GP Itália F1: Como a Ferrari perdeu mais uma corrida

03/09/2018

Claramente, a Ferrari perdeu a vitória em Monza por culpa sua face a uma Mercedes resiliente e um Lewis Hamilton que não desperdiça qualquer migalha que lhe seja dada. Mattia Binotto não merecia que um alemão que treme sob pressão esteja a jogar pela janela um título que o melhor carro do plantel merecia reclamar.

Muito se poderá dizer sobre o que se passou em Monza no passado domingo e não me deixo toldar pelos comentários nada independentes que soltam loas à Hamilton e cães a Vettel. Porém, o alemão cometeu um erro de palmatória e a Ferrari foi “comida” pela Mercedes no que toca á tática. O que estava longe de poder ser admissível depois de analisados os tempos dos treinos livres e a qualificação: a Ferrari estava na frente em ritmo de corrida – com Hamilton perto, é verdade – e bloqueou a primeira fila da grelha de partida com Kimi Raikkonen a rubricar o recorde do circuito e a volta mais rápida de toda a história da Fórmula 1, ficando os Mercedes algo longe. Perante este cenário, apostaria em outro desfecho que a vitória, dez anos depois de Fernando Alonso, de um Ferrari?!

Tudo se desmoronou quando Sebastian Vettel teve mais um ataque de pânico após a largada. Arrancou bem, quase passava pelo Kimi Raikkonen, mas teve de se vergar perante o finlandês. E tão preocupado estava em passar, imediatamente, pelo seu colega de equipa que nem se lembrou de Lewis Hamilton.

O piloto da Mercedes, felino, aproveitou o buraco da agulha, travou mais tarde e ergueu os ombros à saída da Variante de La Roggia, perante um alemão que ficou com o cérebro congelado quando viu o Mercedes W09 ao seu lado e insistiu em evitar a ultrapassagem.

Não só não conseguiu como ficou virado ao contrário e sem uma das peças laterais do carro, tornando-o num automóvel desequilibrado, embora rápido. O problema com o Toro Rosso de Brandon Hartley foi um sopro de sorte para Vettel que veio às boxes e trocou a frente do carro e os pneus optando pelos macios. Ficava claro que teria de parar mais uma vez e que a recuperação nunca seria completa.

Bom, derrubado um obstáculo, Lewis Hamilton ficou a braços com um Kimi Raikkonen muito coriáceo que depois de se ver ultrapassado pelo Mercedes, respondeu na mesma moeda e conseguiu ficar na frente, mas sempre com a diferença entre ambos a ficar abaixo do segundo e meio. A dada altura, parecia que o esforço de Hamilton esbarrava com a incapacidade do motor Mercedes em colocar o britânico encostado à caixa de velocidades do Ferrari. Foi aqui que a Mercedes e a Pirelli “tramaram” o pobre do Kimi Raikkonen.

Não bastava já a ampla discussão que alastrava nas redes sociais como fogo em pasto seco depois do desaguisado entre Vettel e Hamilton, eis que a Mercedes parecia ter simulado uma paragem nas boxes. Algo que o regulamento (artigo 28.12) proíbe ao dizer que os mecânicos só podem estar na linha de boxes em caso de paragem do piloto.

Mas a verdade é que a Mercedes enviou os mecânicos para as suas posições. Erro? Não necessariamente, pois a única informação que os mecânicos tinham é que deveriam fazer o contrário da estratégia de Kimi Raikkonen e, na verdade, o finlandês entrou nas boxes na mesma volta em que os mecânicos da Mercedes “saltaram” para a box de Lewis Hamilton (volta 20). E porque parou tão cedo Raikkonen?

Inexplicavelmente, aconteceu tudo ao contrário de Spa! Os Mercedes não tinham problemas de desgaste de pneus – Bottas fez um longuíssimo turno com os supermacios – já os Ferrari faziam sofrer as borrachas da Pirelli. No caso de Vettel, devido aos seus esforços de recuperação, no caso de Raikkonen pela pressão de Hamilton e, posteriormente, pela jogada de mestre da Mercedes.

Quando os homens da equipa alemã viram parar Raikkonen, arrepiaram caminho na troca de pneus de Hamilton e, sobretudo, de Valteri Bottas. Ofereceram ao campeão do mundo, 12 voltas a menos nos pneus macios com que Hamilton iria concluir a corrida e, ainda, um Bottas de excelente qualidade que atrasou Raikkonen ao ponto de Hamilton ter recuperado mais de seis segundos em menos de uma mão cheia de voltas.

O finlandês da Ferrari foi destruindo os pneus – as escorregadelas eram mais que evidentes e o uso dos corretores um martírio para os pneus da Pirelli – que começaram a criar bolhas. E quanto mais escorregava, mais bolhas iam surgindo e ficava claro que Lewis Hamilton tinha a vitória ao seu alcance.

Raikkonen foi-se defendendo, mas os pneus já estavam, literalmente, nas lonas e com melhores borrachas e um carro bem mais veloz que durante os treinos livres – bem diziam os engenheiros da Mercedes que o dia de sábado seria longo… – Hamilton ultrapassou Raikkonen e ganhou uma corrida que, estava escrito, pertencia à Ferrari.

Hamilton chegou ao final com os pneus destruídos, mas as 12 voltas a menos face aos Pirelli do Ferrari de Raikkonen, foram decisivas para que o britânico vencesse na casa da Ferrari. Uma vitória que foi conquistada com muita estratégia e uma ajuda preciosa de Vallteri Bottas, numa jogada de equipa que pode ser entendida como menos limpa ou com menos lisura, mas que faz parte dos recursos que uma equipa tem para chegar aos seus objetivos.

A realidade é simples: a Ferrari tem, e tinha em Monza, o melhor carro, tinha melhor andamento que os Mercedes, mas foi derrotada por uma inexplicável falta de calma de Vettel e algum atabalhoamento tático da Ferrari, incapaz de oferecer a Raikkonen uma estratégia que lhe permitisse ficar na frente de Hamilton. Contas feitas a tudo isso, Hamilton estava contar chegar a Singapura, pelo menos, com 9 pontos de avanço para Vettel, desembarcará na capital asiática com 30 redondos pontos de vantagem sobre o alemão da Ferrari quando faltam sete corridas ate final do campeonato.

José Manuel Costa/AutoSport