O Porsche 911 Turbo RS de Herbert von Karajan

24/11/2022

Rigor, excelência, prestígio e belas sinfonias. Estes são alguns dos pontos em comum entre Herbert von Karajan e a Porsche. Talvez por isso, o maestro tenha sido um tão bom cliente da marca de Estugarda, ao ponto de merecer um modelo particularmente exclusivo: o Porsche 911 Turbo RS.

De facto, depois de um 550 A Spyder – chassis 550-0131 que participara nas 24 Horas de Le Mans 1957 com Hans Herrmann -, substituído por um 718 RSK Spyder, e claro, depois de vários 356 e 911 – além de um Mercedes-Benz 300 SL, Ferrari 275 GTB/4 ou Lancia Stratos, infidelidades facilmente perdoáveis -, o maestro austríaco encomendou, em 1974, um exemplar do novíssimo Porsche 911 Turbo (930). Mas pelos vistos, os 260 cavalos do flat 6 3.0 pareciam-lhe insuficientes para mover convenientemente os 1140 kg do 930, tendo pedido algumas modificações para a sua nova máquina.

Assim, o caderno de encargos definido por Karajan previa um peso mais contido, um motor mais potente e assim obter uma relação peso-potência inferior a 4 kg/cavalos. Para satisfazer os desejos de tão ilustre cliente, os engenheiros da Porsche, sob a batuta de Ernst Fuhrmann, partiram do chassis do 911 RSR. O habitáculo ficou sem os bancos traseiros – facilitando assim a instalação do roll-bar -, sem ar condicionado e sem rádio – para quê instalar um vulgar leitor de cassetes quando se pode desfrutar do som do flat 6, agora com 360 cavalos? Até o fecho das portas foi alterado para ganhar peso! As alterações também foram estéticas, com o 930 a beneficiar da carroçaria do 911 Carrera RS 3.0. E para finalizar, foi ainda pedida uma autorização especial à Rossi para a colocação dos stickers Martini Racing, inspirados no 911 RSR Turbo 2.1 que terminara em 2º lugar nas 24 Horas de Le Mans de 1974.

O resultado final passou a designar-se “Porsche 911 Turbo RS” e pareceu estar à altura das expectativas do exigente maestro, ao ponto de ser digno de aparecer na capa do disco “Famous ouvertures”. Não sabemos se era mais fácil dirigir uma orquestra filarmónica ou esta máquina, mais pensada para o “vivace” do que para o “adagio”, mas o certo é que cinco anos e 3.000 km depois, este 911 Turbo RS acabou por ser vendido e revendido até chegar às mãos, e ao pé direito, do coleccionador actual, na Suíça.

Mas mesmo depois de vender o seu tão exclusivo 911 Turbo RS, Herbert von Karajan continuou a apreciar as obras primas da Porsche, tendo adquirido vários 911 e, sobretudo, dois 959. Não tiveram sempre o mesmo grau de personalização mas pouco importa: a sinfonia do flat 6 é sempre um Hino à Alegria!