O improvável Porsche 911 que salvou a vida a Niki Lauda

04/06/2019

O Grande Prémio da Alemanha de 1976 ficou marcado como um dia negro na história do automobilismo, mas graças a vários pilotos e à rápida resposta dos meios a vida de Niki Lauda foi salva. O acidente horrível, mesmo antes da curva Bergwerk, deixou o piloto austríaco da Ferrari no meio das chamas, fincando em coma. Este acidente marcou o fim das competições de Fórmula 1 no circuito de Nürburgring Nordschleife.

O Nürburgring Nordschleife apresentava medidas de segurança que não se viam noutros circuitos, isto porque uma volta significava percorrer mais de 20 km. Todos os circuitos têm acessos interiores para os automóveis de emergência poderem andar para ocorrer mais depressa ao local. Em Nordschleife isso não acontecia, porque além do circuito ser muito grande, está rodeado de floresta, daí o nome “Green Hell” ou em bom português “Inferno Verde”, dado por Jackie Stewart. Por esses motivos, além dos perigos do próprio circuito, quando as coisas corriam mal, poderia levar imenso tempo a chegar ajuda, tempo esse que era precioso.

É então que entra Herbert Linge, um antigo piloto de fábrica da Porsche, que admite a necessidade de uma rápida resposta em caso de acidente. Mesmo apesar de Linge ser duma época em que no automobilismo as fatalidades eram normais, ele queria reestabelecer a confiança dos pilotos, numa altura onde a potência evoluía mais que a segurança. Herbert Linge começou como aprendiz de mecânico na fábrica da Porsche em Weissach e rapidamente se transformou num piloto com sucesso no seio da Porsche, sendo durante um curto espaço de tempo responsável da área de desenvolvimento da fábrica. Competiu em muitas provas em Nürburgring, mas também na Mille Miglia e, sentiu na primeira pessoa os perigos inerentes ao desporto motorizado, algo que muitas vezes os responsáveis não tinham conhecimento.

Em 1972 Linge funda a ONS-Staffel, uma equipa de emergência rápida. O primeiro automóvel de resposta rápida era um Porsche 914, onde na traseira tinha o mecanismo de extinção do fogo e na frente as ferramentas de desencarceramento. Além do 914, Linge transforma também um Porsche 911, para combater incêndios, aproveitando o facto de ter motor traseiro, na secção frontal foram montados os mecanismos de combate a fogos. Mais automóveis juntaram-se ao 914 e ao 911 e Linge cria duas categorias de automóveis, os R-Wagen e os S-Wagen. O R-Wagen são os primeiros a responder ao acidente e, são maioritariamente modelos da Porsche com mecanismos de combate a fogos além de equipamento médico. Melhor ainda, estes automóveis seriam conduzidos por antigos pilotos profissionais e no lugar do passageiro ia um médico ou um bombeiro. Os S-Wagen eram grandes berlinas, carrinhas ou coupés, com equipamentos similares e estavam distribuídos por várias zonas do circuito, com o objectivo de chegar ao local em 30 segundos.

Além de se ter tornado numa lenda da segurança, Herbert Linge também entrou na produção do filme Le Mans de Steve McQueen. No filme, Linge era um dos maiores rivais de McQueen e este dá-lhe instruções para não levantar o pé, pois queria que a cena da ultrapassagem parecesse o mais real possível. Mas passado umas semanas a tentar fazer a cena, McQueen diz a Linge para levantar o pé, para ele o conseguir passar. Apesar do seu sucesso como piloto da Porsche não ter atingido níveis de renome e de não se ter tornado numa estrela de Hollywood, o facto é que o seu contributo na segurança foi muito importante.

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