Lister Jaguar: Olá, ilustre desconhecido

07/07/2018

Foi mesmo uma agradável surpresa, encontrar, no cockpit de um elegante Fórmula 1 dos anos 50, um esbelto volante (que saudades do tempo em que os volantes ainda pareciam volantes e não confusos joysticks) onde bem no centro reinava um belo e fascinante emblema da Jaguar.

O monolugar além de elegante era belo sob qualquer ângulo de observação, com aquele tom prata anodizado bem polido – a enganar quem esperava encontrar um lógico “British Racing Green” que identificaria o seu pais de origem – e apenas alguns autocolantes de ocasião, como a foto revela, e ali estava o único exemplar do Lister Jaguar, um Jaguar Fórmula 1 do tempo dos gloriosos Jaguar D.

Necessário portanto voltar aos tempos daquelas que devem ter sido umas corridas bem loucas – Monzanapolis, tendo este monolugar sido encomendado de propósito para a edição de 1958 pela Ecurie Ecosse, a mesma responsável por tantos êxitos da marca Jaguar.

Tudo começou com a ideia de aproveitar a reabertura de oval de Monza, após a reconstrução, de fazer competir em conjunto americanos e europeus em pistas ovais… Monza versus Indianápolis. Uma ideia bem interessante e que permitia ver competindo em conjunto carros da USAC contra F1 modificados, carros de desporto monolugares construídos para o efeito e com carros de sport como o titularíssimo Jaguar D.

A primeira edição teve lugar em 1957, tendo-se verificado uma grande supremacia americana, por disporem de carros mais potentes, melhor adaptados e pilotos mais experientes neste tipo de pistas. Poucas foram as fábricas/escuderias europeias que responderam presente, e apenas alinharam com modelos adaptados para os regulamentos da prova. Mesmo assim, do lado europeu puderam ver-se três Jaguar D da Ecurie Ecosse, um Ferrari F1 privado, e oficialmente a Maserati com dois carros para jean Behra – um sport e um F1 modificado.

Embora a experiencia de 1957 tivesse sido muito mas o ano de 1958 trouxe um bem maior envolvimento das fábricas europeias, tendo até sido apresentados dois monopostos desenhados de raiz.

A Maserati apresentou um modelo 420M/58 conduzido por Stirling Moss e a Ecurie Ecosse decidiu concorrer com um formula também desenhado de raiz para o evento. O chassis foi encomendado à Lister e nele colocado um motor Jaguar tendo a condução sido entregue a Jack Fairman. Assim nasceu o belo Lister Jaguar que ali estava no paddock de Portimão, e que na prova italiana teve ainda a companhia de dois Jaguar D. De referir que desta vez também a Ferrari se apresentou oficialmente, com uma equipa de estrelas – Mike Hawthorn, Phil Hill, Luigi Musso e Harry Schell – que repartiam a condução de três modelos diferentes (dois sob as cores Ferrari e um sob a cores do NART).

Esta edição de 1958 contou ainda com a participação de Juan Manuel Fangio que, bem entendido, representava o campo americano.

A estreia do Lister Jaguar pouco teve de auspiciosa – 17º tempo nos treinos, num total de 19 carros, e uma diferença de cerca de 35 km/h de média na volta mais rápida.

A prova era corrida em três mãos, tendo o Lister Jaguar sido 11º na primeira mão e 10º na segunda, o que lhe deu o 11º lugar na classificação final com um atraso de 75 voltas.

Embora os Europeus através do Ferrari conduzido por Mike Hawthorn, Phil Hill e Luigi Musso tivessem terminado em 3º a 9 voltas do vencedor, o resultado deficitário da organização, e o desinteresse do lado europeu ditaram a sua extinção.

Assim, foi a efémera carreira deste ilustre desconhecido, mas tal não o impede de, ainda hoje, se apresentar como um concorrente extremamente belo e elegante nas provas de clássicos, e de nos deixar a sonhar o que poderia ter sido a sua carreira não se tivesse verificado a extinção tão precoce do Monzanapolis.

António Vieira Pita/Jornal dos Clássicos

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