O Lancia 037 que entrou no campeonato japonês de GT em 1994

14/01/2021

O Lancia 037 foi um automóvel construído com um único propósito, competir no Campeonato do Mundo de Ralis, na categoria de Grupo B. Com a ajuda da Abarth no seu desenvolvimento, com o código SE037, o projecto iniciou-se em 1980, mal as regulamentações entraram no activo, de modo a substituir o Lancia Stratos que competiu no Grupo 4. Para além da Abarth, também a Dallara e a Pininfarina, participaram no projecto.

Os regulamentos do Grupo B obrigavam à construção de 200 exemplares idênticos para estrada, antes do automóvel poder ser homologado. A primeira temporada, de 1982, teve muitas desistências, mas ainda assim houve alguns bons resultados, como a vitória no Pace Rally no Reino Unido. Em 1983 já foi muito melhor, com a Lancia a conseguir o título de construtores. Para 1984, a Lancia introduziu na competição o 037 Evolution 2, mas este não estava à altura dos rivais de quatro rodas motrizes, tanto nesse ano, como em 1985. A última vitória seria no Tour de Corse de 1984, a única vitória do 037 E2, antes deste ser substituído pelo Delta S4.

O 037 teve por base o Lancia Montecarlo, apesar de pouco partilhar com este, à excepção das linhas da carroçaria e a secção central. O chassis é tubular na frente e traseira e é revestido por uma carroçaria construída em Kevlar. A suspensão é de triângulos sobrepostos com dois amortecedores nas quatro rodas.

O motor de quatro cilindros passou de transversal no Montecarlo, para longitudinal no 037. O motor era de 2,0 litros de cilindrada, duas árvores de cames na cabeça e 16 válvulas, baseado no utilizado no Fiat 131 Abarth, mas aqui equipado com um compressor volumétrico e com um carburador Weber maior, sendo substituído por injecção nos últimos modelos. Inicialmente, o motor debitava 265cv, passando para os 280cv e acabando nos 325cv no 037 E2, aqui com a cilindrada aumentada para os 2,1 litros. A potência é enviada para as rodas traseiras através de uma caixa de cinco velocidades da ZF, numa configuração transaxle.

Mas como é que uma máquina desenvolvida para os ralis aparece no JGTC, o campeonato de GT’s do Japão, dez anos após a sua construção? O 037 nunca foi pensado para o uso em pistas, mas com o fim do Grupo B, vários foram os automóveis utilizados nas mais diversas provas, onde estes automóveis eram elegíveis, como o Rallycross. Oito anos após o fim do Grupo B, a equipa Rosso Competition Racing alinha com um Lancia 037 ex-oficial, na terceira prova do JGTC, conduzido por Naohiro Furuya.

Esta terceira prova do JGTC, designada Fuji Special Cup, ocorreu no emblemático circuito Fuji Speedway, uma pista muito rápida, com grandes rectas, das quais o 037 não conseguiria tirar partido, devido à sua caixa de velocidades de relações curtas. Com apenas 325cv, a potência também não estava a par com a dos rivais, como o Ferrari F40. Além disso, o motor não foi desenvolvido para andar constantemente em altas rotações e poucas eram as oportunidades para ele arrefecer convenientemente. Outro inconveniente era o 037 ter sido desenhado para acomodar umas jantes de 16” da Speedline, e não as maiores utilizadas na prova. Logo, tudo isto misturado e entrando na categoria GT1, estava-se a prever um final pouco digno para o icónico automóvel.

No entanto, Furuya conseguiu terminar a prova num nono lugar da classe e 12º da geral, ficando à frente de dois automóveis da sua classe nas 49 voltas, ainda que estes tiveram problemas mecânicos, terminando ainda a sete voltas atrás do Porsche 962, vencedor.

Após esta prova, a Rosso Competition previa utilizar também o 037 nos 1000 Km de Suzuka, mas tal veio a não acontecer, devido a problemas de fiabilidade, falhando as duas qualificações. Ou seja, no final de contas, esta foi a única aparição do 037 no JGTC, actual Super GT, algo único e que merece ser recordado.

Nós portugueses também podemos ver um Lancia 037 a competir nas pistas, pelas mãos de António Rodrigues, apesar de partilhar também os ralis e as rampas, com a icónica decoração do Calçado Fundador.