BMW M1 Twin-Turbo: O modelo que emergiu na obscuridade dos anos 80

22/01/2019

Esta história começa com o jornalista automóvel austríaco Harald Ertl, que também era piloto de automóveis e conhecido também por ser um dos mais afáveis. Nasceu numa aldeia ao lado de um lago, em Zell am See, poucos anos após o fim da Segunda Guerra Mundial e aos 21 anos comprou um monolugar e logo de seguida iniciou-se a vencer corridas da Formula V austríaca.

Estávamos em 1969 e pelos anos 70, ele competiu nas mais variadas provas de fórmulas e automóveis de turismo, tendo feito a sua estreia no European Touring Car Championship em 1971 com um Alfa Romeo GTAm, preparado pela Autodelta. Dois anos mais tarde, Ertl ganhou o RAC Tourist Trophy, partilhando do BMW CSL da Alpina com Derek Bell, batendo nomes famosos do automobilismo, como Jochen Mass, Toine Hezemans e Hans-Joachim Stuck.

Em 1974, Ertl começa a competir na Fórmula 2 e em 1975 convence a cervejeira Warsteiner a patrocinar a entrada em três provas com um Hesketh 308B, um automóvel de Fórmula 1 idêntico ao conduzido por James Hunt, começando assim oficialmente a sua carreira nessa disciplina. Embora, sem grande sucesso, o facto de estar alinhado num Grande Prémio de Fórmula 1 era digno de nota. Mais ainda, foi Ertl que retirou Nikki Lauda quando o seu Ferrari 312T2 estava em chamas no circuito de Nurburgring. Logo de seguida voltou aos automóveis de turismo, onde encontrou grande sucesso, de novo aos comandos de um BMW. Após ter conduzido um Toyota Celica Turbo, na temporada de 1978 do Deutsche Rennsport Meisterschaft (DRM) ele voltou para a BMW, agora atrás do volante de um 320i Turbo de Grupo 5, preparado pela Schnitzer Motorsport, ganhando cinco corridas e tornando-se o primeiro não-alemão a vencer esta disciplina.

Uns anos mais tarde, a Schnitzer Motorsport construiria um novo BMW para Grupo 5, desta vez com base no BMW M1, incorporando dois turbos para a potência rondar os 800 e 1000 cv. A March Engineering também desenvolveu alguns BMW M1 para competirem no IMSA GTX e até a própria BMW desenvolveu um campeonato mono-marca com os M1 Procar. Apesar das várias competições onde entrou, a carreira desportiva do BMW M1 parece esquecida e, de facto, nunca teve muito sucesso. Mas, um certo BMW M1 bateu um recorde mundial, algo que poucos se recordam.

A carreira desportiva de Harald Ertl também não estava a conhecer o mesmo sucesso que tinha nos anos 70. Falhou todas as tentativas de qualificação para Grandes Prémios, e não estava a ter muita sorte com o seu Ford Capri Turbo no DRM. Por isso decidiu enveredar por um caminho diferente e tentar bater um recorde. Com a ajuda de um amigo, Gerhard Freudenberg, começaram a trabalhar num BMW M1 e pensaram sempre em implementar tecnologias que pudessem, mais tarde, ser adaptadas aos automóveis de estrada e na competição.

Entraram em contacto com a BP para os ajudar e a empresa viu aqui uma oportunidade de promover o seu novo combustível de Gás de Petróleo Liquefeito (GPL), conhecido por Autogas. No entanto, para o M1 poder funcionar com este combustível teria de receber muitas alterações e, para provar as capacidades do Autogas, Ertl teria de ter por base um M1 de estrada, alterando o motor M88 de seis cilindros em linha para aceitar o GPL e passar dos 300 km/h, tornando-se assim no automóvel movido a GPL mais rápido do mundo. Outras empresas também se juntaram para promover os seus produtos, como a Sachs que forneceu uma suspensão personalizada, a Ronal forneceu as jantes muito leves, a Goodyear os pneus, a Matter o rollbar e a Blaupunkt forneceu speakers para serem instalados no interior.

Este M1 foi preparado numa oficina alemã, a Gustav Hoecker Sportwagen-Service GmbH e recebeu um par de turbos KKK K26, que com outras alterações, elevou a potência para os 410 cv. A carroçaria foi desenvolvida por Walter Rolf, o mesmo que ajudou na construção da carroçaria mais larga do Lamborghini Countach. Ao todo foram construídos três M1 para bater este recorde. Um deles foi completamente destruído, outro com tudo idêntico ao M1 do recorde, mas sem os turbos, que foi vendido pela Mirbach a um coleccionador privado e o terceiro automóvel, que é o que mostramos aqui, foi o que bateu o recorde a 17 de Outubro de 1981 e era o único com o motor Twin-Turbo. Na pista de testes da Volkswagen, em Ehra-Lessien, Ertl bateu o recorde, com uma velocidade de 301,4 km/h, um ano após o início da concepção do projecto, no entanto, não existem documentos que validem este recorde. Infelizmente, a 7 de Abril de 1982, Ertl faleceu num acidente de avião, com 33 anos, quando viajava com a sua família para as férias da Páscoa, a sua mulher e o filho sobreviveram ao acidente.

A história deste BMW M1 começa em 1980, entregue na cidade de Berlim, com uma cor azul brilhante. Um ano mais tarde Harald compra o automóvel para o transformar de modo a bater o recorde. Após a sua morte, este M1 vai para um stand da Alpina em Ruhr e em 1984 passa para outro concessionário da Alpina, na Holanda, propriedade de Piet Oldenhof. Nesta altura, há vários relatos do automóvel utilizar um esquema de cores prata e azul, por isso seria complicado vender um automóvel nessa combinação de cores, sendo então pintado de violeta, cor que ainda mantém hoje, nas instalações de Piet Oldenhof e daí ter os logótipos “PO”. Durante anos a tentar vender o automóvel sem sucesso, em 1988 aparece um problema grave no motor. Recebeu então um motor M88 original, mas as peças originais foram guardadas e, em 1989 é vendido em leilão.

No início dos anos 90 foi para um stand em Londres e por volta dessa altura Pummy Bhatia abriu uma farmácia e uma clínica, na mesma zona, fazendo com que passasse por este M1 muitas vezes. Pummy tinha adquirido um DeLorean DMC-12, pois era um fã do filme “Regresso ao Futuro”. Em 1993 acaba por adquirir o M1 e regista-o para circular na estrada. Mas como não tinha espaço na garagem, este automóvel “dormia” na rua. Pritham Bhatia tinha apenas três anos, quando o seu pai comprou este automóvel e uns anos mais tarde viu o seu pai falecer, em 1995. Mas, como Pummy Bhatia só teve dois anos com ele, nunca descobriu a verdadeira história por detrás deste M1 e após a sua morte, continuou parado na rua.

Um amigo viu o automóvel parado e ofereceu-se para o levar para o Midland Motor Museum. Este museu já não existe, devido a problemas jurídicos relacionados com o seu administrador, pois ele vendia os automóveis do museu, sem autorização dos proprietários. Mas Bhatia teve sorte, pois o M1 foi dos poucos que não foram vendidos, mas estava num estado muito degradado. Quando voltou para a posse dos proprietários, que agora já tinham espaço na garagem para o M1, ele ficou guardado durante anos, até que começaram a pesquisar a história do automóvel e que nos leva até hoje. Pritham Bhatia prevê restaurar este BMW M1 e devolver-lhe de novo toda a velha glória que teve.

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