Antes de avançar no texto, tem de se definir enquanto amante de todo o terreno. Existem vários tipos… os tecnológicos, cujos automóveis tem um computador que gere as tracções, aderências e afins. Os que têm uma super máquina, toda ela com milhares de cavalos pronta a subir qualquer parede, esteja ela montada num chassi novo ou de um clássico. E os que gostam mesmo é do desafio mecânico, sem ajuda electrónica, só o homem e a máquina. Neste domínio existem uma serie de 4×4 como o UMM BJ40, o Samurai, o Land Rover com os seus icónicos modelos. Antes que se oiça já um comentário que este é que é porque…, deixem-me dizer que, são todos muito bons no que toca a proporcionar emoções em tempos onde a “electrónica” passava apenas pela caixa de fusíveis.
Então, se é do último tipo, homem e máquina puramente mecânica, este Lada Niva pode ser um bom início de incursões fora de estrada. Se é dos outros tipos… num qualquer passeio pode ser sempre surpreendido por um destes clássicos.
Se este texto já o está a transportar para a descoberta do país fora de estrada, então seguem algumas características técnicas deste pequeno tracção integral permanente. A sua construção de origem russa, faz por si só lembrar algo robusto e à prova de tudo, e é mais ou menos assim. Um automóvel simples, inicialmente com motor 1.6 de 76 CV, tinha como objectivo ser barato, manutenção mínima e “aguentar” o rigor climatérico russo e as alterações que este causava na paisagem. O seu processo de desenho não foi fácil, pois inicialmente, em 1970/71 desenhou-se um modelo com capota amovível, inspirado no Jeep da altura, mas o seu desenho demasiado rectilíneo fez cair esse projecto por terra. Tal retrocesso obrigou um regresso aos desenhos e em 1974 a versão que agora nos é familiar iniciou os testes por vários locais, tendo sido apresentado em 1976.
Assemelhando-se a um automóvel ligeiro, com uma curtíssima distância entre eixos e o seu sistema de tracção integral permanente, atribui-lhe um poder de inclinação de 58%. Se mora perto da Serra da Estrela este dado é importante: atribuíam-lhe uma capacidade de andar na neve tendo esta uma altura de mais ou menos três metros. Este motor apresentava uma caixa de quatro velocidades, sendo o consumo de gasolina algo proibitivo. Perante isto e os avanços da concorrência, o Lada Niva foi equipado com o motor Peugeot XUD – Diesel 1900 cc entre os anos de 1993-1998, que para quem conhece, em todo o terreno, pode ser um pouco limitativo.
De realçar em todos os modelos o sistema de suspensão totalmente inovador para um 4×4, mais tarde adoptado pelos restantes fabricantes, que contava com um sistema de suspensão independente com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora. A sua grande vantagem está sem dúvida no seu sistema de tracção integral permanente, no seu bloqueio de diferencial a nível central que lhe confere um poder de tracção incrível quando o piso é lamacento, para além de que não necessita de sair do automóvel para mudar o que quer que seja. Como se pode ver, à altura, e aos dias de hoje, um 4×4 espectacularmente evoluído.
Dados técnicos à parte, pois eu acredito que na compra de um clássico a paixão a tolda sempre a nossa parte racional. Um 4×4 muito divertido de conduzir com o qual, e a baixas velocidades, conseguimos vencer muitos dos obstáculos que os outros precisam de acelerar com os dois pés para o fazer. A sua condução assemelha-se em muito à de um automóvel ligeiro, ágil, confortável e muito fácil de manobrar, lembrando que o 4×4 não é preciso ir aos saltos no banco. É o que hoje na gíria moderna do mundo automóvel se chama um SUV, mas este dá um “bigode” quando fora de estrada… não é só para o estilo e para subir passeios, é mesmo para o mato.
Pode colocar a família e seguir, que a esposa não vai reclamar pois irá ser transportada para os tempos de namoro onde tudo era aventura, e os miúdos… bom, o barulho do motor não vai ser ajuda, pois pode dizer-se que é silencioso nas versões a gasolina, mas assim que se puserem aos altos e baixos no monte vão adorar. E quando olha para este clássico, antes de cair na tentação de lhe começar a colocar coisas e mais coisas para o tornar mais bonito e vencer cada vez mais e mais obstáculos, lembre-se que “quem feio ama bonito lhe parece”, e que neste caso, umas rodas maiores, podem dar cabo dos eixos e esforçar o motor mais do que seria desejável. Um snorkel pode ser uma dor de cabeça junto das autoridades e quando o tirar terá te tapar o buraco. Uns super faróis que pode levar a um chumbo na inspecção. Mas pense que este automóvel foi desenhado para andar no Inverno russo. Isto diz tudo.
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