Sébastien Loeb: A ‘auto-radiografia’ de uma vitória

01/11/2018

Sébastien Loeb publicou um longo texto no seu site em que explica como foi do seu ponto de vista o Rali da Catalunha. Explica sensações, conta pormenores, dúvidas, certezas, os altos e baixos que são normalmente os ralis para quem luta pelas vitórias. Eis o texto na íntegra.

Olá a todos.
Estou finalmente de volta depois de uma semana intensa em Espanha, com um resultado final que me pôs doido! Eu não escondo o facto de que já sentia a falta do sabor da vitória, mas não era necessariamente neste fim de semana que eu esperava abrir o champanhe!

Antes do ralis, eu esperava estar no ritmo, sabendo que não seria fácil. No México, andámos na frente e na Córsega também. Em Espanha, com o ‘mix’ de superfícies, terra e asfalto, e o tempo que se anunciava, caprichoso, o meu primeiro objetivo era fazer um rali sem cometer erros. Claro que, dentro de mim, sonhava em ganhar. Mas daí a concretizá-lo…

Ao perder mais de dez segundos na primeira super especial (ndr, deixou o motor do C3 WRC calar-se), e quando sabemos que hoje em dia o nível é tal, que muitas vezes os ralis são jogados ao segundo, começámos bastante mal. Na manhã seguinte, na terra, nunca consegui encontrar a confiança e fazer o que queria do carro. Algo estava errado. Quer fosse no carro, ou em mim. E ainda não sei! Penso que houve um pouco dos dois, e isso ligado à falta de ritmo, de andar no carro. Uma coisa é certa, eu não consegui realmente beneficiar muito da minha posição na estrada pois quando começou a melhorar, o dia acabou!

E algo de semelhante se repetiu na manhã seguinte! Eu não consegui começar logo a andar bem nessas condições. Eu não pilotava um WRC no asfalto molhado há seis anos. Além disso, não nos entendemos bem com os pneus de chuva. Estava difícil encontrar as zonas de travagem certas, especialmente quando vinha em sexta a fundo, ainda mais com estes monstros que são os WRC de hoje, com pneus que não drenam a água… Eu não queria mesmo cometer erros de manhã, mas era necessário correr alguns riscos. Como no dia anterior, a tarde foi melhor, e assinámos um melhor tempo.

Apesar de tudo isto, ainda estávamos a oito segundos da liderança a quatro especiais do final. Eu estava muito feliz com o nosso trabalho, com o ‘Danos’ (Elena) e a equipa. Quando fui para a cama, disse a mim mesmo: “Não seria nada mau ganhar este!”.

Na manhã seguinte, o tempo ainda era incerto. Em primeiro lugar, decidimos ir com pneus macios, e jogar pelo seguro, mas depois com o Cedric, o meu engenheiro, lembrámos-nos do meu feedback, que eu tive em testes nessas condições, e a comparação entre o pneu duro e macio. Ficou claro, e isso estava escrito preto no branco: ‘Eu prefiro um ‘duro’ quente no molhado do que um macio muito quente no molhado. Então, decidimos tentar uma aposta, colocando os pneus ‘duros’, ao contrário de todos os outros pilotos…

Isto foi pensado quando tomava o pequeno almoço, às 6h30 da manhã. Depois veio a assistência, e as questões começam a surgir, ao falarmos todos, a dúvida instala-se. O homem da meteorologia diz-nos que não vai chover, mas no dia anterior, disseram-nos a mesma coisa e tivemos uma grande chuvada. Naquele momento, não sabia em quem acreditar. Do outro lado, os batedores, e de seguida, o ‘homem do tempo’, do final da especial, dizem-me que está seco e que continuará assim.

Enquanto os pneus macios são montados no carro, isto a 1m30s antes de sairmos, eu decidi voltar para a minha primeira decisão e colocar o pneu ‘duro’. Eu estava bastante convencido, mas ainda também com dúvidas. Uma vez sentados no carro, já não tínhamos escolha! E tivemos que ir para a luta!

Muitas pessoas perguntaram-me se esta é a minha melhor vitória. Eu não sei. Mas uma coisa é certa, se integrar todos os parâmetros, a nossa ausência a partir desse momento, os carros novos, o nível do WRC atual, a dificuldade do rali com as condições que tivemos, e se acrescentarmos, que a rodar na última etapa frente ao piloto que é pentacampeão em título, na verdade, é, penso eu, um dos melhores triunfos da minha carreira! Necessariamente mais bonito do que muitos triunfos quando ganhávamos dez ralis por ano com mais de um minuto na frente.

Ainda mais porque quando cruzámos a linha de fim do troço, não sabíamos! Para ser honesto, nós subimos para cima do C3 WRC sem ter a certeza! Somente quando já estava ‘lá em cima’ e vi o sinal com meus próprios olhos, aí percebi que era verdade.

Depois, nós apreciámos tudo juntos! Agora, como todos sabem, vou demorar um pouco, questionar-me, e pensar em 2019. Uma coisa é certa, vou mantê-los informados assim que ficar um pouco mais claro na minha cabeça. Por enquanto, estamos apenas em discussões, tenho várias hipóteses que vou estudar. O que eu posso garantir é que eu não pretendo reformar-me agora. Por isso vão ver-me atrás de uma ‘roda’ em 2019. Mas qual delas ?! Fiquem ligados!

Vejo-vos em breve.

Seb