BMW Série 3 Touring E30: O anti-conformismo discreto

29/11/2022

Em meados dos anos 80, a versão carrinha de uma berlina de quatro portas era escolhida, sobretudo, pelos artesãos, pelos ciclistas amadores, ou ainda, pelas famílias que queriam ir de férias sem prescindir das bicicletas dos petizes, das cadeiras de praia, do cão, do periquito, etc. Práticos, espaçosos e robustos, mas com o sex-appeal de um roupeiro. Nenhum golden boy teria o mau gosto de ir para o clube de golf ou para a discoteca da moda num Peugeot 505 Break!

Nessa altura, um engenheiro da BMW, chamado Max Reisböck, pai de família e condutor de Série 3, precisava de um veículo mais adaptado às exigências familiares. Nem uma, nem duas: alterou o pilar C de um E30 comprado em segunda mão, acrescentou-lhe uma secção traseira e colocou-lhe uma quinta porta (de VW Passat). Ao fim de seis meses de trabalho, Max Reisböck já podia utilizar a sua carrinha Série 3 para ir trabalhar, mas por pouco tempo. De facto, os responsáveis da marca ficaram tão entusiasmados com a criação de Reisböck, que a guardaram nas instalações, aproveitando-a para o projecto de Série 3 “carrinha”.

O resultado final foi apresentado no Salão de Frankfurt de 1987, e se alguns ficaram perturbados com uma versão “carrinha” do Série 3, outros ficaram seduzidos com o conceito. Desde já, porque o design da secção traseira, simples e elegante, não prejudicava o equilíbrio das linhas da versão quatro portas, preservando ainda o Hofmeister Kink característico da marca. Depois, no que toca à comunicação, a marca propunha um Touring e não um Break ou uma Station Wagon, valorizando a estética e associando esta nova versão, a um lifestyle cool. Na verdade, teria sido difícil valorizar as suas capacidades de carga, tendo em conta as dimensões da bagageira, cujo volume era inferior à versão de quatro portas, 370 litros contra 425 litros, e o acesso bastante condicionado pelas ópticas traseiras.

O Série 3 Touring surgiu tardiamente na gama E30, lançada em 1982. Mas graças à sua estética atraente, aos seus motores – 316i, 318i, 320i e 325i e 324 td -, e ao seu comportamento dinâmico, não faltavam argumentos ao Touring para conquistar uma clientela discretamente anti-conformista. Foi ainda o primeiro BMW a beneficiar da transmissão integral, sendo o 325 ix Touring, uma das versões mais apetecíveis.

Com cerca de 100 mil exemplares, não se pode dizer que o Série 3 E30 Touring tenha sido um grande sucesso comercial, mas também não foi nenhum fracasso. É hoje um automóvel relativamente raro, o que para os coleccionadores, só desperta interesse. Mas se não for suficientemente raro, pode sempre optar pela versão Alpina (B3 2.7) ou por uma E30 Luchjenbroers, de duas portas, mais artesanal – com porta da mala de Golf I -, e anterior à versão Touring “oficial”. Boa sorte!

Em todo o caso, o BMW Série 3 E30 Touring, foi um pioneiro que mudou mentalidades e abriu o caminho para as carrinhas premium que chegaram mais tarde, como o Audi 80 Avant ou Alfa Romeo 156 Sportwagon. E já agora, um automóvel ideal para ir jogar golfe.