Red Bull ameaça sair da Fórmula 1

21/04/2017

Não é a primeira vez que acontece, e curiosamente a razão são novamente os motores. Em entrevista ao site oficial da Fórmula 1, o consultor da Red Bull, Helmut Marko disse que a FIA e os novos responsáveis da F1 vão ter que encontrar uma solução para os motores, que contemple um construtor não ligado a uma marca, e se isso não suceder a Red Bull pode sair da Fórmula 1.

A tática já não é nova. Ler-se que a Red Bull pode estar a considerar deixar a Fórmula 1 é um “assunto” muito forte e por isso Helmut Marko, como é habitual, “largou a bomba”. Não é novidade para ninguém que os austríacos continuam incomodados com a vantagem que deixaram de ter depois do período 2010-2013, mas esta é novamente a utilização duma arma com pólvora seca, ainda que isso possa mudar no futuro. Portanto, a ameaça atual é só pressão política mas, se for mantida a ausência de perspetivas que a situação melhore no curto prazo há uma coisa que todos temos de estar cientes: ao contrário da Ferrari, McLaren ou Williams – marcas que para alem da sua participação no Mundial de Formula 1 têm outras divisões empenhadas na indústria automóvel, suficientemente lucrativas para até suprirem alguns problemas financeiros das suas equipas de competição – a Red Bull está na Fórmula 1 apenas por uma questão de marketing e poderá abandonar os Grande Prémios quase a qualquer momento, leia-se no final de um época desportiva. Pode, mas dificilmente o fará. Pelos motivos que explicamos à frente.

Bastará que na Áustria se chegue à conclusão que a participação nos Grande Prémios já não ajuda a vender o produto da marca de bebidas energéticas ou que a equipa registe uma quebra de receitas comerciais por falta de resultados e/ou perda de patrocinadores e Mateschitz poderá muito bem dar ordem para vender as estruturas de Milton Keynes e de Faenza.

Mas a saída de cena da Red Bull nunca implicaria o fecho da equipa, até porque isso representaria um enorme prejuízo para Mateschitz e o austríaco só virará as costas à Fórmula 1 se lhe aparecer um comprador com meios para assumir uma das estruturas mais avançadas do Mundial. A equipa que começou como Stewart Grand Prix, foi Jaguar Racing e é, há 13 anos, a Red Bull Racing, não irá desaparecer se Mateschitz se cansar da Fórmula 1, mas poderia passar a existir sob outra denominação. Como aconteceu com a Jordan, que foi Midland e Spyker antes de ser Force India; como foi o caso da Toleman, que passou a Benetton, Renault, Lotus e é agora Renault outra vez; ou como foi a Minardi, desde há 12 anos denominada Toro Rosso. E como poderá acontecer a curto prazo com a Sauber, se os suíços continuarem a revelar-se completamente incapazes de encontrarem patrocinadores para a sua equipa.

A verdade é que a Red Bull não tem mesmo grandes alternativas. Em 2015, a Mercedes, a Ferrari e a Honda (depois da nega de Ron Dennis) nunca se mostraram interessadas em colocar em risco as suas equipas de ponta com a venda de motores à Red Bull e a construção dum motor próprio em Milton Keynes, mesmo se projetado por um génio como Mario Illien, teria custos muito elevados e teria também dificuldades em ser bem sucedida face à complexidade dos sistemas que são utilizados atualmente. Para além disso há ainda a questão financeira, que é complexa, por isso a única alternativa disponível é a de pressionar a FIA/Liberty Media o mais possível, mas dada a passividade de que Jean Todt tem dado mostras desde que foi eleito há sete anos, não será por ai que a Red Bull irá conseguir atingir os seus intentos.

“Em 2021 a F1 deve ter um construtor independente de motores” disse Marko. “Isto é mais do que necessário e esse motor tem que ser simples, barulhento e e custar menos que 10 milhões de euros. Estamos a falar de um motor muito menos sofisticado que os atuais, um motor de corridas simples. Há várias empresas no mundo automóvel capazes de o fazer. Portanto o que esperamos dos novos donos da F1 é que conjuntamente com a FIA encontrem uma solução no máximo até ao final desta época desportiva. Se isso não suceder, a nossa permanência na F1 para lá de 2020 não é segura” disse Marko.

José Luis Abreu/Autosport

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