APM, o automóvel português salvo da sucata

08/01/2018

Nem só dos nomes mais conhecidos como FAP, DM, Alba ou Marlei, entre outros, viveu a construção de automóveis em Portugal. Entre aqueles que não passaram ao conhecimento do grande público está o APM, uma automóvel curioso que recentemente voltou à vida, depois de um minuncioso restauro.

O APM nasceu numa pequena oficina no Porto pelas mãos de Libório Machado que batizou o carro com o nome do seu sócio, António Pereira Machado.

A construção, essencialmente em chapa e alumínio, data de 1937 (mesmo ano do automóvel português Edfor) e foi feita à moda antiga (à mão), tendo demorado cerca de um ano e meio. O APM foi baseado no chassis de um Balilla e restante material de um Fiat 1100 da época.

A única aparição ao grande público foi no rali “A Mundial”, um Porto-Lisboa da Companhia de Seguros Mundial.

No decorrer dos tempos o APM teve mais três donos até ir parar a um sucateiro. Com um “namoro” de anos com um aglomerado de “trapos” nessa mesma sucata, e entre a renitência de vender e a persistência de um sonho, Luís António Simões inicia a saga do restauro.

O seu primeiro passo foi descobrir se tinham dado baixa do carro; depois seguiram-se os trâmites normais para a legalização (na época se a pessoa era conhecida bastava o nome).

Naquele tempo, segundo o livrete, o automóvel nasceu em 1937, teve três donos até que foi parar à sucata. Mais tarde viria a ser recuperado por Libório Machado com o propósito de aplicar a carroçaria especial no chassis do Fiat Balilla, devidamente trabalhado, recebendo um motor de um Fiat 1100 “Crista de Galo”.

Entre muitos outros “truques”, a direcção levou um calço para ficar mais inclinada rebaixando a posição do volante e a suspensão traseira é de uma “carrinha” Fiat 1100, de braços independentes.

Um dos grandes entraves iniciais para a restauração do APM foi a sua documentação, ou melhor dizendo a falta dela, começando pelo seu historial, entre a indisponibilidade da DGV do Porto em dar acesso aos planos de construção e restante informação dada na altura da sua legalização, por fim a documentação que a Fiat disponibilizou, foi muita mas nada do que era pretendido; o outro grande entrave foi o material, devido ao avançado estado de degradação e escassez de peças da época. Na incessante procura de material, Luís António Simões deparou-se com alguma dificuldade de quem atendia mas felizmente em alguns casos embora raros, encontrou uma enorme ajuda.

Após uma árdua pesquisa descobriu que na construção foram utilizadas peças de diversas marcas, como por exemplo as manetes interiores de fecho de porta eram do Austin A40, os farolins traseiros assim como o fecho da mala pertenciam a um Studebaker.

Tendo já as bases de alguma documentação e material, Luís António Simões iniciou a restauro que lhe ocuparia os seus fins-de-semana e as suas férias durante sete longos anos. Com um orçamento reduzido, muita perseverança e com as ferramentas que o seu pai Crispim Simões lhe deixou, começou por desempanar o chassis usando as “técnicas do antigamente”.

Seguiram-se várias fases na reconstrução, entre elas uma das mais morosas foi certamente a da carroçaria, que se encontrava em muito mau estado, num alumínio “velho e cansado”. Com muita paciência e usando uma “dica” de um velho amigo, máquina de soldar, muita “batidela” e o “estica aqui e encolhe ali”, a carroçaria voltou às suas origens.

Concluídas as fases mais “pesadas” inclusive a montagem do sistema eléctrico, este à base da experimentação e tendo apenas como suporte um esquema eléctrico de um Fiat 1100 da época.

Sucederam-se os pormenores que iriam dar tanto ou mais “pano para mangas”, entre eles há que realçar o conjunto do tablier, os manómetros quase irrecuperáveis e a grande surpresa que se encontrava por debaixo do suposto tablier metálico, um espantoso tablier em madeira! Outro conjunto de pormenores que iriam ocupar imenso tempo fora os interiores e o tampão da gasolina, com base nas memórias do construtor e uma velha foto. Mas não só. O pára-brisas, estofos e o pequeno retrovisor, entre outros foram todos reconstruídos à “moda antiga”.

Pelo meio de todo o processo foram feitos vários moldes e pequenas ferramentas, afim de auxiliar na reconstrução, como por exemplo os moldes para os travões e o molde em acrílico para os farolins, “não vá o diabo tecê-las”…

Como remate final, o Branco e o Vermelho “Marlboro” deram cor ao APM, este processo foi feito igualmente na sua pequena oficina, desta vez transformada momentaneamente numa “estufa”, aonde travou uma dura “batalha” com os mosquitos que persistiam em aterrar na tinta fresca. Ao fim de muitas “lixadelas” e algumas demãos na pintura, o “One Man Show” deu os seus frutos…

Ao fim de sete anos, de dedicação, trabalho e muitos obstáculos ultrapassados, pese embora ainda não tenha conseguido ter acesso a toda a informação que consta na DGV do Porto, o sonho de Luís António Simões em ver o APM no seu velho esplendor ficou concluído.

Veja abaixo imagens do APM antes, durante e depois do seu restauro.

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