Ainda que discorde parcialmente desta premissa, pois cada vez é mais notória a evolução da moda no sentido de também neste domínio as opções à disposição do universo masculino se irem equiparando às do universo feminino, há um binómio infalível que sempre evoluiu em conjunto, e estou certo apelará à maioria dos homens – são eles os automóveis e os relógios.
Poderá haver estudos de mercado a indicar o contrário, mas como este é um espaço onde os estudos de mercado são feitos por mim, posso-vos assegurar que no meu grupo mais próximo de amigos, ainda que a aposta num bom par de sapatos em pele possa parecer uma futilidade, e possuir um cinto de qualidade mero capricho; de forma transversal todos eles gostam de automóveis e na sua grande maioria, todos são fãs de relógios…
Já eu, fã confesso de todos estes produtos, aqui vos confesso envergonhadamente, que o único elemento que me falta à colecção é efectivamente um relógio. Por incrível que isto vos possa parecer, nunca fui proprietário de um, sim, nem sequer de um TIMEX digital que a maioria de nós em um qualquer momento da vida envergou orgulhosamente no recreio, e que invariavelmente acabou destruído por uma queda a meio da “futebolada” no intervalo da escola.
Nunca tive um relógio, mas não resisto ao apelo estético deste objecto de culto. Sei que acabarei eventualmente por adquirir um e tenho para mim que gostaria de investir numa peça de incontestável qualidade para que a possa passar à minha descendência – também esta ainda por surgir – o tempo o dirá.Não sei se é pelo passar dos anos, mas sinto que adquirir um bom relógio representa como que um “rito de passagem”, neste caso, de jovem adulto para homem feito.
Este pensamento que amiúde me surge, pode ser efeito da publicidade, mais uma vez do efeito “Hollywood” na percepção que temos do mundo, mas certo é que, dois dos maiores exemplos de masculinidade, bravura e competência saídos do grande ecrã, são também eles parte desta “fauna” dos relógios e dos automóveis – Paul Newman e Steve McQueen.
A ligação é tão forte e tão apelativa ao universo masculino que, o modelo Daytona da Rolex atingiu em 2017, 17.8 milhões de dólares em leilão. Este leilão levado a cabo pela conceituada leiloeira Phillips, transformou o relógio de Paul Newman no mais caro relógio de todos os tempos vendido em leilão.
O facto de ser um relógio que Paul Newman usou no seu próprio pulso por “anos a fio”, e o acompanhou em milhares de fotos e ocasiões um pouco por todo o mundo, em muito terá contribuído para o valor alcançado.
Mas há mais, ainda hoje a imagem de Steve McQueen é usada pela TAG Heuer, facto impressionante, tendo em conta que o actor faleceu há quase quarenta anos!
O rol é interminável, ainda recentemente ouvia uma entrevista com o antigo campeão do mundo de Fórmula 1 Mario Andretti. Ao longo da entrevista explicava que a sua ligação à alta-relojoaria foi-se construindo através das vitórias que ia alcançando – bastas vezes eram oferecidos relógios aos pilotos que ganhavam determinada corrida, ou que conseguiam a volta mais rápida em determinado circuito.
Estas duas indústrias, pois, rapidamente perceberam o impacto que em conjunto causam no universo masculino, e desde então juntas têm evoluído nesta associação que se quer subliminar, porém inseparável.
Não só com homens de carne e osso se foi construindo essa associação, as próprias marcas automóvel foram criando divisões internas focadas nestas duas indústrias que se entretecem, como é o caso da Porsche ou da Ferrari, que assim aumentam o seu pecúlio através da venda de modelos de marca própria, ou associando-se, por outro lado a marcas de prestígio daquela indústria na produção de modelos específicos.
Exemplo real do que aqui refiro são os modelos de prestígio produzidos pela Porsche Design ou a parceria entre a Ferrari e a Hublot em séries limitadas que fazem a ponte entre estes dois universos.
Dizem que os os homens em fase adulta mais não são, que jovens com vícios mais caros, e estas duas indústrias cedo perceberam qual o caminho a percorrer para manter esses caprichos bem vivos e estimular a criança que há dentro de cada um de nós.