Ferrari 500 Mondial: História sobre rodas

22/09/2017

Após o sucesso dos monolugares Ferrari com motores de quatro cilindros e dois litros nos Campeonatos do Mundo de Fórmula 1 de 1952 e 1953 – então apenas um campeonato de pilotos – era inevitável que esta solução fosse também adoptada pelos automóveis de Sport da marca de Maranello.

Até então, a Ferrari apostara exclusivamente nos operáticos V12, capazes de um desempenho em altos regimes que os motores mais simples e com menos cilindros não conseguiam acompanhar. Todavia, nos traçados mais sinuosos, em que as transições entre as travagens e as acelerações eram mais frequentes, era possível fazer melhor.

Aurelio Lampredi desenvolveu um motor de quatro cilindros, com um binário máximo a rotações mais baixas. Esta opção resultava numa entrega mais “redonda”, no sentido de funcionar com maior progressividade em regimes diferentes de trabalho. Este motor foi estreado em 1951, o último ano dos Alfa Romeo Alfetta. Após a saída da marca de Arese da F1, no final dessa temporada, as regras mudaram, estabelecendo-se uma cilindrada máxima de dois litros. Com o novo motor do seu 500 F2, a Ferrari tinha a solução perfeita para que Alberto Ascari se tornasse o primeiro bicampeão mundial de Fórmula 1.

Em 1954, a Ferrari lançou o 500 Mondial, sendo o seu nome uma forma de assinalar os títulos mundiais conseguidos por Ascari. Cada cilindro do novo automóvel de competição tinha cerca de 500 centímetros cúbicos, o que justificava a primeira parte da sua designação.

Com belas carroçarias tipo “Barchetta”, os 500 Mondial proporcionaram aos seus pilotos, na sua maioria de equipas privadas, um automóvel competitivo, sobretudo na categoria Sport até 2.000 cc.

Este exemplar em particular, com carroçaria Scaglietti, foi vendido ao piloto francês Yves Dupont. Por questões fiscais, Dupont pediu à Ferrari que este ficasse com o número de chassis de um exemplar anterior. Inicialmente previsto como o chassis 0564 MD, foi “marcado” como 0424 MD pela fábrica.

Foi entregue pintado no azul França, a cor nacional gaulesa definida pela Association Internationale des Automobiles Club Reconnus, no início do século XX.

Já com o seu novo Ferrari, Dupont participou nas 12 Horas de Hyères, em equipa com Birac, mas teve problemas de motor. Após uma reparação na fábrica, Dupont participou no rali “Liège-Roma-Liège”, mais uma vez, dividindo a condução com Birac.

Após este evento, o 500 Mondial regressou à fábrica, mas nunca foi levantado por Dupont, provavelmente por não ter pago a sua reparação. O automóvel ficou na Ferrari, ficando nas suas instalações até 1965, quando passou a estar em exposição no Museu do Autódromo de Monza. Nesta altura, foi pintado superficialmente de vermelho, mas não recebeu qualquer outra intervenção.

Em Dezembro de 1975, o Ferrari foi finalmente vendido e regressa a França, para a colecção de Jean-François Dumontant, que o utilizou em vários eventos do Clube Ferrari de França. Dumontant ficou com o Ferrari durante 23 anos, vendendo-o em 1998 a Daniel Sielecki. Em 2000, participou nas Mil Milhas. Em 2001 foi adquirido pelo holandês Victor Müller, que o apresentou no Concurso de Elegância de Pebble Beach nesse ano.

Oliver Maierhofer, de sseldorf, foi o proprietário seguinte. Levaria o Ferrari quatro vezes às Mille Miglia Storica.

Em 2007, nova mudança de propriedade, para Michael Willms, que o passaria rapidamente para Pierre Mellinger. Sabendo que se tratava de um exemplar muito original, Mellinger contratou um especialista italiano para retirar a tinta vermelha da carroçaria. Por baixo da pintura simples efectuada pela fábrica, encontrava-se o azul original. Este processo demorou três meses. Para preservar e proteger a pintura azul, o Mondial recebeu uma camada de tinta transparente. Mellinger não o manteve fechado na garagem e participou, em 2009 e 2010, nas Mille Miglia Storica.

Em 2012, o Mondial foi adquirido por um coleccionador residente no Reino Unido e, no ano seguinte, apareceu no Salon Privé Concours d’Elegance.

No final de 2015 foi adquirido por um coleccionador português, que o mantém na sua colecção.

Este e outros modelos icónicos da Ferrari podem agora ser vistos na exposição temporária “Ferrari: 70 anos de paixão motorizada”, patente no Museu do Caramulo.

Ficha técnica

Ano 1955
Potência 170 CV
Motor 4 Cilindros em Linha
Cilindrada 1.985 cc
Caixa 5 Velocidades
Peso 720 Kg
Velocidade máxima 236 Km/h
N.º Motor 0424 MD
N.º Chassis 0424 MD (0564 MD)

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