta e sair na frente pode ser decisivo. Por isso, a qualificação será decisiva para o desfecho da corrida e aí Hamilton tem sempre um nadinha mais para dar que Vettel. Em Sochi não se vão colocar os problemas de gestão de pneus pois o asfalto é benigno e suave, e como referi acima, as temperaturas não vão ser demasiado elevadas durante o fim de semana. Portanto, as escolhas de cada equipa não vão vincar tanto a estratégia como aconteceu em Singapura.

A RedBull regressa ao seu papel de “melhor dos outros” pois na pista de Sochi o carro de Verstappen e Ricciardo não tem a mesma oportunidade de esconder o défice de potência face a Mercedes e Ferrari. Sendo assim, para sonharem com o pódio, holandês e australiano tem de acreditar que algum dos Mercedes ou Ferrari vai ter problemas. Resta saber se a RedBull, sabendo dessa dificuldade em espremer algo deste limão russo não vai aproveitar para penalizar e refrescar a alocação de motores para tentar fazer algo que resulte no GP do México, talvez a última oportunidade da equipa de Milton Keynes regressar ás vitórias em 2018.

No meio do pelotão, Racing Point Force India e Renault deverão manter-se na crista da onda – esperando os homens da nova equipa que Ocon e Perez se entendam – pressionados pela Haas. Mais longe devem ficar McLaren e Toro Rosso, embora esta seja uma pista que serve às mil maravilhas ao talento de Fernando Alonso. A Sauber deverá manter o registo, o mesmo se passando com a Williams que, mesmo assim, deverá sofrer menos devido às temperaturas mais amenas.