A estrela cadente da Renault

05/05/2019

O Renault Étoile Filante, leia-se Estrela Cadente, foi a única tentativa da Renault de criar um automóvel munido de uma turbina a gás, assim como, de bater um recorde de velocidade para este tipo de automóveis.

Em 1954, o construtor francês de turbinas aeronáuticas, a Turbomeca, propôs à Renault a produção de um automóvel movido com uma turbina a gás, de modo a exaltar os benefícios da tecnologia e também para bater o recorde de velocidade. A Renault criou o automóvel, e testou-o em túnel de vento, entre 1954 e 1955, equipado com um motor Turbomeca Turmo 1 de 270 cv, atingidos às 28000 rpm. A caixa de velocidades era uma Transfluide, a mesma que equipou o Renault Frégate, com redutor de 28000rpm para 2500rpm. O combustível utilizado era querosene, o mesmo usado na aviação e tinha a particularidade de não ter praticamente vibrações nenhumas, graças à velocidade de rotação das turbinas.

O projecto foi dado a três homens, Fernand Picard, director de estudos, Albert Lory, fabricante de motores e por fim Jean Hébert, engenheiro e piloto. A carroçaria era feita em poliéster laminado, com formas inspiradas nos aviões, para ter um Cx de 0.18, montada num chassis tubular em crómio e molibdénio. A apresentação à imprensa foi em 1956, no Circuito de Monthléry. Jean Hébert e a Renault Team foram até ao Bonneville Salt Flats, em Utah, nos EUA, para fazer os testes de velocidade, sendo que posteriormente foram para o Circuito de Monza.

Quando voltaram a Bonneville, já com o segundo chassis, a 4 de Setembro de 1956, o automóvel atingiu uma velocidade de 306,9 km/h ao fim de 1km e 308,85 km/h, ao fim de 5 km, alcançando assim o recorde mundial para automóveis movidos a turbinas de gás, e inferior a 1000 kg, recorde esse que continua por ser superado. Na viagem de regresso ainda atingiu 322 km/h, mas esta velocidade não pode ser homologada. No dia seguinte ia haver mais umas rondas, para alcançar maior velocidade, mas houve uma avaria nas turbinas e isso não foi possível. Estes testes de velocidade, ajudaram também a aumentar as vendas do novo modelo da Renault nos EUA, o Dauphine.

Posteriormente, o Étoile Filante compareceu, um pouco por todo o mundo, em vários salões de automóveis. No início dos anos 60, com o fim da era dos automóveis movidos a turbinas de gás, isto impediu a Renault de fazer um segundo automóvel e o seu recorde foi esquecido. Segundo consta foram produzidos dois exemplares, um para testes e outro para o recorde. O primeiro protótipo tem uma cobertura em vidro, sendo que depois essa solução desaparece no segundo exemplar.

Do ponto de vista técnico é um projecto interessante, já que era possível estudar o andamento do automóvel em velocidades elevadas, assim como o efeito das barbatanas na traseira e dos travões, já que era impossível travar com o motor.

Nos anos 90, a Renault decidiu restaurar o carro, com a perspectiva de o por a rolar novamente. A Renault desmantelou-o por completo, na sua fábrica de Billancourt, em Paris, repintando o chassis e reparando o motor. Depois de restaurado, foi novamente posto a andar, pela primeira vez, desde 1956. Está actualmente guardado na Historical Cars Collection da Renault.

Tiago Nova / Jornal dos Clássicos

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