A rocambolesca história do lançamento do Jaguar E-Type

01/05/2021

O Jaguar E-Type foi dos modelos que assim que foi apresentado ao público marcou a história automóvel, até porque, no Salão Automóvel Internacional de Genebra em 1961, no momento em que foi revelado, Enzo Ferrari apelidou-o como “o automóvel mais bonito do mundo”, e até à actualidade, a grande maioria dos amantes de automóveis mantém este ponto de vista.

Comecemos por falar um pouco desta história. No início de Março de 1961, estes novos modelos da Jaguar, quase não chegaram a tempo da antecipada estreia devido a alguns acontecimentos que são, de certa forma, marcantes e que hoje em dia fazem parte da história desta grande marca.

A marca de Blackpool decidiu fazer uma antevisão do modelo coupé para algumas revistas de época, com prazos bastante curtos, no entanto, alguns jornalistas mais corajosos aproveitaram esta oportunidade para testar o veículo e até alcançar velocidades que na altura eram consideradas dignas de carros de corrida.

Por este motivo, enquanto os jornalistas colocavam à prova o E-Type, o gestor de relações públicas da Jaguar, Bob Berry, apercebeu-se que já tinha passado o prazo de ser transportado para o Salão de Genebra, tomando a decisão de ser ele mesmo a conduzir o automóvel, para apanhar o ferry que iria partir de Dover, no entanto a chuva e o nevoeiro perduraram até Reims, em França.

Atrasados para a apresentação, e na tentativa de recuperar o tempo perdido, Berry embarcou na mais louca viagem da sua vida. Quando chegou a Genebra faltavam apenas 20 minutos para a apresentação programada na marginal da cidade.

Quase não houve tempo para que o E-Type fosse limpo e preparado para que ser apresentado ao mundo. William Lyons, o Presidente da Jaguar na época, disse ao gestor, “Berry, pensei que não ias chegar.”

De acordo com Bob, esta foi a única viagem que fez sempre com o pedal do acelerador a fundo, história é também confirmada pela Jaguar. Berry confirmou ainda que esta tinha sido a viagem mais incrível de toda a sua vida e que, dificilmente, alguma vez a esqueceria.

Talvez a história mais emocionante fosse a de Norman Dewis, o piloto de testes da Jaguar, que estava ainda em Coventry com o E-Type descapotável. Lyons não tinha planeado revelar as duas variantes em Genebra, talvez por não estar à espera de uma reacção tão positiva ao modelo, mas a resposta ao coupé foi tão intensa que o fez mudar de ideias de forma quase imediata.

William Lyons ligou a Dewis e disse “larga tudo o que estás a fazer e traz o E-Type descapotável para aqui imediatamente.” Dewis assim fez, completou a mesma viagem que Berry tinha feito, apenas com uma ligeira diferença, Dewis demorou apenas metade do tempo.

Norman Dewis, que faleceu em Junho de 2019, reviveu esta história vividamente, pouco tempo antes da sua morte.

O piloto de testes relembrou que eram tempos em que não existiam auto-estradas ou itinerários principais, quer fosse em França ou em Inglaterra. “Eram maioritariamente estradas de duas faixas, pelo meio de pequenas cidades, durante todo o percurso, através de controlos alfandegários e postos fronteiriços, a minha média foi de 68 milhas por hora, cerca de 109 km/h, incluindo a travessia de ferry.”

Dewis completou dizendo que assim que Bob Berry o viu chegar, aproximou-se dele e disse “ainda bem que chegaste. Olha para o tamanho daquelas filas.”

De facto, a multidão encontrava-se em êxtase após ver estes automóveis. Tão em êxtase que durante esses dias foram encomendados cerca de 500 E-Type.

Quando os dois Jaguar voltaram a Inglaterra, tinham feito um total de 3400 milhas, cerca de 5471 km, um bom presságio para a marca que ainda se encontrava com os protótipos em pré-produção e que, obviamente, não se encontravam preparados para este tipo de uso intensivo.

Ambos os veículos ainda existem. O coupé, com a matrícula 9600 HP, está numa colecção privada, e o cabriolet, com a matrícula 77 RW, encontra-se na colecção da Jaguar, com perspectiva de ser exposto no Museu Britânico.

Se por algum motivo estes automóveis não tivessem chegado a Genebra há 60 anos atrás, teria sido uma situação embaraçosa para a marca e, certamente, iria ter um impacto enorme no entusiasmo destes novos clientes que a Jaguar veio a angariar. No fim de contas, o que interessa é que chegaram ao destino e que histórias como estas ajudaram a dar início à produção do E-Type, um modelo que continuou a ser produzido durante 13 anos.

Há alguns anos atrás, a Jaguar anunciou que ia produzir aquilo que hoje é designado como “Continuation Series”, dos seus mais famosos modelos, onde está incluído o E-Type.

No entanto, a marca decidiu que este ano o E-Type merecia a sua própria homenagem. Para comemorar os 60 da sua apresentação, a Jaguar colocou à venda doze exemplares do modelo E-Type, nas mesmas cores que os modelos demonstrados no Salão de Genebra. No entanto, os automóveis só poderão ser comprados como um par, ou seja, um coupé e um descapotável. Ainda não foram revelados valores mas, os preços base destas continuation series eram de 440 mil dólares cada, cerca de 366.280 euros.

Existe algo especial acerca destes E-Type 60 Collection. Estes exemplares são E-Type da primeira geração, não réplicas. Estão a ser reconstruídos totalmente e vão ser modernizados. As suas cores, Flat Out Grey e Drop Everything Green, vão ser réplicas exactas dos exemplares que foram mostrados no Salão de Genebra, isto de forma a homenagear os dois protótipos iniciais. Além disso, a Jaguar fez a promessa de que nunca mais nenhum Jaguar irá ser produzido nestes tons.

Os atrasos para o Salão Internacional de Genebra proporcionaram a oportunidade de adicionar algo ainda mais especial aos Jaguar E-Type. Será preciso esperar mais um ano para que possam terminar todos os veículos, e inclusivamente, a marca anunciou que alguns já estão concluídos e até mesmo vendidos. Chegando 2022, todos irão ser conduzidos de Coventry até Genebra para o grande evento, através das mesmas estradas que os protótipos percorreram para chegar ao destino, mas desta vez, obedecendo a todos os limites de velocidade.