Os capacetes são como os diamantes

25/03/2017

Poucos objetos adquirem tamanha conotação com um piloto como o seu capacete. Ao longo da História, foram vários os designs que se tornaram famosos pela originalidade e sobretudo pela associação a campeões das duas e quatro rodas

Além de ser um item de segurança crucial numa atividade tão perigosa como o desporto motorizado, o capacete adquiriu um estatuto que transcende a sua utilidade prática na competição. Em disciplinas onde o capacete está visível, como os monolugares ou o motociclismo, o capacete é uma das formas mais imediatas de identificar um piloto em pista, sobretudo quando os automóveis e motos de competição de uma mesma equipa são praticamente iguais. Seja nas bancadas ou numa televisão HD, não é fácil distinguir o número de corrida ou mesmo o capacete de um piloto a alta velocidade, o que faz com que este objeto tenha adquirido um estatuto de ícone dentro do próprio desporto, caracterizando o estilo individual e até a história de cada piloto. Alguns capacetes são autênticas peças emblemáticas da História, replicadas ao detalhe por fabricantes modernos e adquiridas a preços consideráveis por entusiastas conhecedores. Entre todos, o capacete de Ayrton Senna é talvez o mais popular entre os adeptos da Fórmula 1, mas as versões multicor de Valentino Rossi são um dos grandes fenómenos comerciais do motociclismo contemporâneo, capitalizado de forma inteligente pelo piloto italiano e pela AGV. Conheça a história e as ‘estórias’ de outros capacetes que conquistaram a imortalidade.

Graham Hill

HillVerdadeiro ‘gentleman’ entre a nata dos campeões do Mundo, Graham Hill foi o único piloto a ganhar o Mundial de Fórmula (por duas vezes), as 500 Milhas de Indianápolis e as 24 Horas de Le Mans. Contudo, a história do seu famoso capacete está ligada a outro desporto favorito na juventude: o remo. Antes de ser piloto, Hill era atleta do Clube de Remo de Londres (London Rowing Club) e incorporou o design e as cores do clube londrino no seu capacete – uma base azul escura com pequenas listas brancas que representam os remos. Quase meio século depois, o filho Damon foi campeão do Mundo em 1996 com o mesmo design. Sobre o remo e a Fórmula 1, Graham Hill costumava brincar dizendo que só era realmente bom em desportos onde pudesse estar sentado… até virado de costas.

Giacomo Agostini

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Muito antes de Roberts, de Schwantz ou de Rossi, Giacomo Agostini foi a primeira verdadeira ‘superstar’ do motociclismo mundial. Filho de um rico industrial de Brescia, ‘Ago’ tornou-se no recordista de títulos mundiais nas duas rodas – 15 –, formando um ‘dream team’ italiano com as motos do Conde Agusta. Para compor o simbolismo, o capacete de Agostini era feito pela italiana AGV e ostentava a famosa ‘tricolore’, com um design simples mas que se tornou um sucesso de vendas até em edições modernas.

Emerson Fittipaldi

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O bicampeão mundial de Fórmula 1 tinha um dos capacetes mais famosos da década de 70. Criado por Sid Mosca, o capacete do membro mais ilustre do clã Fittipaldi tinha uma base azul escura e uma faixa alaranjada que se estendia desde o topo do visor até à parte traseira e às laterais. Fittipaldi fez pequenas adições ao design quando competiu no campeonato CART, onde foi campeão em 1989 com a Penske. O seu capacete terá influenciado Gilles Villeneuve, cujas cores eram parecidas com as do brasileiro mas com o famoso design em forma de V.

Nelson Piquet

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O pai de Nelson Piquet era médico e ex-ministro da Saúde mas queria que o filho fosse tenista profissional. Para isso chegou a oferecer-lhe uma bolsa numa escola de ténis em Atlanta, nos Estados Unidos. Nelson até era um bom tenista mas não achava o desporto suficientemente excitante. Quando se tornou piloto de corridas, escolheu o design de uma bola de ténis estilizada em tons de vermelho vivo sobre uma base branca. A aparência final de gotas vermelhas tornou-se famosa com o nome ‘Piket’ usado nos primeiros anos pelo brasileiro para esconder do pai as incursões pelas corridas, e depois com o ‘lettering’ da Parmalat, o patrocinador da Brabham de Ecclestone. Nelson Piquet Jr. também usou o design das ‘gotas’ mas viria a adotar uma base prateada.

Ayrton Senna

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O capacete mais famoso do mundo. Quando ainda estava nos karts, Ayrton Senna experimentou várias versões para o seu capacete e Rubens Barrichello recorda-se de assistir a uma corrida de karting quando tinha cinco anos onde o seu futuro ídolo e amigo usava um capacete maioritariamente branco com uma lista amarela e outra verde. Foi só mais tarde que o lendário Sid Mosca – autor dos capacetes de Fittipaldi, Keke Rosberg, Piquet, Massa, entre outros – apresentou a Senna o design em amarelo vivo com duas listas a circundar a zona dos olhos. O capacete não só incorporava as cores do seu amado Brasil, como conferia a Senna o destaque e a agressividade que o brasileiro procurava. Ao contrário de inúmeros pilotos da era moderna, Senna nunca fez alterações significativas ao seu capacete, que entretanto inspirou pilotos como Lewis Hamilton. Naquela época, ver o famoso capacete amarelo nos retrovisores fosse de um Fórmula Ford ou de um Fórmula 1, normalmente significava a mesma coisa: problemas.

Nigel Mansell

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O design celebrizado por Mansell usava as cores da Union Jack, a bandeira do Reino Unido, com um efeito em forma de seta nas laterais e pormenores em azul sobre uma base branca. ‘Il Leone’, como lhe chamavam os tifosi da Ferrari, era conhecido pelo estilo agressivo em pista e o capacete parecia corresponder à fogosidade de Mansell. Os filhos Leo e Greg usaram, naturalmente, capacetes parecidos com o do pai, mas também o capacete de Jenson Button – com as cores britânicas nas iniciais JB – parece retirar inspiração do famoso design de Mansell.

Kevin Schwantz

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Se Agostini foi a primeira grande estrela do motociclismo, Schwantz foi o primeiro sucesso de vendas à escala global. As réplicas da Arai do capacete do texano tornaram-se extremamente populares entre os motards de todo o mundo, a maioria deles adeptos incondicionais do estilo de ‘tudo ou nada’ de Schwantz. Quando chegou ao Mundial em 1986, Schwantz trazia dos Estados Unidos um capacete azul e branco que manteve nos primeiros anos devido ao patrocínio da Pepsi. Na década de 90 surgiu o famoso design com a bandeira de xadrez, as estrelas da bandeira americana e uma mancha em amarelo fluorescente, que se viria a tornar a cor-ícone de Valentino Rossi anos mais tarde. O capacete de Schwantz com a Suzuki RGV500 número 34 e as cores da Lucky Strike são uma das combinações mais emblemáticas do saudoso Mundial de 500cc.

Michael Schumacher

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O heptacampeão da Fórmula 1 não resistiu a mudar as cores do capacete ao longo da sua carreira. Quando se estreou nos Grandes Prémios, Schumacher usava o famoso capacete de fundo branco com as cores da bandeira alemã nas laterais e um topo azul com estrelas brancas. O design tornou-se rapidamente uma imagem de marca de ‘Schumi’, mas o alemão viria a alterar profundamente essa identificação quando em 2000 pintou o capacete de vermelho, para se distinguir do Ferrari de Rubens Barrichello. Em 2011, Schumacher usou um capacete dourado no GP da Bélgica para comemorar os 20 anos de carreira na F1. Durante vários anos foi a figura de proa da marca alemã Schuberth, que chegou a fazer um anúncio onde um tanque militar passava por cima de um dos seus capacetes sem o destruir.

Valentino Rossi

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Em 1996, um adolescente italiano estreava-se no Mundial de 125cc com uma Aprilia apoiada pela AGV, a famosa marca de capacetes fundada por Gino Amisano. O seu nome era Valentino Rossi e o jovem talento destacava-se pelo exuberante estilo pessoal, personificado num capacete amarelo fluorescente com a mistura de um sol e de uma lua, segundo Rossi, as duas facetas da sua personalidade. O italiano viria a converter-se num dos maiores astros da história do motociclismo… e num dos seus maiores ícones comerciais também, celebrizando dezenas de capacetes diferentes, quase todos desenhados pelo agora famoso Aldo Drudi. Hoje em dia, se entrar numa loja Sport Zone irá com certeza encontrar uma prateleira com diferentes exemplares de Rossi. ‘Il Dottore’ usou incontáveis motivos ao longo da sua carreira, normalmente associados a uma ocasião ou recorde especial: desde as cores de Itália em Mugello ao burro do filme de animação Shreck, do relógio com a inscrição ‘Desculpa o atraso’ até a uma bola de futebol quando a Squadra Azurra conquistou o Mundial de 2006, desde a sua própria cara pintada na parte superior até à recente decoração dos testes em Sepang. Os capacetes de Valentino Rossi são uma lenda dentro da lenda.

São muitos os exemplos que aqui podiam se dados, mas estes, espelham grandes campeões, alguns deles, provavelmente mais facilmente conhecidos pelo capacete, do que pela própria cara.

José Luís Abreu/AutoSport

 

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