O reencontro com o Volkswagen Käfer 1200

13/11/2019

Após lançar o desafio, o Jornal dos Clássicos partilha agora primeira história enviada pelos seus leitores. Falamos de um reencontro ao final de quase duas décadas de incessante procura, partilhada por António Araújo, e que transcrevemos em baixo.

Estamos em 1972, na zona oriental da cidade do Porto. O meu pai – só ele tinha licença de condução – tem 37 anos, a minha mãe 34, a minha irmã quase dez e eu apenas três.

Já grande parte da vizinhança tinha automóvel, e aproximando-se a comunhão solene da minha irmã, o meu pai lá se decidiu. Um Volkswagen Käfer 1200 usado, com sete anos, de 1965. Uma máquina. Não tinha a velocidade de um Toyota Corolla ou um Ford Escort, mas tinha uma carroçaria bem mais resistente. Não era o “pápa-léguas” como o eram o Ford Capri ou o BMW 1602, mas era o “coyote” que por eles passava quando paravam na berma a expelir vapor do radiador.

Eu cresci, casei, e o meu pai manteve sempre o mesmo automóvel durante quase três décadas completas.

Saltamos agora para o ano de 1999. Num fim-de-semana em que os visitei, não estava à porta o Carocha mas sim um horrível Ford Fiesta 1100 de 1993. Falei com o meu pai e ele disse-me que teve quem lhe oferecesse 150 contos pelo Volkswagen e assim comprou o Ford. Fiquei muito aborrecido, sentia que aquele automóvel fazia parte de mim, afinal foi o automóvel da minha infância! Alguns dos meus primos, aquando da sua primeira vez a andar de automóvel, que se lembrem, tinha sido nele!

Fui tentando todos estes anos pesquisar e encontrá-lo na compra e venda na Internet, em sites dedicados aos clássicos em geral e aos refrigerados a ar em particular e nada!

Mais uma viagem no tempo e vamos localizar-nos agora no ano passado, em 2018. Eu já tinha perdido a esperança, quando quase sem querer, entro no fórum dos “Amigos dos Carochas de Cascais”. Vou vendo fotografias e de repente vejo uma matrícula que quase me fez saltar os olhos das órbitas: FE-44-54! O Carocha ainda era “vivo”!

Sem demora contactei o administrador do fórum, contando todo este passado com o automóvel, para ver se, compadecido com o facto de andar à procura do automóvel há quase duas décadas, me facultava mais alguma informação sobre o actual proprietário do mesmo. Um senhor muito simpático e muito prestável para os meus intentos. Facultou-me o nome e a morada (Perosinho, Vila Nova de Gaia) do dono.

Achei extraordinário uma pessoa da zona de Lisboa informar-me que o automóvel estava aqui bem perto de mim. Decidi, assim, começar a rondar aquela morada, e arranjar maneira de meter conversa com o dono e chegar ao ponto de lhe fazer uma oferta. Mas passada uma semana ainda não tinha começado a fazê-lo, o administrador do fórum dos “Amigos dos Carochas de Cascais” envia-me um outro e-mail dizendo: “Já viu isto? (e um link para aceder)”. Cliquei no link e este direccionou-me para o OLX, o dono estava a vendê-lo!

Tal como Marlon Brando, nasci num dia 3 de Abril, portanto o resto da história é fácil de adivinhar e resume-se a uma famosa frase deste actor: “Fiz-lhe uma oferta que ele não pôde recusar”.

As fotografias datam de 1973 e 2019, a minha irmã fora do automóvel, a minha mãe no lugar do condutor e eu visível pela janela traseira lateral. A foto de 2019 foi a tentativa de recriar a outra, tirada 46 anos antes.

Se tem uma história com um automóvel que teve, no qual viveu uma aventura, que restaurou ou com o qual simplesmente criou uma relação, ainda que à distância, queremos conhecê-la e partilhá-la com todos os leitores do Jornal dos Clássicos. Saiba como fazê-lo aqui.