SimRacing e Rudy van Buren: ‘Cesariana’ ou ‘parto natural’?

23/11/2017

Rudy van Buren tornou-se no mais recente nome oriundo do SimRacing a ser falado. Vai intensificar-se o ‘nascimento’ de pilotos extra-‘parto natural’?

Todos os fãs de desporto motorizado sonham, nem que seja intimamente, em ser um piloto de competição. A vontade de mostrar o que se vale ao volante fala sempre mais alto e por isso encontramos muitos dos ‘pilotos’ a tentar provar-se a si e ao mundo que afinal têm qualquer coisa de Senna dentro de si em simuladores de corridas.

O conceito de levar pilotos do virtual para o real não é recente e o projeto mais bem sucedido é o GT Academy, que foi criado em 2008, cujo objetivo era encontrar o melhor dos melhores no jogo de vídeo, para depois fazer a tão desejada transição para o real. São vários os nomes dos vencedores e Portugal, como não podia deixar de ser, tem um representante nessa lista, com Miguel Faísca a ser o vencedor da competição europeia, tendo competido no Blancpain, nas 24h do Dubai onde venceu na categoria SP2 entre outras.

Outro dos exemplos é Jann Mardenborough, vencedor da competição europeia em 2011, já tem no currículo um 3º lugar nas 24h de Le Mans, um vice-campeonato na Toyota Racing Series e um 3º no All-Japan Formula 3. Já participou no GP3, no GP2, no Grande Prémio de Macau, no WEC, no Blancpain, nos Super GT, e já correu nas melhores pistas do mundo. O sonho de qualquer fã de competição automóvel. Lembram-se dos vencedores das 12h de Bathurst em 2015? Todos vindos da GT Academy.

As competições de E-Sports estão cada vez mais na moda, com a Formula E e o WTCC a terem campeonatos bem disputados e com prémios apelativos para os participantes, nem que seja a oportunidade de lutar com as mesma armas com os pilotos que admiram na TV. Norbert Michelisz, por exemplo, é um dos grandes pilotos do WTCC da atualidade, e que vem da realidade dos simuladores.

O novo nome a surgir entre os inúmeros que participam neste tipo de eventos é Rudy van Buren, que conseguiu ser o melhor entre mais de 30 mil participantes. O jovem holandês de 25 anos, deixou de lado os karts há alguns anos mas regressa agora ao mundo da competição da forma mais inesperada possível. Campeão nacional em 2003 abandonou os karts por falta de apoios mas vingou-se nos simuladores e venceu agora o World’s Fastest Gamer, que foi lançado em Maio e teve o final recentemente, com os 12 finalistas a terem a oportunidade de estar no simulador da McLaren. Foram sujeitos a provas exigentes passando por pistas como Indianapolis Motor Speedway, Suzuka, Interlagos e la Sarthe. Van Buren foi o melhor dos 12 e será piloto do simulador da McLaren para 2018.

“Foi a mais dura entrevista de emprego que tive mas o prémio final é incrível. Agradeço a todos por esta incrível oportunidade que estou a ter. Só de pensar que entrei no McLaren Technology Centre pela primeira vez na semana passada e saio agora como empregado é incrível!” Esta iniciativa tem como parceiros a Mclaren, a Darren Cox, fundador da GT Academy, Logitech G, GiveMeSport e Sparco.

O Sim Racing é o presente e parte do futuro das corridas. Permite oportunidades únicas, tanto para os jogadores como para as empresas. Muitas corridas são transmitidas online e até passam na MotorsTV e com audiências bem interessantes. Há oportunidades de negócio para quem for inteligente e não tiver preconceitos infundados. Há muitos talentos escondidos apenas porque não tiveram oportunidade ou nunca experimentaram um carro de competição a sério. Tudo isto permite também aproximar os fãs das competições e fazer delas algo mais real para quem está em casa. E para quem for realmente bom, os prémios compensam (e muito) o esforço colocado.

O Sim Racing é excelente porque permite que algo que nos é tão querido e muitas vezes demasiado distante, se torne acessível e não deve ser olhado de lado pelos puristas pois, embora simule muito bem o comportamento do carro, nada simula a velocidade e as forças G que se sentem na realidade. Os pilotos não vão deixar de ser heróis apenas porque podemos imitar o que eles fazem num simulador. Do virtual ao real vai uma distância enorme. No simulador, podemos sempre fazer reset e tentar de novo, mas a realidade é totalmente diferente. E nunca um simulador conseguirá simular a parte do cérebro que causa a reação de medo. Pode ser o melhor simulador do mundo, mas quem lá está saberá sempre que não se aleija. Só no ego! Mas tudo o resto pode ser simulado, e com a tecnologia a evoluir a margem entre o simulador e o real vai estreitar-se, portanto esta é uma tendência que cada vez mais ganha força e que poderá ser um dos pilares do gosto pela competição automóvel no futuro.