O Mustang Bullitt que Steve McQueen não conseguiu comprar

15/04/2018

Steve McQueen fez um último esforço para comprar o seu Mustang favorito em 1977. O actor norte-americano enviou uma carta, redigida num único pedaço de pergaminho branco-sujo, para o proprietário do automóvel em Nova Jérsia. O logótipo da sua produtora de filmes, Solar Productions, estava em relevo na parte superior esquerda e no canto do lado oposto encontrava-se a data de 14 de Dezembro de 1977.

“Mais uma vez”, começava a missiva, “gostaria de apelar para recuperar o meu Mustang de 1968.” Steve McQueen não elucidava o porquê desse Ford em especial ser importante para si. Expressava apenas que queria mantê-lo não restaurado e que os seus motivos eram meramente pessoais.

Numa tarde fria e cinzenta de Dezembro de 2015, Casey Wallace e Sean Kiernan encontravam-se a terminar um conjunto de telefonemas comerciais e preparavam-se para efectuar uma viagem de duas horas de regresso a Nashville. Os dois trabalhavam como vendedores de pintura automóvel para a LKQ.

Casey, 44 anos, manager regional, é um vendedor nato, muito falador e competente em fazer os outros fazerem o mesmo. A dado momento resolveu perguntar a Sean, um enorme entusiasta de automóveis, que veículos possuía. O gerente local, de 36 anos, pôs-se a especificar as viaturas antigas que estavam em sua casa.

“De que cor é o Mustang?”, indagou, a certa altura, Casey, quando um GT 390 de 1968 foi mencionado.

“Verde”, informou Sean.

“Isso soa-me a Bullitt Mustang”, comentou, de modo casual, Casey.

“Eu tenho o Bullitt Mustang de Steve McQueen”, confidenciou Sean.

Perante a revelação, Casey pede a Sean para deixar o amigo realizador Ken Horstmann entrar no segredo.

Sean disse a Casey para ligar a Horstmann.

Bob Kiernan, pai de Sean, reformou-se em 2001. Com mais tempo livre, Bob criou um plano com o filho no sentido de fazer o Bullitt de Sean voltar à estrada (à data da concepção deste desígnio, o veículo gozava de pouca saúde). Não muito tempo volvido, Bob seria diagnosticado com a doença de Parkinson. A enfermidade roubar-lhe-ia a vida em 2014.

No dia seguinte ao relato do segredo por parte de Sean, Horstmann foi almoçar com aquele e com Casey. O realizador mostrou-lhes, então, uma cópia do guião, tendo o mesmo colhido aprovação.

Horstmann estimou que necessitariam de cerca de 15 milhões de dólares para o filme. Entre os três amigos havia energia, talento e um automóvel secreto que qualquer um adoraria ver. Contudo, aquilo que a tríade não possuía era o referido montante.

Uma exibição privada do automóvel seria uma boa maneira de atrair investidores. Durante os primeiros cinco meses de 2016, Sean conseguiu pôr o Bullitt pronto para funcionar. Em Maio, Sean levou-o até ao estúdio de Horstmann, em Atlanta. Sendo precisa uma terceira parte para apurar a genuinidade do veículo, ligaram a Kevin Marti, que assinou um acordo de confidencialidade e voou em direcção à capital do estado da Geórgia.

Marti é um daqueles nomes interessantes na comunidade de automóveis clássicos. Com 1700 dólares resultantes de economias, adquiriu, em 1971, um Mercury Cougar e engraçou, desde então, com a Ford. Trata-se de alguém que descobre o equipamento original de qualquer viatura da marca de Detroit. É, também, um especialista em detectar falsas etiquetas de identificação do número do chassis. Após minuciosa verificação, Marti confirmou a autenticidade do VIN do Bullitt de Sean.

Em seguida, o trio começou a procurar formas de alcançar quem tinha meios e interesse no projecto. Organizaram exibições, conseguiram algum financiamento e prepararam-se para o peixe graúdo que esperavam cativar no SEMA de Las Vegas, nomeadamente a Ford Motor Company.

O timing não poderia ter sido melhor. A Ford estava prestes a lançar a terceira geração da edição limitada do Mustang Bullitt no Salão Automóvel de Detroit 2018.

Sean não tem planos para vender, mas reconhece que a viatura vale dinheiro multi-geracional. Enquanto isso, espera que o projecto do filme avance. Quer construir as réplicas do Bullitt para a película e tenciona leiloar os automóveis da fita para a “The Michael J. Fox Foundation for Parkinson’s Research”, uma causa que o pai apoiava.

Jorge Sá

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