Markku Alén e Hannu Mikkola recordam “Grande Prémio de Sintra de 1978”

05/11/2017

A história está vista, e revista, mas há distância há sempre pormenores que é possível recuperar. Falamos da fabulosa luta que em 1978 apôs Markku Alén com Hannu Mikkola, na Noite de Sintra, naquela que foi uma das mais belas páginas da história dos ralis. O triunfo foi para Alén, após uma noite épica que chegou a ser apelidada de “Grande Prémio de Sintra”, já que a luta ao segundo travada com Hannu Mikkola era muito mais própria de uma prova de velocidade do que de ralis. Recentemente, entrevistámos Mikkolla e conversámos com ele relativamente a esse episódio. O ano passado, fizemos o mesmo com Markku Alén. Aqui ficam os dois depoimentos…

“Antes de partir para a última etapa, não tinha muita esperança de conseguir passar o Alén. Estava a 11 segundos do Markku” começou por dizer Hannu Mikkola. “Mas todos sabíamos que o Escort era menos rápido que o Fiat em asfalto. Lembro-me que, ao início da noite, quando saí do quarto do Hotel Estoril Sol e enquanto descia no elevador, entrou o chefe da Fiat, Daniele Audetto, que me disse: “Esta noite, vamos aniquilar a Ford!”. Eu sorri e disse: “Ok!” A etapa começou e foi a luta intensa que todos sabemos. À medida que o fim se aproximava, e à semelhança do que a Fiat fez, nós íamos tirando todas as peças dispensáveis do Escort, para o tornar mais leve. A única vez que estive à frente do Markku foi precisamente antes do último troço, em Sintra. Foi muito frustrante o que aconteceu depois. Ainda hoje não sei o que estava na parte interior da curva e não sei em que bati. Certo é que furei e,
infelizmente, não pude lutar por uma vitória que, confesso, quando iniciei aquela última passagem em Sintra, achei que estava no bolso”, recordou Mikkola.

Quanto a Markku Alén: “Antes de partir para o último troço, a equipa havia tirado tudo o que não fazia falta, para reduzir o peso do carro. Pneu sobressalente, peças desnecessárias, e até a gasolina foi reduzida para a quantidade estritamente necessária para fazer o troço. Penso que quando cheguei ao final, não devia ter uma única gota no depósito! Eu queria ganhar e era nisso que pensava, com a máxima concentração. Tínhamos estado durante quatro rondas a lutar pela vitória; ora ganhava alguns segundos, ora perdia e assim chegámos ao último troço que, para mim, se tornou uma espécie de casino: ou ganhava ou perdia. E para ganhar, só havia uma maneira: fazer o troço de Sintra completamente a fundo. Arrisquei tudo e ganhei. Ao fim de cinco dias de prova estava exausto. Lembro-me de ir, depois, com a equipa ao English Bar em Cascais e, após o jantar estava tão cansado que adormeci com a cabeça apoiada nos braços. Era a época dos ralis sem direção assistida…” recordou Markku Alén.