Sérgio Sette Câmara pode ser o próximo brasileiro na F1

29/12/2016

O Brasil já há muito está a ‘ressacar’ pilotos de excelência na Fórmula 1. Desde Chico Landi, que pilotou nos anos 50, a Felipe Nasr, o último a atingir o pináculo do desporto automóvel, o povo ‘nosso irmão’ viveu pelo meio momentos de sonho, primeiro com Emerson Fittipaldi, bicampeão do Mundo, e depois com os dois tricampeonatos de Nelson Piquet e Ayrton Senna, pilotos que atingiram um patamar elevadíssimo, especialmente este último, com a fabulosa herança de ídolo que deixou após a sua morte.

No total, são 31 os pilotos brasileiros que passaram ou estão na F1, alguns que deixaram saudades eternas, outros que entraram e saíram e mal se deu por eles. Atualmente, os dois ‘Felipes’, Massa (Williams) e Nasr (Sauber) são os dois últimos pilotos brasileiros que restam na Fórmula 1, e apesar de ambos se poderem manter para lá desta temporada, o Brasil também pode de repente ficar sem nenhum e por isso precisa de continuar a alimentar esta fornalha de jovens candidatos a chegar ao patamar mais alto do desporto motorizado mundial, não só pelos canarinhos, mas também por todo o Mundo que se habituou a admirar Fittipaldi, Piquet e Senna.

A fasquia está elevadíssima, e para o provar, os dois melhores exemplos são os de Nelson Piquet Jr. e Bruno Senna, respetivamente filho e sobrinho dos tricampeões, cujo nome ajudou muito a trilhar o caminho mais depressa – as pessoas ‘queriam’ os nomes na F1 – mas depois a cobrança foi forte demais e nenhum deles aguentou a pressão saindo por portas pequenas da modalidade.

Apesar da sua excelente carreira na F1, Rubens Barrichello nunca atingiu um patamar sequer perto dos campeões brasileiros, e depois dele só Felipe Massa, sem ser um supra-sumo, o seu trabalho permitiu-lhe o suficiente para ter estado muito perto de ser Campeão do Mundo de F1. Agora, com o piloto da Williams quase de malas aviadas, mais ano menos ano termina a sua carreira na F1, fomos querer saber que jovens pilotos brasileiros por aí andam nas categorias de acesso, com condições de chegar a médio prazo à disciplina e o nome que mais se destaca é o de Sérgio Sette Câmara, um jovem que aos 18 anos já testou este ano um Toro Rosso em Silverstone, precisamente no ano em que foi integrado no programa de jovens pilotos do Red Bull Júnior Team. As primeiras portas já foram abertas, mas daqui para a frente as dificuldades só permitem que os pilotos de exceção ‘sobrevivam’…

Rápida ascensão

Não é preciso recuar muito na ascendência de Sérgio Sette Câmara para chegar a Portugal. A antiga família Sette tem a sua origem no nosso país, e Sérgio Sette Câmara Filho, como muitos outros jovens brasileiros, cresceu com o sonho de se tornar um piloto de F1 como Ayrton Senna, o seu ídolo, ou mesmo Rubens Barrichello e Felipe Massa. Muito jovem, via os Grandes Prémios com o seu pai, e foi aí que percebeu que até chegar à F1, havia que cumprir muitos passos até lá chegar e o primeiro deles era o karting: “Comecei em 2006 no karting, entre os meus seis e sete anos de idade. Recordo-me perfeitamente, foi em abril, num kartódromo pequeno de Belo Horizonte, cidade onde nasci e cresci. O Brasil é um país grande, a minha cidade, Belo Horizonte, tem cinco ou seis milhões de pessoas, e por isso há muita gente no karting, ainda por cima é uma cidade do interior, sem praias, não é uma cidade turística, e ali é tudo muito mais comércio, empresas, negócios. Por isso o karting poderia ser forte, mas curiosamente nunca foi. Sendo dali, corri lá dois anos, treinava muito, mas o sonho inicial era ir para São Paulo, pois era lá que poderia evoluir a sério no karting”, começou por contar o jovem Sette Câmara, que, junto com a sua família, sentia que só poderia ser alguém se corresse contra os melhores no Brasil, e os melhores estavam em São Paulo: “Não foi fácil ultrapassar essa barreira, ir para São Paulo correr, porque isso significava viagens com a família, passagens de avião, então os primeiros tempos foram complicados. Tive que ouvir “estás a brincar? Faltar à escola para ir para São Paulo correr? Calma aí!” Foi a primeira barreira, demorou dois ou três anos para ultrapassar essa situação. Mas fui para São Paulo, sofri os primeiros seis meses, mas depois comecei a andar bem e a ganhar corridas. São Paulo não é a capital do país mas é como se fosse, e o centro do karting no Brasil é lá que está. Todos vão correr o estadual de São Paulo, a lista de inscritos do Campeonato de Karting de São Paulo é quase a mesma do Campeonato Brasileiro, pelo que tive que correr lá para aprender e chegar a um mais alto nível. Depois, fui melhorando, fiz melhor no Brasileiro do que no Paulista porque havia pilotos da ‘casa’ que treinavam muito na pista de São Paulo. Fui-me destacando, até chegar à categoria júnior, e aí entrámos em contacto com uma equipa de karting na Europa” contou o jovem brasileiro, explicando como chegou à Europa. A partir daqui, tudo se tornou muito mais rápido, mas também, mais complicado…

A velha Europa

Por muito que a FIA tente levar as suas principais modalidades para todos os continentes do Mundo e para a maior diversidade possível de países, a ‘velha’ Europa é onde tudo começou verdadeiramente, onde tudo se desenvolveu em primeiro lugar, basicamente onde o desporto automóvel tem as suas mais fortes raízes, continuando a ser para a maioria dos jovens de todo o mundo querem ir para dar seguimento aos seus sonhos de chegar o mais longe possível no desporto automóvel, e Sérgio Sette Câmara não é exceção:

“Até correu bem de início, mas depois sofri um pouco. Inicialmente passei a correr no karting, quer no Brasil e também na Europa”, revelou o jovem que foi convidado pela ART Grand Prix, correndo na Winter Cup, WSK, Europeu e Mundial de Karting na categoria KF Junior: “Tinha bons resultados no Brasil e medianos na Europa, mas depois comecei a correr só na Europa, em 2013. No fi nal de 2014, mudei para uma equipa holandesa, e foi aí que nos decidimos pelos fórmulas. A opção logo pela Fórmula 3 a meio de 2014 tem uma explicação simples. Primeiro comecei a treinar no Brasil, fi z um ou dois treinos e foi escolhida a F3 porque no Brasil não há mais nada. Só optámos pela F3 porque era o que havia no Brasil, não havia mais nada de fórmulas de promoção, portanto não se tratou de queimar etapas, mas sim de aproveitar o facto de haver F3 no Brasil. Disputei quatro corridas no Brasil, andava sempre nos três primeiros, e aí quando pensámos na Europa, fi cámos receosos de dar um passo para trás, e ir para a Fórmula Renault. Por isso quisemos ver como as coisas corriam na europa correndo na F3, e por isso fi z a corrida de Imola de 2014. Não foi um desastre. Vamos por as coisas nestes termos. Fomos com uma equipa fraca, claro, não valia a pena muito mais porque eu não estava ainda em condições de tirar partido disso, e ainda assim fi z 14º numa das corridas. Penúltima corrida do ano, para um piloto que nunca tinha feito F3 na Europa, acho que consegui andar bem, e por isso decidimos que íamos correr na F3. Entrámos em contacto com algumas equipas, escolhemos a Motopark, com quem voltei a correr no ano passado na F3, sofri um pouco no início do ano devido à falta de experiência, mas a partir da quinta prova em Spa, tudo mudou. Fiz logo aí o meu primeiro pódio, e depois disso ainda belisquei mais alguns pódios, inclusivamente em Zandvoort, no Masters de F3 de 2015, onde fiz a pole e cheguei em terceiro na corrida. Em Macau também andei bem, fiz o recorde da pista…

A oportunidade Red Bull

Não é novidade para ninguém que Helmut Marko, apesar do acidente que sofreu há muitos anos, durante a sua carreira de piloto, que lhe ‘roubou’ um olho, tem boa vista para descobrir jovens talentos. Já foi assim com muitas dezenas deles, oriundos de todos os pontos do globo. Enquanto o povo brasileiro aspira a que um dia nasça e cresça um novo Ayrton Senna, o que Helmut Marko pretende é ‘apenas’ um Sebastian Vettel, ou um Max Verstappen, e por isso a ‘cantera’ Red Bull pode elevar um piloto aos píncaros, como também quase lhes destruir a carreira. Como António Félix da Costa bem sabe, o trabalho que se tem de fazer para merecer sempre a confiança de Helmut Marko é imenso, e a diferença entre lá chegar ou não está bem espelhada no que sucedeu com o português, piloto a quem nada faltava do seu lado para entrar na F1 e fazer uma boa carreira na modalidade, mas que acabou por não ser assim, porque esta questão das oportunidades na F1 é como uma viagem de comboio com muitas estações e apeadeiros, e para má sorte do português o lugar ficou vago apenas um ano depois do momento ideal. Quando chegou à estação, tinha um russo ao lado dele, com um passe de primeira classe. Agora, é a vez de Sérgio Sette Câmara tentar a sua sorte, mas o jovem brasileiro sabe bem o que tem de fazer: “No final do ano passado, o meu chefe na Motopark, recebeu um telefonema do Helmut Marko, ‘ele pediu o teu telefone. Pode-te ligar daqui a 10 minutos, daqui a um mês ou nunca te ligar’… Ligou-me passados 10 minutos e disse-me para vir para Graz (Áustria) pois queria reunir-se comigo. Fui lá, fechámos com a Red Bull, isso foi antes do Grande Prémio de Macau do ano passado, corri em Macau ainda sem o contrato assinado, estava só ‘engatilhado’, e depois de Macau, onde consegui resultados decentes, tudo ficou fechado, e foi assim…”, revelou Câmara, que sabe bem o que tem pela frente relativamente a Marko: “Ele não liga muitas vezes, mas quando liga, é bastante duro. Acho que faz bem o seu trabalho de ‘cobrança’, é uma pessoa dura, mas eu gosto assim, estou habituado a este género, seco…”, disse.

Evoluir na F3

Não é novidade para ninguém que a F3 é uma excelente escola para chegar à F1, e nos últimos tempos foram diversos os pilotos que tiveram passagens pela F3 antes de chegar à F1. Melhor exemplo, Max Verstappen, outros exemplos, neste caso com DTM pelo meio, Pascal Wehrlein e Esteban Ocon, outro exemplo que muito rapidamente se irá tornar realidade, Lance Stroll. Sergio Sette Câmara está na sua segunda época de F3, e por isso com um longo caminho ainda para percorrer: “Este ano estou a correr com a Motopark, gosto da equipa do campeonato, estou a carregar um pouco de peso devido a estar vestido à Red Bull, mas é isso, aqui estamos” começou por dizer antes do desafio sacramental: Sentes que podes ser um dos próximos brasileiros a chegar à F1? “Sinto que sim! Tenho que considerar as minhas corridas de base, até agora fui um pouco inconsistente, tive corridas em que por exemplo andava em terceiro, e depois… bati. Já obtive pole-positions, tive boas oportunidades que por este ou aquele motivo fui perdendo, mas a verdade é que perdi muitos pontos com diversas questões e num campeonato com mais 15 ou 20 pontos podemos estar em terceiro. São só alguns exemplos para justificar ter perdido tantos pontos, e essencialmente isso que está a faltar, pois andamento tenho. Tem faltado um pouco de consistência, um pouco de sorte, e também mais competência minha, lógico. Só mesmo o Lance Stroll é que disparou na frente e não deu hipóteses. Tenho que olhar para as corridas pensando mais no campeonato. Mas para responder diretamente à tua pergunta, eu vejo-me na Fórmula 1…”

Mesmo com as coisas a não correrem na perfeição, ao longo de todo o fim de semana que acompanhámos o jovem brasileiro em Zandvoort, nunca se notou stress a mais, falava e ria com os mecânicos, nota-se que está ciente do trabalho que tem a fazer mas isso não lhe compromete a boa disposição, nem mesmo quando lhe perguntei se sente responsabilidade pelo facto do Brasil precisar de renovar a sua ‘fé’ na F1: “Não penso muito nisso, é claro que quero dar o meu melhor, se for para ser o próximo ídolo do Brasil eu teria o maior prazer, mas não podemos crescer como pilotos pensando assim, senão vai correr pior. A fonte de motivação não pode ser essa, é uma fonte muito instável. O que gostava mesmo é que o povo brasileiro gostasse da F1 em si, porque gostar de ídolos todos podem gostar. Tudo bem, é natural que as pessoas gostem de ver um conterrâneo ganhar, é mesmo assim. Claro que vou dar o meu máximo para ser esse piloto, mas não penso demasiado nisso”. Uma posição correta, mas não há piloto no mundo que não sinta necessidade de ‘ídolos, e Sérgio Sette Câmara também os tem: “Ayrton Senna no passado, e atualmente o Sebastian Vettel e o Daniel Ricciardo. Mas mais o Vettel. Ayrton, um ídolo, um génio para a sua época, sempre foi muito dedicado ao desporto, a vida dele era tudo em torno disto, admiro muito isso, ele ‘não tava nem aí’ para o resto. Nunca o vi ao vivo, nasci apenas quatro anos depois da sua morte, mas sei tudo sobre ele, é um grande ídolo. Quanto ao Vettel, é um piloto muito dedicado, muito talentoso, não se veem muitos pilotos assim na F1, acho que é um piloto muito completo, talentoso, ganha e é muito trabalhador. Ele deixa bem o ‘seu pé no chão”. Curiosa esta apreciação! Dois ídolos, em que o denominador comum é ‘deixar bem o pé no chão’, ou seja trabalhar muito forte para alcançar o sucesso…

Teste de F1

Sérgio Sette Câmara já rodou três vezes com um F1. No início deste ano, rodou num demonstração da Red Bull com o modelo de 2012, o RB8, num evento na Motorland Aragón, participou em julho no teste de jovens pilotos com o Toro Rosso, na semana após o GP da Grã-Bretanha de Fórmula 1 e por fim, recentemente, fez uma demonstração nas ruas de Glasgow, na Escócia, no Ignition Festival of Motoring. Pelo que se percebe, as coisas só foram bem a sério no teste de Silverstone: “Para mim foi uma grande oportunidade, pilotar um carro tão bom. Um F3 já é considerado superior, só que nada comparado a um GP2, de motor 4.0 V8 de 650cv, pelo que dar um salto de um F3 para um F1 foi grande. Mais ou menos o passo que dei do karting diretamente para a F3, pois não pilotei em mais nenhuma categoria de base. Foi excelente pilotar um carro grande, foi bom trabalhar com uma equipa complexa, estruturada, muito profissional, tem um piloto para cada coisa, um para ver a pressões dos pneus, outro para a suspensão, etc. É uma equipa complexa, temos que nos posicionar bem e entender qual é o nosso trabalho”, começou por dizer o brasileiro, cujos olhos brilhavam a relatar a experiência.

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“Foi excelente, o carro é muito complexo, complicado, especialmente o volante, disso não temos num F3. Quando aqui voltei, depois de ter estado uns dias num mundo bem mais complexo, sentia que estava tudo sob controlo. E foi muito bom. Foi um pouco mais do que esperava, em especial a potência e o binário do carro. Não esperava tanto, é absurdo, quando se carrega no acelerador parece que vamos à velocidade da luz… principalmente quanto o turbo dispara, o que acontece muito rapidamente e depois ainda temos a potência híbrida, MGU-K e MGH-H, que o torque é imediato, e quando ‘dá o pé’, é só pedir que a potência está lá “ começou por explicar. Mas ninguém chega e se senta para pilotar um carro destes. Já lá vai há muito o tempo em que o piloto entrava no carro, punha os cintos, ligava o motor e arrancava.

Hoje em dia as coisas são muito mais complexas, especialmente na F1: “A equipa deu-me um manual para ficar a saber as instruções do volante, e estudei-o durante uma semana. Lia um bocado um dia e revia, depois outra parte, para ficar automatizado, para além de que na terça-feira antes de ter testado fiquei a acompanhar o treino do Carlos (ndr, Sainz) ouvi as comunicações rádios entre piloto e engenheiro, e isso fez com que nesse dia à noite fosse estudar ainda mais, pois pelo que ouvi, percebi melhor a complexidade de tudo aquilo que era necessário fazer, e por vezes podia estar a rodar perto dos 300 km/h e tinha que fazer ajustes nos botões. Por isso era conveniente saber bem onde eles estavam. Estudei um pouco mais, e dessa forma quando me sentei no carro tive sempre a sensação que a matéria estava bem dentro da minha cabeça, e senti-me confiante…”

Isto que foi falado até aqui resume-se a sensações… do volante. Imagine quantas vezes tem que olhar para os comandos da sua TV para fazer alterações no que está a ver, mudar de canal, aumentar ou baixar o volume, por uma emissão a gravar, e agora imagine ter algo com complexidade semelhante e ter que o fazer a andar bem rápido em pista: “Surpreendeu-me muito foi quando estamos a rodar, de repente a meio da curva temos que carregar num botão, quer seja do óleo, mudar a potência do motor, esse tipo de coisas. De repente vamos muito depressa e temos que fazer modificações no volante. Isso foi complicado! Não tinha pilotado o carro, logicamente não tinha ainda decorado a posição dos botões e por isso era difícil saber bem a posição estavam. Não podia encontrar o botão só pelo tato, tinha que olhar. E não é fácil tirar a atenção da pista para carregar nos botões e voltar a concentrar-me na pista. Isso confesso, foi o mais difícil, pois havia o sério risco de perder o carro, algo que não convinha nada num primeiro teste. Acredito que se juntarmos a isso o stress próprio das corridas, deve ser bem complicado, o que vale é que nem sempre há que o fazer em todas as voltas. Eles vão olhando para a telemetria do carro e avisando o que é necessário fazer, todos os ajustes” disse o piloto que pode finalmente transmitir as sensações…do carro: “Três coisas impressionaram-me verdadeiramente! Aerodinâmica, torque e potência do motor, parece um dragster. Por fim, a tecnologia por trás do carro. Todos nós já tínhamos ouvido falar dessa tecnologia, sabemos que o motor tem 900 cv então não estamos à espera de pouco, mas eu não esperava tanto, quando se carrega no acelerador é ‘ridículo’, especialmente quando se sai da chicane antes antes da entrada na reta das novas boxes de Silverstone, a aceleração é incrível, muito depressa o carro chega aos 250 km/h e isso impressionou-me verdadeiramente, para já não falar do apoio aerodinâmico nas curvas de alto apoio. Um F3 é um carro com pouca potência, 250 cv, pouco peso, 500 kg, mas muita aerodinâmica. Por isso anda pouco em reta comparado com um GP3, que se pode considerar a categoria ‘parente’, mas curva bem. Num F1 tudo isto é muito mais rápido, não temos tempo para pensar, pois de curva para curva as coisas acontecem todas muito depressa…

Testar um F1 pela primeira vez deve encerrar um conjunto de sensações único, e nesse aspeto foi curiosa a resposta do brasileiro, tal foi a quantidade de sensações e emoções que viveu naquele dia de julho: “Para ser sincero, inicialmente ao fim de duas ou três voltas o cérebro ficava cheio de informação e por isso era necessário ficar um pouco nas boxes a digerir tudo aquilo. Por exemplo, quando estamos a estudar para uma prova, chega a um momento em que é inútil, vale mais a pena descansar e voltar depois a estudar mais. E o que eu senti foi exatamente isso, o meu cérebro ficava a processar aquilo tudo então eu parava para assimilar melhor. A paragem para almoço foi importante e considero que desde que fui para a pista pela primeira vez até ao final melhorei 100 por cento” E fisicamente? “Muito complicado especialmente o pescoço, E no dia seguinte para me levantar da cama foi difícil. Não acredito que seja falta de preparação, mas simplesmente o trabalho é feito em músculos diferente, já que na F1 é necessário trabalhar mais sobre determinados músculos que na F3 não é necessário ir tão longe. Por exemplo, um atleta de triatlo pode de repente ir jogar ping pong e ficar com dores no braço ou no pulso. São coisas diferentes, e embora a preparação física geral seja importante, há coisas muito específicas”, revelou.

Logicamente, este foi o ponto de partida do que se espera possa ser o prefácio de um futuro na F1, e o balanço foi positivo: “Não cometi erros, embora não tenha feito o tempo que poderia ter conseguido. Nas duas voltas lançadas como simulação de qualificação, apanhei tráfego, depois choveu e quando secou já não deu para outra simulação” disse o jovem brasileiro, que registou 1m34,040s, com pneus macios. “O Carlos Sainz obteve 1m34,643s com pneus médios. Fiquei um pouco chateado por não ter obtido o tempo que seria possível, mas também fiquei contente porque fiz voltas excelentes em turnos longos e a equipa disse-me que sei andar depressa”, disse Sette Câmara, que agora tem que olhar para o futuro: “Tenho que me continuar a focar na temporada de Fórmula 3, para já quanto à F1 não há mais nada previsto. Eu próprio só fiquei a saber que ia testar o Toro Rosso duas semanas antes, as coisas aqui acontecem todas muito rapidamente, pelo que o que tenho de fazer é focar-me no meu trabalho na F3, dar o meu melhor, evoluir. Se me focar no presente o futuro é melhor”, disse o piloto, convencido que o passo que a F1 vai dar é positivo: “Acho que algumas pessoas são um pouco pessimistas, gosto da F1 atual e penso que vai melhorar ainda mais no futuro. Estou muito entusiasmado com os novos carros, por exemplo acho que vai dar para fazer a curva três do circuito de Barcelona de pé cravado, Copse (Silverstone) ‘cravado’, o carro vai ser uma ‘bala’, vai ficar para aí quatro segundos por volta mais rápido e isto mesmo considerando que irá perder tempo em reta (ndr, devido ao maior arrasto, com mais apoio aerodinâmico e pneus mais largos, os novos carros perdem velocidade de ponta), os engenheiros estão muito ansiosos, estão sempre a falar nisso, nota-se que isso mexe com eles, falam dos pneus, das asas, etc.” No fim, o desafio. Em condições normais quando achas que podes chegar à F1? “É imprevisível para dar uma data, mas se fizer tudo bem, 2018 faria sentido”.

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José Luis Abreu/Autosport

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