Quando os astros se alinham: as vitórias surpresa na Fórmula 1

15/03/2018

Vivemos num mundo onde a lógica vai imperando e a Fórmula 1 não escapa a essa ditadura. No entanto, ocasionalmente, alguns resultados desafiam a razão, contrariando tudo o que era esperado. Junte-se ao inesperado a estreia de uma equipa improvável e temos verdadeiros episódios que marcam o folclore dos Grandes Prémios.

Para uma equipa de Fórmula 1, depois de conceber um carro competitivo, o objectivo prioritário passa por reduzir o número de variáveis ao longo de um fim de semana de corridas, de modo a que possa explanar completamente o potencial dos seus monolugares e, dessa forma, alcançar o melhor resultado possível. Hoje, todas as estruturas presentes no mundo dos Grandes Prémios possuem poderosas ferramentas de simulação, que lhes permitem, muitas vezes em tempo real, analisar quais os cenários que se abrirão na eventualidade de terem que antecipar uma paragem nas boxes, por exemplo. Mesmo no passado já havia formas de tentar limitar surpresas desagradáveis, ainda que de uma forma mais empírica e menos científica, ao contrário do que acontece atualmente.

Ainda assim, e mesmo com todos os planos realizados por estrategas para inúmeras eventualidades, ao longo de 67 anos de existência da Fórmula 1 foram diversos os capítulos em que se assistiu a vencedores improváveis, que desafiaram todas as probabilidades e toda a lógica que, apesar de tudo, reina num mundo que na sua essência é de paixão – o grande paradoxo do automobilismo. Talvez a última grande surpresa tenha sido o triunfo do errático Pastor Maldonado que, quando todos esperavam que cometesse um dos seus habituais erros, ainda por cima sob pressão de Fernando Alonso, liderou do semáforo até à bandeirada de xadrez, conquistando a sua primeira, e única, vitória, e a 114ª e, para já, última da Williams.

Mas, como demonstram os números, a formação de Grove tinha já provado profusamente o sabor embriagante das vitórias, o que não emprestou ao triunfo do venezuelano aquela sensação de evento marcante, como outros verdadeiramente inesperados que elevaram ao panteão dos vencedores equipas que nunca antes tinham subido ao degrau mais alto do pódio, que, em alguns casos, nunca a tal coisa aspiraram, e que ficaram reduzidas a esse sucesso, muitas vezes fruto das circunstâncias. Porsche, Anglo American Racers, Penske, Shadow, Stewart, BMW Sauber e Toro Rosso encaixam nesta categoria – as equipas que têm um triunfo solitário. Em todos os casos as equipas que ditavam leis em cada um dos períodos falharam por um motivo ou por outro de forma clamorosa, mas, ainda assim, para poderem ascender ao degrau mais alto do pódio cada uma destas sete equipas teve que realizar o seu trabalho, e bem, e evitar os erros daquelas que, em teoria, eram mais fortes. No essencial, menorizar os feitos delas será sempre injusto, uma vez que não basta estar no sítio certo no momento certo – é preciso também agarrar as oportunidades com as duas mãos e não a deixar escorregar por entre os dedos.

DE QUEM SERÁ A PRÓXIMA?
Presentemente, de todas as estruturas a competirem na Fórmula 1, apenas uma nunca conseguiu vencer – a Haas F1 Team, que tem apenas duas temporadas – mas se levarmos em consideração as mudanças de identidade, a Force India é a restante que também nunca teve a oportunidade de ver um dos seus pilotos subir ao degrau mais alto do pódio.

O mais próximo que já esteve desse feito até agora foi no Grande Prémio da Bélgica de 2009. Num fim de semana sem grandes alterações meteorológicas, Giancarlo Fisichella arrancou para a corrida da pole- position, mas acabou ultrapassado por Kimi Raikkonen, graças ao KERS da Ferrari, que permitiu que o finlandês vencesse a sua única prova da temporada, apesar do italiano ser o mais rápido dos dois, como demonstra a distância a que terminou do ‘Iceman’ – menos de um segundo. Nas últimas temporadas a formação de Silverstone, que nasceu como Jordan, tem sido a que mais próxima tem estado das três equipas de ponta – Mercedes, Ferrari e Red Bull – mas apesar da feroz competição entre estas, e de alguns problemas de fiabilidade da equipa de Milton Keynes, em 2017 nenhum dos pilotos da Force India subiu ao pódio, tendo sido Lance Stroll, em Baku, o único a furar o monopólio das três grandes.
O Grande Prémio do Azerbaijão foi a grande oportunidade de 2017 para assistirmos a uma vitória improvável, uma vez que foram diversos os pilotos de ponta que erraram e/ou tiveram problemas, mas os dois pilotos da formação de Vijay Mallya desentenderam-se, criando a oportunidade para Felipe Massa, em Williams, vencer na forma de uma bandeira vermelha para limpar a pista dos destroços dos carros de Sergio Pérez e Esteban Ocon. O brasileiro acabou por abandonar devido a um amortecedor partido, ficando a vitória nas mãos de Daniel Ricciardo.

Poderá em 2018 a Force India conquistar o seu primeiro triunfo? Como nos episódios que contamos de seguida, tudo terá que correr bem aos homens de Silverstone no dia em que tudo correr mal às três grandes e, ainda assim, na próxima temporada terá seguramente a oposição da McLaren e da Renault, também elas sedentas de triunfos…

Difícil? Impossível? Talvez, mas são os resultados que desafiam a lógica que fazem destes episódios únicos e os tornam parte do folclore da Fórmula 1. Nos próximos dias, vamos aqui recordar vários Grandes Prémios da história da Fórmula 1 em que a lógica… foi uma batata.