Motores e orçamentos: Que caminhos para a Fórmula 1?

16/11/2017

A F1 passa por uma fase complicada, no que diz respeito às decisões que devem ser tomadas no futuro. 2021 marcará uma nova era na F1, que se quer mais apelativa para os fãs e por conseguinte para possíveis investidores.

Os aspetos mais destacados e já repetidamente falados, que irão ser alvo de mudanças, são a parte tecnológica (os motores) e a financeira (teto orçamental).

Começo pelos motores, que para mim são uma falsa questão. O leitor poderá ter uma visão diferente, mas creio que estas unidades motrizes são mais parte da solução do que do problema. São peças de engenharia fenomenais e merecem estar na F1, que ainda é a montra de tecnologia que se pretende. Pode dizer-se que o futuro está nos elétricos e que a F1 neste momento deve ser apenas entretenimento, mas há mais dúvidas do que certezas quanto aos elétricos e a F1 ainda deve manter o seu papel na inovação da industria automóvel.

E só assim faz sentido as marcas investirem recursos. Estes motores têm dois problemas… a falta de “alma”, com um som aborrecido que não arrepia, e os custos. Quanto ao primeiro problema, creio que os engenheiros podem (e devem) encontrar soluções para isso – basta aumentar as rotações, sendo que logicamente também teriam de mexer no fluxo de combustível.

Os custos são de facto um problema real. O custo de um motor atual ultrapassa o dobro do custo dos velhos V8 e tal tornou-se num fardo difícil de suportar para as equipas. Mas compensará um retrocesso quando a tecnologia existente irá inevitavelmente ficar mais barata? Valerá a pena mudanças profundas nos motores, numa fase em que as performances estão a começar a convergir?

Para Ross Brawn a prioridade será sempre tentar encontrar um motor sustentável e que permita a todas as equipas terem hipótese de chegar ao topo. Mas tenho dúvidas que a troca permita atingir o que se pretende. A performance dos motores finalmente começa a convergir para níveis equiparados, pelo menos entre a Mercedes e a Ferrari, pois a Renault está ainda um pouco mais longe e a Honda nem se fala.

Não restam dúvidas que se a F1 fosse emocionante, com três ou quatro equipas a lutar de igual para igual, que a questão dos motores não se colocava. Brawn disse que os motores não conseguiram entrar no ‘imaginário’ dos fãs. Eu acredito que se as corridas fossem interessantes todos elogiariam os motores. Apenas precisam de um pouco mais de sal (ou som). Quanto à parte dos custos, a F1 gera dinheiro mais que suficiente para proporcionar condições iguais no fornecimento às equipas.

A outra parte do puzzle são os orçamentos das equipas. É sabido que as equipas grandes gastam desmesuradamente e Brawn dá um exemplo muito interessante: A Mercedes é a equipa que gasta mais no paddock e com isso é a mais rápida. O forte investimento levou a resultados. Mas quando os resultados não forem tão bons, a equipa terá a tentação de investir mais para se manter na frente e assim justificar a enormidade que já foi gasta. Cria-se um ciclo vicioso perigoso que pode acabar com a equipa. Pelos vistos são as próprias equipas que querem que esse controlo sobre o que se pode gastar seja feito, mas é mais fácil convencer a Mercedes que domina desde 2014 do que a Ferrari, Red Bull ou McLaren que estão com sede de vitórias. Do lado oposto da barricada está a Force India, desejosa de mostrar que com orçamentos iguais consegue bater o pé aos grandes.

O grande problema estará sempre na negociação das limitações dos orçamentos e como impor esses limites. O Grande Circo vive de egoísmos que leva as equipas a negarem propostas apenas porque o seu instinto de manter uma vantagem que possuem não lhes permite ver todo o cenário, o que irá complicar as negociações.

O cerne da questão é que até agora as equipas foram fazendo as regras ao seu gosto o que nos trouxe até este ponto. Será que a mesma forma de pensar das equipas tirará a F1 desta situação? Dificilmente. A Liberty, e especialmente Brawn, tem um papel fulcral nas decisões que se irão tomar. Serão capazes de agradar a gregos e troianos, e apresentar no final uma F1 com um grid de carros competitivos, com vários candidatos à vitória tudo isto com custos razoáveis?

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