O Lexus mais vitorioso

10/12/2017

No início da época do International GT Open tínhamos um misão quando chegámos ao Estoril. Escolher um carro para fazer um trabalho. Escolhemos o Lexus RC F GT3, era a novidade, e a ‘coisa’ correu bem. Não é muito habitual suceder quando se defrontam carros bem mais ‘rodados’, mas o feito do novo Lexus RC F GT3 foi notável, já que a sua estreia europeia ficou marcada por triunfos logo nas suas duas primeiras corridas

Curiosamente, nessa altura, em conversa com um dos responsáveis máximos pelo projeto, este mostrou-se muito renitente em apontar objetivos para esse fim de semana que se avizinhava: “Faço um prognóstico depois da primeira qualificação…” atirou. Bom, nem o próprio acreditava ser possível, mas a verdade é que o Lexus RC F GT3 #54 da Emil Frey Racing no sábado e o #55 da Farnbacher Racing no domingo deixaram bem claro qual foi o carro mais forte em pista. Foi chegar, ver e vencer.

Quando receberam uma mão cheia de jornalistas portugueses na motorhome da Farnbacher Racing no início do fim-de-semana do International GT Open no Autódromo do Estoril, os responsáveis da Lexus estavam bastante prudentes no seu discurso. Era percetível que acreditavam no produto que tinham em mãos, mas preparavam-se para um fim-de-semana cheio de incógnitas e não entraram em grandes euforias. Certamente não acreditariam, se lhe disséssemos que iriam regressar a casa com dois triunfos no bolso quarenta e oito horas depois.

Estávamos no início de 2014, quando a Toyota Racing Development (TRD), no Japão, recebeu luz verde para avançar com o projecto GT3 que seria apresentado ao público pela primeira vez no Salão Automóvel de Genebra no mesmo ano. Porém, daí até ao primeiro triunfo passaram dois longos anos. A primeira versão do RC F GT3 não saiu aquilo que os engenheiros japoneses esperavam. Mas tal como diz o velho provérbio japonês – nana korobi ya oki (cai sete vezes e levanta-te oito), o departamento técnico voltou em massa para os gabinetes para produzir um carro bastante diferente da primeira versão.

“A Toyota tomou a decisão de avançar com este carro para a categoria GT3 depois do fim da categoria GT1”, explica Tsutomu Nagashima, o chefe de projecto, que marcou presença no Estoril para a gloriosa estreia no International GT Open. “A Toyota ambicionava fazer um GT1, mas a categoria morreu, e imediatamente a Toyota decidiu avançar com o GT3. Construímos o primeiro modelo protótipo e encontramos várias dificuldades. Optámos por fazer um novo design e um ano e meio de testes depois terminamos este design que agora podem ver”.

Passos medidos
Apesar de ser presença regular nas pistas 1999, a marca Lexus nunca teve uma plataforma global a nível mundial no que respeita ao desporto motorizado. Como tal, os responsáveis da marca têm sido bastante cautelosos a gerir este projecto e só o fizeram, quando se sentiram confortáveis em avançar para as pistas. Este ano seis RC F GT3 competiram pelo mundo fora: dois nos EUA, pela equipa oficial 3GT Racing, dois no Japão, pelas equipa LM Corse na categoria GT300 do campeonato Super GT e, por fim, na Europa, mais precisamente no International GT Open, um pela Farnbacher Racing e outro pela Emil Frey Lexus Racing, sendo que esta última foi terceira no campeonato, e colocou um os seus pilotos, Albert Costa e Philipp Frommenwiler no top 3 do campeonato.

“Este foi um ano de aprendizagem para toda a estrutura, até porque o Japão teve que enviar pessoas e recursos para a Europa e para os EUA, mas no próximo ano esperamos ter mais carros a competir”, afirma Nagashima-san.

A Lexus quer entrar no ultra-competitivo mercado dos GT3 e os dirigentes da marca não escondem que este é um projecto direccionados a equipas-cliente. “Nós estamos no princípio deste projecto, mas queremos crescer e ter uma presença forte como a Mercedes-Benz, Audi ou BMW”, acrescenta Loic David, responsável pela TMG, em Colónia, pelo projecto, também ele presente no Autódromo do Estoril.

Minha querida homologação
Segundo os requisitos da FIA para a categoria GT3, um construtor deve produzir e vender 20 carros num período de três anos. A Lexus espera atingir este número em breve para completar a homologação do carro. “No mês de Janeiro nós estivemos em Ladoux, na pista de testes da Michelin, onde o carro foi oficialmente homologado pela FIA. Neste momento o RC F GT3 está autorizado a competir em todos os campeonatos GT3 do mundo, desde os campeonatos da Tailândia ou Austrália, até ao Blancpain GT Series”, clarificou David, um ex-quadro da defunta equipa de Fórmula 1 da Toyota.
Se a dobradinha no International GT Open foram os primeiros triunfos “a valer” do Lexus, este carro tem muito mais para contar nas pistas do que aparenta. Apesar dos primeiros testes não terem sido animadores, bem longe disso, o Lexus foi visto a competir pela primeira vez no Super GT em 2015. No mesmo ano, realizou algumas provas do campeonato alemão de resistência do VLN – disputado integralmente no Nürburgring Nordschleife – inscrito na categoria SPX, por não ter à época a ambicionada homologação FIA. A estreia do Lexus RC F GT3 no topo do pódio acabou mesmo por acontecer no velho continente em 2016. Os irmãos Mário e Dominic Farnbacher venceram, com alguma surpresa, no mês de Outubro uma das provas do campeonato alemão de resistência do VLN. Esta foi a primeira vez que um construtor asiático triunfou uma corrida da competição que desafia a rudeza do “Inferno Verde” e que tradicionalmente é dominado pelas marcas teutónicas. “O ano passado fizemos uma corrida na Europa, a VLN9, e vencemos! Nós não esperávamos isto. Também não queremos que as pessoas pensem que vencemos sempre…”, rematou David.

Um carro de corridas
Nascido também com o intuito de reforçar a sua imagem global de marca de veículos de alta performance junto a um público crescente de entusiastas de automobilismo, o RC F GT3 germina no país do Sol Nascente. “Os carros são construídos pela TRD no Japão, incluindo o motor – um V8, 5.4-litros, com um restritor de 38mm, e que debitará cerca de 570 cavalos”, explica o engenheiro chefe, que realça que este carro, que pesa cerca de 1,300kg, também tem vários componentes iguais às versões de estrada. “Por exemplo, temos que usar o bloco de motor e cilindro do motor original. São coisas que não mudamos, tal como o chassis, que é igual ao da linha de produção”. Para caixa de velocidades, a Lexus escolheu uma fiável X-Track sequencial de seis velocidades, e para amortecedores, elegeu uns da marca Öhlins, como tinha feito a rival Nissan para o seu GT3.

A aerodinâmica do Lexus é bastante requintada e foi uma das áreas em que foram colocados maiores recursos, até porque é uma zona onde o construtor nipónico se sente particularmente bem, ou não fosse campeão do hiper-competitivo campeonato japonês Super GT na classe rainha, a GT500.