Pedro Matos Chaves: A corrida da minha vida

24/12/2018

Molson Indy Vancouver/British Columbia 1995, Indy Lights. “Faziam-me gestos obscenos e eu pensava que era por ter sido primeiro!” Pedro Matos Chaves tem uma coleção de corridas e ralis memoráveis, mas nenhuma teve o significado do triunfo de Vancouver quando militava na Indylights.

Para que se perceba porque escolhi esta corrida entre tantas outras, é melhor contextualizá-la. Estávamos em 1995 e nesse ano participava na Indylights com a equipa Leading Edge num Lola-Buick. O grande favorito à vitória no campeonato era o Greg Moore, que já conhecia desde os meus 28 anos (quando cheguei ao EUA) e dos 16 dele, quando ele aceitou fazer um pacto comigo por não ter ainda carta: eu levava-o para todo o lado e ele indicava-me o caminho e apresentava-me às pessoas importantes!

Mas em 1995 eu não tinha grandes ilusões: ele era a estrela e o favorito. Tinha conseguido o patrocínio da Players (tabaco), rodeara-se das pessoas certas e tinha um talento incrível (principalmente nas ovais) e, por isso, só perdeu duas corridas nesse ano. Desde abril que ganhava tudo e chegou a Vancouver (Canadá), a sua cidade natal, e esperava ganhar naturalmente mais uma vez. Mas não foi isso que aconteceu…

Nos treinos fez a pole e eu arranquei de terceiro com o Robby Buhl entre nós. Rapidamente consegui passar o Buhl, mas o Moore foi-se embora e, num circuito muito rápido e técnico, à 30ª volta ela já me ‘tinha dado’ 4 segundos e não havia nada a fazer. Eis quando já tinha praticamente desistido da luta quando um acidente obriga à entrada do Safety Car… No recomeço, eu sabia que era mais rápido que ele com as pressões de pneus que tinha (diferentes das dele), pelo que tinha que o passar nas duas primeiras voltas já que depois disso ele voltaria a ser mais rápido e ia-se embora. Foi então que nessa segunda volta, depois do recomeço, planei tudo para passá-lo no único sítio onde sabia que conseguiria, num gancho antecedido por uma ligeira curva (tipo a da reta interior do Estoril). Mas ele surpreendeu-me! Não fez aquela ligeira curva a fundo e eu bati-lhe na traseira a 270 km/h, acertando-lhe na caixa de velocidades! Isso fez com que no gancho, 200 metros depois, onde era preciso reduzir de 6ª para 2ª, o Greg fosse em frente e eu ficasse à frente nas 17 voltas seguintes e acabasse por ganhar.

No final, o público, furioso, só me fazia aquele gesto obsceno com um dedo e eu todo satisfeito, dentro do monolugar, a pensar que me estavam a apoiar e a dizer que eu era o primeiro! Devido a um diferendo que Portugal tinha na altura com a quota de pescas com o Canadá, no mar dos Açores, o título num dos jornais do dia seguinte foi até “Portugal não é apenas maldoso nas pescas!”, mas, de facto, só toquei mesmo no Greg porque ele não fez a curva a fundo, provavelmente porque ainda não tinha a pressão dos pneus na temperatura ideal. Nunca mais esqueci a corrida, ainda mais depois de ele falecer no terrível acidente de 1999, em Fontana, na CART.

B.I.
Pedro Matos Chaves é um dos mais populares pilotos portugueses de todos os tempos. Foi um dos precursores do fluxo migratório de pilotos portugueses de fórmulas para a Europa na tentativa de chegar à F1. Antes de se tornar o segundo português a atingir o patamar mais elevado do desporto automóvel ainda foi campeão inglês de F3000. Chegou à F1 em 1991 pela mão de Colini, mas com um carro pouco competitivo nunca se chegou a qualificar para nenhuma das 13 corridas em que participou. À aventura da F1 sucedeu-se a dos EUA, onde durante três anos militou na Indy Lights. Sempre preparado para surpreender, Chaves experimentou os ralis e averbou dois títulos absolutos com um Toyota Corolla WRC. Daí para a frente, alternou entre a velocidade (onde conquistou o campeonato espanhol de GT num Saleen S7 com Miguel Ramos) e os ralis (como piloto oficial da Renault) onde terminou a sua carreira. Tudo isto antes de ser coach no A1 Team Portugal.

Dados da corrida
Local: CircuitoVancouver/British Columbia (Canadá) com 2849 m
Condições Pista: Seco
Data (Hora): 03/09/1995 (10h30/12h15)
Intervenientes: Pedro Matos Chaves e Greg Moore
Carro: Lola-Buick (Indylights)
Classificação: 1º