Fiat 8V Supersonic, uma ode às linhas do passado

10/06/2019

Para gáudio de qualquer entusiasta de linhas automotivas extravagantes, a admiração a um 8V Supersonic terá por certo um sentimento quase natalício. De estrutura esbelta, esguio e de posse ilustre, transmite toda a sensação de estarmos perante algo magnânimo, e pela história de fabrico, interpretação do design e princípios de engenharia aplicados, é seguro afirmar que sim.

Com apresentação no Salão de Genebra de 1952, o Fiat 8V (também conhecido como Otto Vu em Itália) foi alvo de um processo de desenvolvimento no mínimo curioso. A começar pela sua designação, que evidentemente nos remete para a aplicação de um motor V8 de 2 litros, mas cujo referência directa foi proibida, uma vez que a Ford detinha os direitos para associação do termo “V8” a um qualquer modelo, dando-se então aso a uma solução à Italiana. O motor em causa era o Tipo 104 V8 de fabrico interno na Fiat, mas com uma arquitectura invulgar de 1996 centímetros cúbicos a 70 graus e acoplamento a uma caixa de quatro velocidades, à qual não se estimaram custos quando foi altura de desenvolvimento.

A envolvência da Siata, departamento interno há altura responsável por competição e personalização da Fiat, provou ser decisiva para o sucesso do projecto, aplicando o seu conhecimento no desenvolvimento de um chassis de comportamento extremamente desenvolvido para a época, na preparação de suspensões independentes de quatro molas para a dianteira e traseira do 8V, e na aplicação de travões de tambor nas quatro rodas.

Para o design, a Fiat apresentou a plataforma à Zagato, Balbo, Pinin Farina, Vignale, e Ghia, tendo os desenhos divergido de preparador para preparador, mas sendo o deste último o mais memorável (e raro, com apenas 15 unidades construídas), dando-lhe a forma imortalizada que hoje conhecemos e a designação Supersonic. O projectista encarregue foi Giovanni Savonuzzi, contratado posteriormente pela Chrysler para desenhar o Turbine, envolvido com Carlo Abarth no desenvolvimento do Cisitalia 202, e responsável pelo Ghia Gilda e pelo Ferrari 410 Superamerica Ghia, cujo desenho do Supersonic teria inicialmente sido proposto à Alfa Romeo para um novo automóvel de competição.

Seja qual for o ângulo pelo qual se admire o 8V, é praticamente certo o enamoro. Com o para-brisas de ângulo elevado e estrutura curvilínea, capot de formato oval, e faróis elegantemente inseridos, o Supersonic tem tanto de belo como de memorável, o que, combinado com o factor exclusividade, justifica os valores elevados que estes modelos têm alcançado.

A reacção do público presente no Salão de Genebra de 1952 ao desenho de Ghia foi de tal forma positiva, que a Fiat procurou agir no fabrico de mais exemplares com a maior brevidade possível, tendo prontamente vendido as 15 unidades do Supersonic que conseguiu ter prontas até ao final do ano. A participação de uma destas 15 unidades na Mille Miglia de 1953 auxiliou também no aumento de popularidade do novo coupé da Fiat.

Inúmeros foram os automóveis da história da Fiat que mereceriam um destaque nas linhas que escrevo, mas, pessoalmente, nenhum com maior capacidade de captura de foco visual do que o 8V Supersonic. Pelo seu espalhafato de linhas e perfil deslumbrante representa um sonho recente, mas que certamente se tornará antigo, pois aquelas paixões automóveis de primeiro olhado são sempre inesquecíveis.

José Brito / Jornal dos Clássicos