Lendas da competição: O Lotus 47

15/10/2017

A história da Lotus começou no início da década de 50 e ao fim de pouco mais de 15 anos Colin Chapman já tinha produzido mais de 35 modelos diferentes de automóveis, entre viaturas de sport, GT e fórmulas.

Se no início da sua aventura Chapman recorria a motores Ford e Austin rapidamente o génio Inglês se virou para os potentes Coventry Climax para propulsores dos seus automóveis e a verdade é que os Lotus rapidamente se tornaram competitivos nas mais diversas disciplinas, incluindo a Fórmula 1.

Ao contrário de outros construtores, como por exemplo Enzo Ferrari, Chapman queria que a Lotus fosse uma empresa produtora de automóveis para o comércio em geral e o seu primeiro passo foi a criação do Elite, ainda em finais dos anos 50. Seguiu-se o Elan, que no início da década de 60 foi um sucesso de vendas. No entanto a Lotus queria ter um automóvel com motor central e que ao mesmo tempo fosse competitivo em termos de preço final para o cliente. É assim que nasce o Europa (sempre um E como primeira letra do modelo…), que tem a designação de Lotus Type 46.

Por forma a manter os custos de produção reduzidos o Europa tinha o motor de um Renault R16, algo melhorado, e que debitava 80 cavalos. A sua carroçaria foi pensada de forma a ter uma aerodinâmica apurada e não deixava de dar alguns ares a um Ford GT 40 à escala reduzida. As linhas da sua carroçaria em fibra de vidro não deixaram ninguém indiferente quando foi apresentado oficialmente em finais de 1966.

Ao Type 46 esteve sempre anexo o projecto 47. Tratava-se da versão de competição do Europa e uma semana depois da apresentação do modelo de estrada a Lotus estreava em Brands Hatch o Lotus 47GT. Os pilotos escolhidos foram Jackie Oliver, posteriormente patrão da Arrows na Fórmula 1 e ainda hoje participante em corridas de clássicos, e John Miles.

O motor Renault foi substituído por um potente Lotus Ford Cosworth Twin Cam de 1,6 litros, que debitaria perto dos 165 cavalos de potência. Era o motor já utilizado no Elan e também no Cortina Lotus. A caixa de velocidades do Renault 16 deu lugar uma bela peça de engenharia, uma Hewland FT200 com diferencial autoblocante. A suspensão traseira do Europa estava longe de ser uma referência e no 47 foi adoptada uma solução inspirada no Lotus 59 de Fórmula 2, um monolugar da casa. Já na suspensão da frente, que o Europa foi herdar ao Triumph Vitesse, as alterações eram de menor importância, passando basicamente por mudanças ao nível dos amortecedores e molas, para além de um olhar atento aos pontos de ancoragem.

O Lotus 47 teria como missão lutar nas pistas contra os Ferrari, AC Cobra, Jaguar E e outros automóveis de GT bem mais potentes. John Miles era um piloto talentoso e conseguia extrair do 47 todo o seu potencial e no ano de 1967 passeou-se por diversas pistas Europeias e obteve quase uma dezena de vitórias. Uma dessas provas era para ser o Circuito de Vila Real, onde Miles já tinha estado e vencido em 1966, então ao volante de um Lotus Elan. Em 1967 o Britânico não compareceu na prova Transmontana mas em 1968 veio a Vila Real com um Lotus 47 do Gold Leaf Team Lotus e vence entre os automóveis com menos de dois litros de cilindrada com um automóvel de apenas 1600 centímetros cúbicos. Na geral fica em quinto lugar, apenas batido por um Lola T70, um Ferrari 330 P4 e dois Ford GT 40. O ano de 1967 foi também mais um passeio Europeu para Miles e o 47, vencendo a classe em diversas provas Europeias em circuitos tao significativos como Brands Hatch ou Silverstone.

Em Portugal o Lotus 47 foi também muito bem sucedido em termos de competição. Graças à representação da Palma & Morgado, vieram para Portugal alguns Lotus 47 novos e nomes como Luís Fernandes, José Bernardino Lampreia, Ernesto Neves que disputaram várias provas com o referido modelo.

Estima-se que tenham sido produzidos mais de 70 Lotus 47GT, apesar de não haver certezas absolutas quanto ao número certo.