Citroën 5 HP: Super Pop Limão

04/08/2017

Apresentado ao público em 1921, o Citroën 5 HP foi a solução que André Citroën encontrou para tornar o progresso motorizado acessível a todos.

A cor amarela dos primeiros 5 HP valeu-lhes a simpática alcunha de Petite Citron, ou pequeno limão.
Depois da II Guerra Mundial, o genial empresário André Citroën, decidiu concentrar os seus esforços na produção de automóveis, após ter produzido um sem número de componentes industriais – como as famosas engrenagens de dentes triangulares, que estaria na origem do símbolo da sua marca – e materiais militares. Para este último fim, mais concretamente, o fabrico de obuses, construiu o complexo fabril do cais de Javel, que se tornaria o centro da sua actividade automóvel.

O primeiro automóvel Citroën foi o tipo A 10 HP, de 1919 e, para além das suas qualidades intrínsecas, foi rodeado de manobras de promoção nunca antes vistas. O seu preço era também bastante mais reduzido do que o dos concorrentes e, a rede de concessionários era, desde o início, absolutamente incrível: em cada vila lá estava o respectivo concessionário que, em vez de se limitar a esperar pelos clientes, ia procurá-los, fazendo prospecção de mercado antes sequer da expressão ter sido inventada.

Em 1921, o pequeno 5 HP – ou C2, designação recuperada este ano pela marca – apareceu para alargar o número de potenciais clientes Citroën. A marca francesa tornava-se a pioneira dos sistemas de produção criados por Henry Ford, no outro lado do Atlântico.

O seu motor convencional, de quatro cilindros e 856 cc, debitava apenas 11 cavalos de potência, mostrando-se contudo flexível e permitindo desafiar qualquer subida, por mais íngreme que esta se apresentasse. E mesmo a velocidade máxima – pouco mais de 60 km/h – era respeitável, embora dependesse também da coragem do condutor ou condutora.

A elegância do pequeno automóvel, o requinte das suas linhas com traseira de barco, a cor amarelo-limão, com guarda-lamas e rodas Michelin pretos – surpreenderam o público, habituado a que os automóveis populares fossem rústicos e feios.

O pneu de reserva montado de lado também ajudava a emprestar um certo requinte aos primeiros 5 HP, embora o mesmo não pudesse ser dito da única portinhola de acesso ao interior, mas o espaço também não dava para mais…

Já a capota, era muito simples de pôr e tirar, demorando a duas pessoas três minutos para qualquer das operações
A principal novidade era o arranque eléctrico do motor, uma solução só comum nos automóveis de luxo.

Em 1923 apareceu uma versão mais refinada, designada Cabriolet, com melhor protecção contra a chuva e, no ano seguinte, surgiu o Trèfle (também chamado C3). Este tinha a particularidade de dispor de um chassis ligeiramente mais longo e um lugar suplementar central, atrás dos bancos dianteiros, embora a sua carroçaria fosse semelhante à versão Torpedo de dois lugares.

Até 1926 tanto o C3 como o C2 na versão Cabriolet continuaram a produzir-se, atingindo os 80 000 exemplares.

Depois da II Guerra Mundial, quando o boom económico dos anos cinquenta permitiu a alguns entusiastas começaram a interessar-se por automóveis antigos, o 5 HP encabeçou a lista como um dos mais interessantes e cobiçados automóveis franceses. Em Portugal existem vários exemplares, muitos deles em estado de circulação.

Um Automóvel Para Senhoras

O 5 HP apareceu no momento em que o movimento de emancipação das mulheres se tornava mais forte. André Citroën apelava desta forma às garçonnes, que manifestavam o seu desejo de independência ao volante.

Uma das exigências do caderno de encargos do pequeno Citroën era que fosse tão fácil de conduzir que pudesse permitir a uma senhora efectuar todas as tarefas necessárias ao seu uso quotidiano.

Um dos principais obstáculos era o arranque do motor, que nos automóveis populares era por manivela, operação desagradável e potencialmente ruinosa para a cuidada toilette de qualquer mademoiselle. A utilização de um arranque eléctrico, que só os automóveis mais luxuosos tinham, foi a solução. É claro que havia ainda algumas operações menos agradáveis, como ter de abrir o capot para encher o carburador de gasolina, (que, como a alimentação era por gravidade «caía» directamente do depósito, situado abaixo do pára-brisas), mas não seria difícil encontrar um cavalheiro disponível para dar uma “mãozinha”. Afinal, nos anos vinte ainda existiam em grande número.

Depois era só pressionar, com elegante firmeza, o botão do démarreur, para que o motor pegasse. A bateria de seis volts cumpria a sua função sem grande esforço. Mas, para que durasse, o melhor era poupá-la, sempre que na presença do namorado ou marido, obrigando-os a utilizar a manivela.

À parte a caixa de três velocidades – sem sincronização – a condução do Petite Citron era bastante simples, com o pedal do acelerador ao meio e um volante bastante mais pequeno do que o habitual na época. E nem os instrumentos da tablier perturbavam a condução: o único presente era o dinamómetro.

Bastante anunciado nas revistas femininas da época – uma novidade – o 5 HP encontrou várias proprietárias dinâmicas, que não deixaram o progresso passar ao lado.

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